Setor de desafios, estes são transversais aos advogados de todas as idades, seja em Portugal ou no mundo, naturalmente. Não obstante, os jovens licenciados em Direito sentem dificuldades acrescidas quando saem da universidade, em relação aos colegas que já se encontram no mercado de trabalho. Por isso, para auxiliar, existe o Instituto de Apoio aos Jovens Advogados (IAJA).
Ana Rita Duarte de Campos, presidente do IAJA, começa por explicar que este instituto foi criado com o objetivo de proceder à identificação e análise dos problemas que abrangem os jovens advogados em Portugal. Sobre estes, diz: "Há problemas de diversa ordem. O principal problema reside nas dificuldades inerentes ao início do exercício da profissão. A maior parte dos jovens advogados, quer exerçam em prática societária, quer em prática individual, tem imensas dificuldades em afirmar-se na profissão. Os segundos enfrentam ainda o problema dos custos acrescidos inerentes ao seu estabelecimento. É difícil criar espaço na profissão."
A presidente do IAJA refere ainda um segundo aspeto, mas que na sua opinião não é um problema, antes um desafio, e que tem que ver com as características das gerações mais novas. "Essas gerações vão transformar completamente a profissão e quem disser o contrário ficará no contraciclo da história."
Questionada sobre quais são as soluções para os supracitados problemas, Ana Rita Duarte de Campos responde: "Penso que terá de passar por uma maior união e solidariedade, não só entre as gerações mais novas, mas entre estas e os que já cá estavam quando chegámos. Ninguém vai viver para sempre; o que é essencial é que a profissão continue, se bem que eu acredite que vai ser muito diferente daqui a quinze ou vinte anos."
Inteligência artificial e mais profissões relacionadas com o Direito
No que diz respeito aos desafios destes profissionais para o futuro, a responsável do IAJA começa por afirmar que na sua opinião haverá muito menos advogados do que atualmente. Segundo Ana Rita Duarte, será inevitável que assim seja e vai dever-se a dois conjuntos de circunstâncias: "Não apenas o papel crescente da inteligência artificial, que poderá vir a reduzir a advocacia aos espaços mais criativos e complexos, mas, sobretudo, entendo que irão surgir mais profissões relacionadas com o Direito e outras já existentes que irão expandir-se." E recorda que basta ter noção da especialização ao nível da investigação criminal, na qual, inclusive, já se cruzou com ex-alunos seus, na expansão da mediação e dos serviços de paralegal que, noutros países, já estão regulamentados e são desempenhados por profissionais do Direito.
Em Portugal, estas realidades, que afetam outros países, serão "particularmente complexas", avisa Ana Rita Duarte, explicando, de seguida, o porquê: "Não me parece que a nossa economia venha a crescer em setores mais rentáveis do que aqueles que conhecemos. Eu espero vir a enganar-me. A dimensão da nossa economia é um problema para a advocacia portuguesa."
Profissionais especializados e a exercer em áreas delimitadas
Os advogados do futuro serão muito mais especializados e atuarão em áreas bem delimitadas, conta e deixa uma garantia: "Isto irá acontecer em todas as modalidades do exercício da profissão. O Richard Susskind analisou esse aspeto em três livros, publicados em 2005 e 2013. Estou convencida de que vai ser assim, mas sou menos pessimista do que ele."
O maior desafio na advocacia é, em seu entender, "manter a chama". "Permanecer na profissão com entusiasmo e ter sucesso que nos permita ter uma vida que nos garanta um valor fundamental na profissão: a independência".