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O ensino superior compensa

Investir em educação traz consigo benefícios significativos, incluindo salários mais altos e maiores oportunidades de emprego.

12 de Julho de 2023 às 12:17
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O ensino superior está cada vez mais massificado, em particular nos seus níveis de certificação inicial (curso técnico superior profissional e licenciatura), sendo encarado pela maioria dos estudantes como a continuidade natural do ensino secundário. Sinal desta crescente democratização é "a ambição da União Europeia em ter, até 2030, pelo menos 45% da sua população adulta do grupo etário dos 25-34 anos com diploma de ensino superior", destaca Fernando Serra, vice-presidente para a Área da Organização e Avaliação da Oferta Educativa do ISCSP.

 

Ao contrário do que se possa pensar, "ter mais cidadãos com mais educação não reduz as oportunidades no mercado de trabalho, mas aumenta-as", garante o responsável do ISCSP, prosseguindo: "Os estudos nesta matéria são claros quanto ao impacto positivo da educação chamada terciária no desenvolvimento de economias mais dinâmicas, mais produtivas, com maior potencial para gerar riqueza. Ou seja, quanto mais as sociedades incorporam conhecimento de nível complexo (I&D) nas suas empresas, organizações e instituições, maior capacidade têm de produzir bem-estar junto das suas populações. E pessoas com maiores níveis de bem-estar produzem mais, consomem mais, participam mais, são mais críticos quanto às suas escolhas e investem mais na educação dos seus filhos."

 

Passaporte para o mercado do trabalho

A passagem do ensino secundário para o superior marca o momento em que os estudantes escolhem uma determinada "área de especialização". Embora seja importante que procurem alinhar os seus talentos, interesses e competências com as oportunidades do mercado de forma a terem uma vantagem competitiva, é essencial realçar que "hoje, ao contrário de outros tempos, o ensino universitário não vincula a escolha de uma profissão. É sim uma formação inicial em determinada área que visa essencialmente desenvolver o pensamento crítico e abrir horizontes", afirma João Duque, presidente do ISEG. Isto porque "nunca como hoje houve um número tão grande de profissões, serviços e atividades".

 

"O mercado de trabalho é muito diversificado e oferece oportunidades para profissionais com diferentes níveis de formação e capacidades", corrobora Alexandre Silva, presidente do ISCAC. "O que pode diferenciar – para além do saber-fazer – é o saber estar, as soft skills, a disponibilidade, a atualização, o networking, o empreendedorismo e iniciativa", conclui.

 

Também do ponto de vista de quem recruta, o "mercado está cada vez mais dinâmico e aberto à integração de diferentes profissionais nas mais diversas áreas de especialização. Os próprios cursos foram evoluindo no sentido de dotarem cada vez mais os estudantes de um leque de competências diversificado, o que lhes permite ter mais opções para iniciar as suas carreiras no futuro". Palavras de Miguel D’Almeida, lead operations manager da empresa de recrutamento Kelly Services, segundo o qual, para quadros médios e superiores, "são muito poucas" as posições que trabalhamos que "não tenham como requisito mínimo uma licenciatura". Por este motivo, considera o ensino superior fundamental, "sobretudo para os estudantes que ambicionem trabalhar em áreas muito específicas ou tecnicamente exigentes como as Engenharias, Economia, Finanças, Recursos Humanos, Tecnologias de Informação, entre outras, nas quais cada vez mais se verifica uma escassez de talento em Portugal".

 

Ensino superior = melhores salários: verdade ou mito?

O "Guia para pais e filhos: como escolher a área de estudos no secundário?", da Fundação José Neves, assinala que os alunos que prosseguem e completam o ensino superior têm vantagens salariais e maior facilidade em encontrar emprego comparativamente com quem opta por não prosseguir os estudos: em média, os salários são 42% mais elevados e a taxa de empregabilidade é superior em 10%.

 

De forma aparentemente paradoxal, o relatório "Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal" da mesma Fundação chama a atenção para o facto de os salários dos jovens com ensino superior ter vindo a cair face aos dos jovens com ensino secundário, tendo atingido os mínimos históricos em 2022.

 

São dados que nos remetem para a incessante questão: afinal, estudar ainda compensa? Vivemos numa economia assente no conhecimento, cada vez mais digitalizada, em que as qualificações são a chave para abrir a porta de um trabalho mais digno. Segundo o documento, a "recuperação do emprego pós-pandemia foi total entre os jovens com o ensino superior, mas entre os menos qualificados a taxa de desemprego em 2022 foi de 18%, significativamente superior à de 2019, ano em que foi de 13%". O mercado de trabalho em geral recuperou os níveis de emprego e tornou-se mais qualificado e digital. No final das contas, a resposta à pergunta é afirmativa: "Mesmo com esta alteração, ter educação superior garante salários substancialmente mais elevados", confirma o documento. O ensino superior compensa.

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