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Petrolíferas questionam se ainda vale a pena descobrir petróleo

Com o coronavírus a destruir economias e prejudicar a procura, as grandes petrolíferas europeias fizeram algumas confissões nos últimos meses: milhares de milhões de dólares em petróleo e gás talvez nunca sejam extraídos do solo.

19 de Agosto de 2020 às 17:51
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No canto inferior do Atlântico Sul, as Ilhas Malvinas já estiveram na vanguarda de uma nova era para a indústria petrolífera, quando o planeta era vasculhado na busca por recursos energéticos.

Uma década após a descoberta de até 1,7 milmilhões de barris de petróleo nas águas em torno das ilhas, o território britânico conhecido pela criação de ovelhas e pela tensão com a Argentina parece mais remoto do que nunca. Em vez de se tornar a próxima fronteira do setor, o projeto de extração pode entrar na lista em que as petrolíferas colocam os chamados "ativos improdutivos", que podem custar fortunas e não dar em nada.

Com o coronavírus a destruir economias e prejudicar a procura, as grandes petrolíferas europeias fizeram algumas confissões nos últimos meses: milhares de milhões de dólares em petróleo e gás talvez nunca sejam extraídos do solo.

A crise também acelerou uma migração global para a energia limpa. Os combustíveis fósseis serão provavelmente mais baratos do que o esperado nas próximas décadas, mas emitir carbono custará mais caro. Tendo em conta estas duas premissas, extrair combustível de alguns campos já não tem racional económico. A BP avisou em 4 de agosto que não fará exploração em novos países.

A indústria petrolífera já estava a enfrentar um quadro de transição energética, oferta abundante e indícios de pico de procura quando a covid-19 começou propagar-se por todo o mundo. A pandemia provavelmente adiantará esse pico e diminuirá o incentivo à exploração, de acordo com a Rystad Energy. A consultora estima que 10% dos recursos mundiais de petróleo recuperável — cerca de 125 mil milhões de barris — vão ficar obsoletos.

"Haverá ativos abandonados", disse Muqsit Ashraf, diretor-geral sénior responsável pela indústria global de energia na Accenture. "As empresas terão que aceitar o facto."

O projeto Sea Lion nas Malvinas prometia ser um recurso de primeira linha quando a Rockhopper Exploration encontrou o campo, em 2010. Centenas de milhões de dólares depois e após um conflito entre a Argentina e a Grã-Bretanha sobre a legalidade do projeto, a primeira fase ainda não trouxe quelquer petróleo para o mercado.

A Premier Oil, sócia da Rockhopper, suspendeu os trabalhos em Sea Lion no início deste ano e, em 15 de julho, efetuou uma amortização contabilística de 200 milhões de dólares em investimentos por considerar improvável a realização das fases posteriores.


Empresas de maior dimensão começaram a expressar essa percepção sobre outros projetos. A BP informou em junho que iria avaliar o seu portfólio de descobertas e deixar algumas sem desenvolvimento. O diretor de pessoal, Dominic Emery, deu a entender no ano passado que alguns tipos de recurso jamais "verão a luz do dia". Projetos complicados podem ser colcoados na gaveta em favor de campos de desenvolvimento mais rápido, como os de xisto nos EUA, disse.

A pressão para reduzir as emissões também pode convencer essas companhias a deixar no solo as reservas mais intensivas em carbono. A francesa Total reconheceu essa possibilidade no mês passado, quando amortizou 8 mil milhões de dólares em ativos com alto teor de carbono.

A lista de projetos de maior risco inclui descobertas em águas profundas no Brasil, Angola e Golfo do México, segundo Parul Chopra, vice-presidente de pesquisa em exploração da Rystad. Empreendimentos nas areias petrolíferas no Canadá, como a expansão do projeto Sunrise, em Alberta, também estão em jogo.

Uma colónia de pinguins Rock Hopper nas Ilhas Malvinas
Uma colónia de pinguins Rock Hopper nas Ilhas Malvinas Peter Macdiarmid

 

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