Notícia
Fitch mantém Portugal no penúltimo nível de investimento de qualidade
A agência de notação financeira decidiu não mexer no rating da dívida portuguesa de longo prazo nem na perspetiva para a evolução da qualidade do crédito soberano.
A Fitch optou esta sexta-feira por não proceder a mexidas na avaliação da dívida soberana portuguesa, que permanece assim em BBB, o penúltimo grau da categoria de investimento de qualidade (ou dois níveis acima de "lixo"). Já a perspetiva (outlook) mantém-se estável.
Esta decisão era já esperada pelo analista-chefe do departamento de mercados do Danske Bank, Jens Peter Sørensen. Em declarações ao Negócios, o analista tinha dito que achava ser "um pouco cedo para uma alteração no ‘outlook’ e no rating, atendendo a que a Fitch cortou a perspetiva de positiva para estável na primavera".
Com efeito, no passado dia 17 de abril, a agência cortou a perspetiva para a evolução da qualidade da dívida soberana, naquela que foi uma decisão surpresa, já que se antecipou à data agendada (22 de maio) para avaliar Portugal. Depois, no mês seguinte deixou tudo igual, sem se pronunciar. Agora voltou a optar pelo status quo, mas emitiu relatório.
Na opinião da Fitch, o rating de Portugal equilibra a sua robustez institucional, fortes indicadores de governance e rendimento per capita acima dos seus pares que também têm uma notação de BBB, contra os elevados níveis de endividamento e o fraco potencial de crescimento no médio prazo.
O ‘outlook’ estável reflete a convicção da agência de que, após o forte aumento da dívida pública este ano, esta irá regressar com o tempo à trajetória de descida, em parte com base no historial pré-covid de Portugal no que diz respeito a uma prudente política orçamenta.
A agência estima que a economia portuguesa registe uma contração de 8,8% este ano, antes de enveredar por uma retoma económica de 4,8% em 2021 e de 2,4% em 2022.
Em abril, a Fitch projectava uma contração de 3,9% para a economia de Portugal em 2020, o que na altura já constituía uma revisão em baixa de 5,6 pontos percentuais face ao que previa no seu relatório de novembro do ano passado.
A agência ressalva que as suas previsões para o PIB ainda não incorporam o Fundo Próxima Geração da União Europeia (fundo de recuperação temporário), uma vez que o exato timing e utilização dos fundos que caberão a Portugal é algo que está ainda incerto.
"A economia de Portugal, de pequena dimensão e aberta, com a sua elevada dependência do turismo (7,1% do PIB, de acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, o que a torna a terceira mais dependente entre os países da União Europeia), deixa o nosso cenário de base vulnerável a riscos de uma contração (no setor mundial das viagens) que possa fazer-se sentir em parceiros comerciais chave", aponta.
Enquanto isso, prossegue, "a escala e duração das novas restrições impostas recentemente a nível nacional é incerta e depende da evolução da pandemia".
O "lay-off simplificado" (abril-julho) e os incentivos governamentais para a normalização da atividade económica, através do adiamento no pagamento de impostos, subsídios e linhas de crédito garantidas pelo Estado, ajudaram a atenuar os problemas de liquidez das empresas e o aumento da taxa de desemprego, mas a tendência subjacente do mercado laboral continua débil", sublinha.
(notícia atualizada às 21:35)