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Petróleo pode cumprir em 2023 a promessa de um ano em cheio

O “ouro negro” gerou grande expectativa em 2022, mas a prevista escalada dos preços nos mercados foi “fogo de vista”. Investidores estão com esperança de que este seja o ano de jorrar bons retornos.

Petróleo disparou mais de 40% em Londres e Nova Iorque. Mas gás foi a “estrela da companhia”, ao disparar 304% no mercado holandês.
Já há várias casas de investimento a recolocarem o Brent no patamar dos 100 dólares este ano. Fabian Bimmer/Reuters
09 de Fevereiro de 2023 às 09:00
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A energia teve um comportamento misto ao longo do ano passado. O gás natural e o petróleo estiveram do lado das subidas – se bem que as do crude tenham sido pouco expressivas –, ao passo que o carvão caiu 48,34%, penalizado sobretudo pela transição para as energias verdes, que tem levado os investidores a desinvestirem neste combustível fóssil.

E como será o cenário este ano? Para a maioria dos analistas, o gás natural deverá manter a tendência altista na Europa, depois de ter sido alvo de grande disrupção no ano passado – com a Rússia a cortar grande parte do seu fornecimento à região e a provocar uma elevada volatilidade.

Já no que respeita ao petróleo, o ano de 2022 viu jorrar muita volatilidade. Logo a 24 de fevereiro, a invasão da Ucrânia pela Rússia fez disparar os preços, que rondaram os máximos históricos de 2008, ao superarem os 140 dólares por barril. Nessa altura, quando o pior da pandemia estava a ficar para trás, a procura por “ouro negro” começava a retomar e os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) tinham começado a devolver ao mercado, de forma faseada, o crude que tinham retirado da oferta em 2020, quando a covid-19 levou ao encerramento de portas de meio mundo e a procura tombou consideravelmente. Mas rapidamente tudo mudou de novo.

Covid zero na China, inflação, juros e sanções

As restrições à mobilidade na China devido à política covid zero, que vigoraram até ao final do ano, pesaram na procura por petróleo e a elevada inflação que começou a assolar grande parte do mundo levou à intervenção dos bancos centrais, que começaram a subir as taxas de juro de referência – cenário que trouxe de volta o medo da recessão. Consequentemente, as cotações do crude foram cedendo terreno e terminaram o ano com ganhos abaixo do que se esperava.

Pelo meio, o Ocidente decretava sucessivas sanções a Moscovo e o Kremlin retaliava. Resultado: a OPEP+ voltou a apertar a sua torneira da produção ao decidir um corte de dois milhões de barris por dia, que entrou em vigor em novembro e que se mantém até ao final de 2023.

Mas houve mais: no passado dia 5 de dezembro, a União Europeia implementou um embargo à importação de crude russo via marítima, tendo agora a 5 de fevereiro feito o mesmo com os produtos petrolíferos refinados provenientes daquele país. Isto no âmbito das sanções decretadas contra Moscovo pela ofensiva que mantém em Kiev.

Agora, a maioria dos analistas aponta para que os preços do petróleo subam mais este ano, se bem que haja algumas (poucas) vozes discordantes. Para o UBS, o Brent do mar do Norte – crude de referência para as importações europeias e que é negociado em Londres – irá superar de novo o patamar dos três dígitos nos próximos meses. Isto contra os 83 dólares por barril a que negoceia atualmente. Giovanni Staunovo, analista de “commodities” do banco suíço, sublinha – num relatório a que o Negócios teve acesso – que a oferta irá ficar mais apertada nos próximos meses, à conta do previsto aumento da procura mundial, nomeadamente por parte da China.

Também o Goldman Sachs vê o Brent a superar os 100 dólares ainda este ano. O principal analista de matérias-primas do banco norte-americano, Jeffrey Currie, afirmou na semana passada que a indústria petrolífera não está a investir o suficiente para garantir a produção futura – isto numa altura em que a capacidade disponível a nível mundial está a diminuir. Para Currie, isto poderá mergulhar o mercado num sério problema de falta de oferta no próximo ano.

O Bank of America tem o mesmo entendimento, ao estimar que o Brent negoceie numa média de 100 dólares em 2023 e atinja os 110 dólares na segunda metade do ano. Igual projeção tem o Morgan Stanley, que crê que o crude negociado em Londres terminará o ano nos 110 dólares por barril. Já o Deutsche Bank considera que os condicionalismos na oferta manterão os preços em torno dos 100 dólares até que a procura diminua com uma contração nos Estados Unidos – o que, a acontecer, poderá retirar ao crude cerca de 20 dólares em finais do ano.

Política dos bancos centrais e reconfiguração comercial

Segundo os analistas da Economist Intelligence Unit (EIU), um potencial ponto de viragem seria ver a Reserva Federal norte-americana adotar uma política monetária mais acomodatícia, mas, para isso acontecer, terá de haver sinais claros de uma forte queda da inflação.

“No petróleo, o mercado global precisa de ver mais mudanças nos fluxos comerciais, numa altura em que o boicote da União Europeia ao crude e produtos refinados provenientes da Rússia já entrou em vigor. Embora outros compradores estejam prontos a comprar essa matéria-prima, a sua capacidade para tal deverá ser limitada, pelo que a oferta de crude russo deverá cair em 2023”. E isso, a par com o apertar da torneira da OPEP+, aponta para um mercado petrolífero mais apertado – pelo que os preços deverão subir ao longo do ano”, refere a EIU.

Há visões mais prudentes, como a do Citi, que se mantém “neutral” na energia em geral, mas no geral a convicção mais consensual é a de que os preços do petróleo vão ter melhor desempenho este ano – a menos que haja alguma reviravolta.

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