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Retoma da economia será lenta e desigual

O mundo entra em 2010 muito menos pesaroso do que em 2009. Ainda assim, o cenário traçado para o próximo ano continua envolto em incerteza. Se em 2009, a escalada das bolsas foi alimentada pela "esperança na retoma" em 2010 isso não chega. Querem-se...

24 de Dezembro de 2009 às 08:00
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No próximo ano serão mais uma vez os países emergentes a puxarem a carroça da economia mundial. Na Europa e EUA o desemprego dificultará uma rápida recuperação


O mundo entra em 2010 muito menos pesaroso do que em 2009. Ainda assim, o cenário traçado para o próximo ano continua envolto em incerteza. Se em 2009, a escalada das bolsas foi alimentada pela "esperança na retoma" em 2010 isso não chega. Querem-se "confirmações de crescimento", avisa a Goldman Sachs nas suas perspectivas para o novo ano.

Parece consensual entre as diferentes casas de investimento internacionais que a economia global vai ressuscitar de forma lenta e que serão os países emergentes, como a China e o Brasil, a liderar o crescimento. O Citigroup espera que a retoma seja sustentada, mas desigual nas diferentes zonas do globo. A recuperação da Europa e Estados Unidos continuará marcada por um elevado desemprego, que travará o aumento do consumo.

Uma das grandes incógnitas prende-se com a gestão dos elevados défices orçamentais e até que ponto os governos de todo o mundo se sentirão pressionados a retirar mais rapidamente os estímulos económicas para reverter os desequilíbrios nas contas públicas. No que toca aos planos de estímulo há também o perigo de a sua manutenção mais prolongada gerar um aumento inesperado da inflação. A forte subida dos preços não parece ser uma das principais preocupações para 2010, mas pode surgir como uma surpresa.

O "timing" para a subida dos juros é outro dos factores que pesará. Para já, a expectativa dos analistas aponta para que, tanto nos EUA como na Europa, o aumento do custo do dinheiro só surja na segunda metade de 2010. Mas também aqui, a inflação tem uma palavra.

Na sexta-feira, o Banco Central Europeu afirmou que é preciso cautela e alertou para os riscos que a Zona Euro enfrenta no próximo ano. Entre eles destaca que as empresas, sobretudo fora do euro, podem revelar vulnerabilidades, devido "à elevada alavancagem, baixos lucros e condições restritivas de acesso ao crédito". Lembra ainda que "os mercados financeiros podem sofrer um revés, caso as previsões macroeconómicas mais optimistas não se confirmem".

A Goldman Sachs é, para já, um dos bancos mais optimistas, apontando para um crescimento de 4,4% da economia global no próximo ano.

Desemprego trava Portugal
A recuperação da economia portuguesa será também muito lenta. Segundo o FMI e a Comissão Europeia, o crescimento do PIB deverá ficar-se pelos 0,3% ou 0,4%, respectivamente.

O aumento do desemprego será uma das maiores preocupações, prevendo-se uma subida até meados de 2010. A depressão do mercado de trabalho deverá continuar a travar o consumo privado, o que, impedirá também uma rápida recuperação das receitas das empresas. Segundo os analistas do CaixaBI, é expectável que a melhoria da conjuntura nos principais destinos das exportações portuguesas (Alemanha, França e Angola) - excepto para Espanha -, possam alimentar a actividade a nível interno.





Cinco factores a ter em conta no próximo ano

1. O desafio do fim dos estímulos à economia
Uma das grandes incógnitas para o próximo ano prende-se com o "timing" que os governos escolherão para iniciarem a retirada dos planos de estímulo à economia. Se o elevado nível do desemprego nos países europeus e nos Estados Unidos torna pouco provável uma retirada rápida das ajudas governamentais, também é certo que as consequências podem ser gravosas caso a retirada seja demasiado tardia, podendo estimular um crescimento da inflação acima do esperado. A preocupação prende-se também com o receio de a retoma da economia, ainda débil, conseguir resistir sem os apoios.

Ainda assim, a maioria dos especialistas está confiante, afirmando que a retirada será gradual e efectivada apenas quando houver robustez económica. Mas terá um custo: os défices excessivos.

