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Ensino superior: “O mais eficaz, e democrático, elevador social”

Para António Sousa Pereira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), urge “fazer com que os jovens percecionem as vantagens de terem um curso superior.”

12 de Julho de 2023 às 12:19
António Sousa Pereira, presidente do CRUP e reitor da Universidade do Porto.
António Sousa Pereira, presidente do CRUP e reitor da Universidade do Porto.
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Criado em 1994 com o objetivo de promover a cooperação e o diálogo entre as instituições de ensino superior em Portugal, o CRUP é uma associação de reitores das universidades portuguesas. Ontem como hoje, é parceiro de referência na governação do ensino superior, empenhado em contribuir para a adoção de políticas públicas que valorizem a educação, a ciência e a cultura. Entrevistámos António Sousa Pereira, presidente do CRUP e reitor da Universidade do Porto.

 

Quais as principais mudanças no ensino superior em Portugal nos últimos anos?

Passaram pela sua democratização. O país deve continuar a alargar a base social de recrutamento para que haja uma maior percentagem de portugueses a frequentar o ensino superior. Sabemos que as instituições vão enfrentar um "inverno demográfico" nos próximos anos, mas é importante garantir que o número de estudantes a ingressar no ensino superior se mantenha constante para que, percentualmente, a taxa aumente.

 

E o principal desafio que enfrenta?

O principal desafio está fora das universidades: é preciso fazer com que os jovens percecionem as vantagens de terem um curso superior. Não creio que hoje existam políticas públicas concertadas para valorizar convenientemente quem tem uma formação superior, o que produz um efeito destrutivo para o país. O ensino superior deve ser percecionado como o mais eficaz, e democrático, elevador social.

 

Atualmente, o ensino superior é visto pela maioria dos estudantes como uma continuidade do ensino secundário. Há mercado para todos?

Mercado para todos há sempre, mas as universidades não devem funcionar em função do mercado. O foco das instituições de ensino superior deve estar no desenvolvimento das pessoas e na sua permanente atualização em termos de competências. Isto sim: depende da interação com os empregadores.

 

Para a geração que ingressa no mercado de trabalho, as competências técnicas e os graus académicos são suficientes?

Sim, as competências são suficientes, mas num horizonte temporal muito curto. O mundo está em constante evolução. Pensar que com uma licenciatura ou mestrado estamos capacitados para toda a vida é um erro. É por isso que apelamos à formação ao longo da vida. As pessoas devem voltar à universidade para se requalificarem ou adquirirem novas competências, estando permanentemente atualizadas.

 

Ter quadros qualificados confere às empresas uma vantagem competitiva?

As empresas só têm a ganhar com a presença de jovens com formação superior pela diferenciação nas competências técnico-científicas que possuem e que os distinguem no sentido de se tornarem uma mais-valia para as empresas.

"Não creio que hoje existam políticas públicas concertadas para valorizar convenientemente quem tem uma formação superior, o que produz um efeito destrutivo para o país." António Sousa Pereira, presidente do CRUP e reitor da Universidade do Porto

 

O que é preciso fazer para reforçar a conexão entre os mundos académico e empresarial?

Num país cujo tecido empresarial é particularmente marcado por micro, pequenas e médias empresas, em que por vezes os empresários têm pouca sensibilidade para empregar jovens com formação superior, é necessário que as empresas se mentalizem que têm benefícios ao contratar pessoas qualificadas e diferenciadas. Isso vê-se, por exemplo, pelo facto de Portugal ser dos piores países da Europa no que diz respeito a empresas que investem em investigação, comprometendo o caráter inovador necessário para o sucesso empresarial. Contudo, cada vez mais se vê jovens empresários que encaram o ensino superior como uma mais-valia, o que acaba por contrariar esta tendência.

 

E como poderá o ensino superior adaptar-se ao mercado global de trabalho?

Evoluindo para formações de banda larga, isto é, uma formação mais generalista que confere competências relacionais, de análise e resolução de novos problemas. Esta é a estratégia contrária à que tem vindo a ser colocada em prática nos últimos 40 anos, mas é a que melhor prepara para o futuro e para as novas profissões.

 

Existem diferenças qualitativas entre as instituições do ensino superior público e privado?

Não são universos comparáveis. Nos cursos em que exigem infraestruturas laboratoriais não existe oferta privada, como é o caso da maioria das engenharias. Onde é possível fazer essa comparação é em cursos de natureza das ciências sociais e humanas, que são áreas menos exigentes do ponto de vista das infraestruturas. Desta forma, no momento da escolha por parte dos alunos e do mercado, a qualidade é igualmente uma não questão. Os candidatos escolhem em função das suas preferências de determinadas áreas de formação e o mercado recruta os especialistas que melhor respondem às suas necessidades.

 

O nosso ensino superior atinge níveis comparáveis com os dos restantes países da UE?

Claro que sim. Os indicadores são objetivos: temos instituições de ensino superior de grande qualidade que se comparam com as melhores, não só a nível europeu, mas também a nível mundial. O mais recente ranking divulgado pelo QS World University Rankings (QSUR) coloca as universidades do Porto, de Aveiro, de Coimbra, do Minho, a Nova de Lisboa, o ISCTE e a Universidade Católica Portuguesa junto das mais prestigiadas instituições a nível mundial. Outro exemplo: o Finantial Times colocou quatro mestrados portugueses entre os cem melhores do mundo.


"É necessário que as empresas se mentalizem que têm benefícios ao contratar pessoas qualificadas e diferenciadas." António Sousa Pereira, presidente do CRUP e reitor da Universidade do Porto
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