O atual contexto de pandemia obriga as instituições a estarem preparadas para a eventualidade de terem de passar das aulas presenciais para o ensino à distância ou para um modelo misto. Perante este cenário, perguntámos a Alice Trindade, diretora do Instituto de Estudos Pós-Graduados do ISCSP-ULisboa, se os cursos para executivos na sua escola serão em "blended learning" em 2020/2021. A responsável responde que "não", explicando que "as pós-graduações decorrem em regime presencial, mas com a estrutura preparada para passagem, caso necessário, por indicações da Direção-Geral da Saúde, ao ensino à distância". Seja como for, o regime de "blended learning" comporta aspetos já existentes, como o apoio à distância aos participantes em cada módulo.
Sobre a preparação da universidade para este modelo híbrido, Alice Trindade reforça que a estrutura está a preparar-se, mas recorda que esse é um processo profundo e para o qual não existem ainda instruções ministeriais. "Existe uma universidade em Portugal cuja natureza é essa, mas todas as outras utilizam recursos digitais, mas não foram pensadas para esse efeito. A questão é se o querem fazer de forma permanente, após uma resposta circunstancial por motivos externos à universidade e aos quais respondemos por reação."
A diretora do Instituto de Estudos Pós-Graduados do ISCSP-ULisboa refere que esse debate ainda está a ser feito e terá de levar em consideração mais fatores, além das facilidades tecnológicas disponíveis. "Queremos ter estudantes isolados em suas casas, sem acompanhamento de pares a não ser virtual? Vamos perder a riqueza de iniciativas como o Programa Erasmus que agora franqueia a porta de qualquer universidade europeia ao estudante que é admitido em qualquer outra? Queremos universidades sem atividades complementares e extracurriculares, como visitas de estudo, atividades associativas, de desporto e cultura universitárias? Queremos transformar o ensino universitário em ‘produto’ único, apenas destinado a oferecer um pacote de um curso, que se pode adquirir em qualquer parte do mundo, usando modelos culturalmente adaptados à sociedade que os produz?", questiona Alice Trindade.
Olhar para as oportunidades
Ferrão Filipe, vice-reitor da Universidade Portucalense (UPT), diz que se está a refletir em novos formatos e modelos em termos da oferta futura, como o "sistema de ‘blended learning’, podendo rapidamente oferecer em paralelo à oferta já existente minicursos e outras formatações, numa alargada área de competências que se colocarão como essenciais aos executivos para lidar e otimizar as situações e os desafios decorrentes da atual situação". Tal vai alavancar a janela de oportunidade em que a atual crise se transformou, "quer ao nível interno na gestão das equipas e colaboradores quer ao nível externo no relacionamento com os clientes e consumidores", assegura.
O responsável acrescenta que numa ação de grande empenho e esforço das estruturas da Universidade e em especial dos seus docentes, a UPT pode continuar a trabalhar com os seus formandos no sistema de "blended learning". "Otimizando o sistema e os contactos em tempo real e proporcionando oportunidades de aprendizagem, partilha, experimentação e desenvolvimento de trabalho autónomo, aprofundando e estimulando o desenvolvimento de outras competências pessoais, muitas vezes desvalorizadas, mas que no futuro imediato serão chave para lidar com as situações com que os executivos se vão confrontar. Temos pois, hoje, uma equipa de excelência, que já deu provas de uma grande capacidade de trabalho e construção neste modelo."
Cursos online
Quanto a Hugo Miguel Dias, PwC’s Academy partner, esclarece que pelo menos até ao final do ano a sua expectativa é de que todos os cursos decorram no formato online com formador, alguns complementados com módulos de e-learning, apesar de já ter sido dada também formação presencial. "Esta situação veio mostrar que é possível atingir excelentes resultados também no formato online e por isso, felizmente, os projetos estão a ser retomados, de modo a dar resposta às necessidades existentes e continuar a aposta no desenvolvimento das pessoas."