2. Taxas de juro voltam a subir mas a ritmo lento
O sistema financeiro global ainda está debilitado e a retoma da economia mundial ainda dá os primeiros passos. Por isso, apesar da maior normalização global, é pouco provável que se assista a um aumento das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu e da Reserva Federal dos EUA nos meses que se aproximam. No mercado, as expectativas apontam para que só haja aumentos do custo do dinheiro na segunda metade de 2010. E mesmo nessa altura, não se espera que a subida seja muito repentina. A crise de 1930 mostra que uma subida demasiado rápida do custo do dinheiro pode voltar a colocar a economia mundial de joelhos.

Neste caso, o aparecimento de uma inflação surpresa também pode complicar as contas aos banqueiros centrais. Não é o cenário mais provável, nem o esperado, mas pode acontecer.

3. Crescimento dos resultados suporta ganhos nas acções
A recuperação da economia mundial deverá ser o tema de 2010, ainda que com muitos obstáculos pela frente. Nas acções, os analistas esperam que os próximos 12 meses sejam de ganhos. Contudo, ao contrário de 2009, defendem que serão os resultados a suportar as cotações e não a especulação em torno da retoma. Num momento em que permanecem muitas incertezas, nomeadamente quanto ao impacto da retirada dos programas de estímulos fiscais e da subida dos juros, os analistas recomendam uma rotação da estratégia de investimento. A aposta recai agora sobre acções de empresas de "qualidade", ou seja, capazes de gerar retornos independentemente do momento económico, e de cotadas com políticas de remuneração accionista atractiva. Os mercados emergentes vão continuar a liderar o crescimento.

4. Dívida de empresas volta a ser oportunidade
2010 não será seguramente o ano da dívida. Esta é, pelo menos, a expectativa da maioria dos bancos de investimento. Mas, em toda a regra há uma excepção. E a excepção deverá ser uma vez mais as obrigações de empresas. Depois de um ano com retornos elevados, as casas de investimento continuam optimistas para o segmento "corporate". A dívida de empresas com "rating" mais baixo, nomeadamente obrigações "high yield", deverão oferecer rentabilidades superiores. Ainda assim, depois de um longo período de taxas de juro em níveis historicamente baixos na Europa e nos EUA, no próximo ano as autoridades monetárias deverão inverter o ciclo de descidas. Pelo que, os especialistas recomendam uma diminuição da exposição a activos de dívida, bem como a preferência por emissões com maturidade mais curta.

5. Metais vão brilhar mais e cobre vai liderar subidas
Jim Rogers, presidente da Rogers Holdings, que previu o início do movimento altista das "commodities" em 1999, considera que as matérias-primas são a única classe de activos onde os investidores devem aplicar bastante dinheiro, pois o crescimento na China e a procura de investimentos alternativos continuarão a sustentar os seus preços. A maioria das grandes casas de investimento aposta na subida da generalidade das matérias-primas, com especial destaque para os metais preciosos e industriais e também para os produtos agrícolas, como alguns cereais e oleaginosas. Menos brilhante no próximo ano deverá ser o futuro do alumínio, do níquel, do trigo e do gás natural, sobretudo devido aos seus elevados inventários. Só as reservas de alumínio dão para construir 69.000 Boeing 747.





Onde colocar o dinheiro

Depois de um ano que deixou danos profundos nas carteiras da maior parte dos investidores mundiais, 2009 surpreendeu com uma recuperação estridente nos mercados accionistas. Desde os mínimos de Março, as principais bolsas acumulam ganhos superiores a 50%. Para 2009, as perspectivas dos analistas apontam para mais um período de valorizações, ainda que menos expressivo que as registadas no ano que está prestes a terminar. No seu relatório com as previsões para 2010, o UBS construiu uma carteira para o próximo ano, com o peso que cada classe de activos deve ter no investimento (ver gráfico ao lado). As acções ocupam mais de metade da carteira recomendada pelo banco de investimento suíço, que aconselha aumentar a exposição a estes activos em 2010. Para o UBS, ao contrário do que aconteceu este ano, os títulos serão suportados pela divulgação de resultados e não pela especulação. No mercado da dívida, o banco continua mais optimista para a dívida de empresas, nomeadamente para as obrigações "high-yield". Já para a dívida pública, a recomendação desceu para "underweight". No imobiliário e matérias-primas é esperada a continuação de subida dos preços. PA


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