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“Questões económicas e geopolíticas estão a condicionar o mercado”

A ACAP é uma entidade de extrema importância no setor automóvel nacional, sendo fundamental para a economia. Nesse sentido, entrevistámos Helder Pedro, secretário-geral da ACAP – Associação Automóvel de Portugal, que fez um balanço do setor automóvel no país e além-fronteiras. O responsável falou igualmente das gestoras de frotas, um importante “player” em todo o mundo, e debruçou-se sobre temas como a mobilidade elétrica e o “car sharing”.

30 de Outubro de 2019 às 12:07
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Como se encontra neste momento o mercado automóvel em Portugal?

No período de janeiro a setembro de 2019, as matrículas de veículos ligeiros de passageiros em Portugal totalizaram 174 mil unidades, o que se traduziu numa variação negativa de 4,7% relativamente ao período homólogo de 2018.
Após a grave crise que o país e o setor atravessaram, e que conduziu ao encerramento de inúmeras empresas, o mercado automóvel e, em particular, o mercado de frotas sofreram uma forte contração. Contudo, a partir de 2013, o mercado iniciou um processo de recuperação que culminou com um volume de vendas total em 2018 (228 mil unidades) que constituiu o valor mais elevado dos últimos 16 anos.
A entrada em vigor do novo ciclo de ensaios WLTP e as consequentes incertezas em matéria fiscal têm provocado um arrefecimento da procura em toda a Europa, e Portugal não escapou a esta tendência. Existem, igualmente, outros fatores, tais como a incerteza dos consumidores sobre a melhor opção energética na decisão de compra de um veículo, que contribuíram, igualmente, para a queda das vendas. Por outro lado, as novas e exigentes metas de emissões de CO2 na UE, o abrandamento da atividade económica na Europa e no mundo, o Brexit, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, não deixam antever uma perspetiva otimista para a evolução do mercado automóvel nos próximos anos. Existem, pois, não só questões económicas mas, também, geopolíticas que estão a condicionar o mercado.

 

Que balanço faz da gestão das frotas em Portugal? Que importância tem no setor automóvel do nosso país?

O mercado de frotas assume um papel muito importante no mercado empresarial, constituindo um dos principais canais de vendas do setor.
Presentemente, os registos de propriedade de veículos em nome de pessoas coletivas representam 60% do mercado de automóveis ligeiros de passageiros, sendo que o mercado do renting já atinge 12%  do total de vendas e o mercado de rent-a-car subiu para 26% (das vendas totais) em 2018.
O mercado de frotas representa um canal de vendas muito importante para os fabricantes e não nos podemos esquecer de que os concessionários de automóveis terão também de ter, necessariamente, um papel a desempenhar neste mercado. É inegável que se trata de um canal que ganhou importância generalizada em todos os mercados desenvolvidos e em que as gestoras de frotas são neste momento um importante "player" em todo o mundo.

 

Quais são os desafios para o futuro das frotas de automóveis?

Entre os desafios que se colocam ao mercado de frotas encontra-se a mobilidade elétrica, que permite baixar os custos de operação à medida que a tecnologia das baterias e dos postos de carregamento evolui e o preço do petróleo aumenta. Neste aspeto, a gestão dos valores residuais ainda se apresenta como um obstáculo, mas que irá desaparecer à medida que o mercado de usados elétricos for crescendo. 
Apesar das restrições à subsidiação por parte do Governo aos veículos elétricos, adquiridos para frotas, este tipo de veículos tem vindo lentamente a ganhar quota de mercado devido ao baixo custo de operação, designadamente, custo da eletricidade por quilómetro percorrido, isenção de ISV, de IVA e de tributação autónoma. Existem, naturalmente, limitações quanto à autonomia dos veículos, pelo que as empresas têm de avaliar bem o tipo de utilização a dar a estes veículos, antes de procederem à sua aquisição.
Outros desafios são o "car sharing" e a condução autónoma, pois poderão transformar radicalmente a forma como o consumidor se relaciona com o automóvel.

 

Os híbridos e os elétricos são o futuro. As frotas estão a acompanhar esta realidade que já não é uma tendência?
Os operadores estão bastante ativos neste mercado, uma vez que existem bastantes economias quer em termos de custo por quilómetro percorrido, quer nos custos de manutenção dos veículos, quer, ainda, nos benefícios fiscais em vigor.
Todavia, é necessário que exista um plano, muito bem definido, quanto ao alargamento da rede de carregamento, assim como uma simplificação dos meios de pagamento desses carregamentos. Em Portugal, as vendas de veículos elétricos já representam 3% do total das vendas de ligeiros de passageiros. Apesar de ser uma percentagem bastante diminuta, a média de vendas na União Europeia é ainda de 1,5%.

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