Nos últimos anos, houve um aumento do número de empresas gazela na região Centro. Entre 2012 e 2017, as empresas gazela no Centro cresceram 55%. Este aumento revela uma dinâmica empreendedora desta região. Aproveitando este tema, falámos sobre a influência das empresas gazela e os desafios de futuro que se colocam à região com Ana Abrunhosa, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.
Qual a importância das empresas gazela na região Centro?
Representam um significativo impacto na economia local. Entre 2015 e 2016, estas empresas evidenciaram um crescimento de 53% do volume de negócios e de 30% nos postos de trabalho. Em 2016, o total de exportações somava cerca de 82 milhões de euros.
Em que sectores se verifica maior impacto?
As empresas gazela apresentam uma grande diversidade sectorial, coexistindo sectores tradicionais com sectores de base tecnológica, destacando-se a indústria transformadora, o comércio e a construção. Verifica-se também que se distribuem por toda a região Centro, sendo, por isso, factor de coesão territorial. Muitas delas são negócios familiares, ligados à economia e aos recursos locais, com forte vínculo à história e à identidade local.
A coesão social é priorizada?
Sendo uma das regiões mais assimétricas do país, mas onde as regiões mais frágeis apresentam enormes potencialidades e casos de sucesso que importa multiplicar, o objectivo de promover a coesão social e territorial é prioritário.
Não se espera naturalmente que estes territórios voltem a ter a população e a actividade que tiveram há muitas décadas. O que se espera é que o país assuma que quem vive nestes territórios tem de ter as mesmas oportunidades que qualquer português tem no resto do país. Isso implica mudar os critérios e o racional com que tomamos decisões e definimos as políticas socioeconómicas.
Que balanço faz de seis anos de apuramento de empresas gazela na região Centro?
O contributo das empresas gazela para o emprego e riqueza da região, e para a sua competitividade, tem aumentado. É importante para a CCDR Centro aprofundar o conhecimento deste segmento de empresas, que mostram uma resiliência extraordinária, e perceber os factores determinantes do seu sucesso, de modo a tentar estimular noutras empresas o surgimento ou o desenvolvimento desses factores, através da criação de incentivos adequados para o efeito.
Quais os principais desafios que a CCDR Centro enfrenta?
Antes de mais, o desafio demográfico, não só pelo envelhecimento, mas também pelo seu impacto no sistema de ensino e no mercado de trabalho. A inexistência de mão-de-obra qualificada condiciona as estratégias de desenvolvimento de todos os territórios da região Centro, com maior impacto nos territórios mais frágeis.
O grande desafio da CCDR Centro é promover a capacitação das entidades que constituem a envolvente às empresas, melhorar a promoção da região, aumentar a captação de investimento, formar os recursos humanos com os perfis que as empresas necessitam. Enfim, promover a capacitação e a articulação entre os vários actores do ecossistema de inovação e de empreendedorismo regional.
Qual o papel da CCDR Centro nos incêndios de 2017?
Nos incêndios de junho coordenámos os levantamentos dos danos com outras entidades e apoiámos a recuperação das empresas e dos equipamentos e infraestruturas municipais que ficaram danificadas.Em outubro, em conjunto com as autarquias, fizemos o levantamento dos danos em todas as áreas, exceto agricultura e floresta. A CCDR Centro é responsável pela reconstrução das habitações permanentes com danos superiores a 25 mil euros e pelos pagamentos às famílias quando os danos são inferiores a 25 mil euros.
A que se deve a demora nos apoios?
Para as famílias já passou muito tempo, para nós, que temos de cumprir as regras que a gestão de fundos públicos envolve, tem sido um período intenso de trabalho.
No final de Janeiro, data que impusemos como limite para os pedidos de apoio, recebemos mais de mil pedidos de apoio de 29 municípios. Posteriormente a Janeiro, e mais recentemente, recebemos mais cerca de 200 pedidos de ajuda.
Grande parte dos pedidos de apoio vieram incompletos e a maioria das situações são situações complexas: as famílias não conseguem comprovar a titularidade das habitações, pois as habitações estão em nome de familiares que já faleceram, em muitas outras situações a área das cadernetas não corresponde à área real das habitações, noutras situações as construções não estão licenciadas pelas autarquias, noutras nem sequer estamos a falar de uma casa no sentido habitual do seu termo. Aquilo que pensávamos ser excepção é a regra, o predomínio da informalidade e das situações por regularizar, quer em termos de titularidade quer de licenciamento.
Quais as principais dificuldades burocráticas que o CCDR Centro enfrenta?
O procedimento de consulta prévia a três entidades demora no mínimo um mês e meio. Posteriormente, temos que obter o visto enviar do Tribunal de Contas, que tem demorado cerca de um mês. Apesar disso, três meses e meio depois do final do prazo para apresentação dos pedidos de apoio, temos o seguinte ponto de situação: cerca de 1.200 habitações permanentes danificadas, metade para reconstrução total (CCDRC) e metade para reconstrução parcial (famílias). Temos intervenção em cerca de 700 habitações, das quais 111 estão concluídas, estando 589 em execução. As restantes estão em projecto.
E em relação ao Programa de Apoio às empresas?
Até ao momento foram aprovadas 204 candidaturas, que estimam um investimento de 64 milhões de euros, com um apoio de 47 milhões de euros. Felizmente, mesmo as empresas mais danificadas continuaram em laboração, tendo os empresários afectados demonstrado aquilo que os torna grandes empresários: grande capacidade de resistência e o sentimento de nunca desistirem.