Notícia
Ofereça ganhos com chocolate no Dia dos Namorados
O maior produtor mundial de cacau está a ferro e fogo. Um especulador tornou-se demasiado guloso. As alterações climáticas limitam a capacidade produtiva das plantações. Conclusão: investir no chocolate pode dar muito cacau.
14 de Fevereiro de 2011 às 10:36
Se este Dia de S. Valentim for tão doce como o do ano passado, irão ser gastos 210 milhões de euros em chocolates em todo o mundo. Porém, se não mudar o panorama do mercado do cacau, a matéria-prima principal no fabrico do chocolate, no próximo ano será preciso gastar mais dinheiro para comprar a mesma quantidade desse doce.
A turbulência política na Costa do Marfim, as dificuldades produtivas resultantes das alterações climáticas e a usurpação de uma grande parte das reservas europeias por um único investidor apontam o sentido ascendente para o preço do cacau. Em 2010, o preço nos mercados internacionais deslizou ligeiramente.
O "Financial Times" não podia ter explicado melhor: "A indústria do cacau parou numa altura em que deveria ser o período mais intenso de colheita." Este é o resultado da crise política na Costa do Marfim, onde, apesar das eleições terem nomeado Alassane Ouattara, o presidente cessante, Laurent Gbagbo, não abre mão do poder, argumentando fraude eleitoral. A pressão internacional, que inclui o fechar das portas ao comércio costa-marfinense, passa ao lado de Gbagbo, mas não do mercado de mercadorias. Está em causa o envio de um terço da produção mundial de cacau para as fábricas dos criadores de chocolate.
A gula de Anthony Ward
Em Julho, o "New York Times" contou que existe "um Willy Wonka da vida real", referindo-se ao excêntrico chocolateiro da história "Charlie e a Fábrica de Chocolate". Através da sociedade Armajaro, Anthony Ward, um gestor de activos especializado no mercado das mercadorias, comprou a quase totalidade das reservas de cacau da Europa. Foram 240 mil toneladas da matéria-prima, o equivalente a quase 7% da produção anual do mundo e mais do que a capacidade produtiva dos Camarões, o quinto maior exportador de cacau.
Muitos intervenientes na praça de Londres, onde Ward investiu, defenderam que o especulador queria pressionar a cotação do cacau para a subida, vendendo posteriormente com um apetitoso ganho. A associação alemã de comerciantes de cacau chegou a escrever à bolsa londrina a reclamar. Contudo, algumas vozes mais próximas de Anthony Ward dizem que ele está a apostar na quebra da oferta.
Enquanto a procura continua a crescer, em resultado de uma cada vez mais numerosa classe média em todo o mundo, a oferta está a descer: nos dois últimos anos, a produção mundial caiu quase 4%, segundo a Organização Internacional do Cacau. As alterações climáticas colocam as plantações à mercê das pestes e doenças, como a frequente doença fúngica da podridão-parda, e encurtam a vida útil dos cacaueiros. Além disso, as plantações esgotam rapidamente os nutrientes da terra, reduzindo progressivamente a sua produtividade.
Graças à forte procura, os fabricantes de chocolate deverão conseguir passar a escalada dos preços do cacau para os consumidores finais, tornando-se, assim, boas apostas para os investidores. Contudo, o mercado chocolateiro é tendencialmente familiar ou disperso por grandes grupos económicos de actividade diversificadas. Desde que a Cadbury foi adquirida pela Kraft Foods, há um ano, restou apenas uma grande empresa dedicada quase exclusivamente à produção de chocolate: a norte-americana The Hershey Company, conhecida simplesmente por Hershey's. Esta empresa, responsável pela marca Kit Kat nos Estados Unidos da América através de um contrato que celebrou com a Nestlé, vale actualmente mais do que a Portugal Telecom ou do que a Jerónimo Martins.
A escassez de cacau no mercado - bem como de outras matérias-primas como o açúcar, o gás e o milho - não é uma grande preocupação para a Hershey's. A todo o momento, a administração do grupo tem contratos que lhe garantem entre três e 24 meses de necessidades produtivas. A sociedade gasta 2,4 mil milhões de euros por ano na produção de chocolates, o que representa cerca de 57% do valor das vendas.
Além da Hershey's, há outros produtores de chocolates listados na bolsa, mas o negócio chocolateiro representa pouco na sua facturação. É o caso da americana Kraft Foods e da Suíça Nestlé, cujas divisões dos chocolates e doces representam 28% e 10% das receitas, respectivamente. A Kraft é a dona das marcas Cadbury e Milka e a Nestlé dos chocolates Kit Kat e Smarties.
Líder problemático
A Costa do Marfim, o maior produtor de cacau, está envolvida num conflito político. A sua produção caiu 14% nos dois últimos anos. Estas são as quotas de mercado da produção mundial, que se cifrou em 3,6 milhões de toneladas na época 2009-2010, o suficiente para produzir 75 mil milhões de barras de chocolate.
Investir na escalada do cacau
A turbulência política na Costa do Marfim, as dificuldades produtivas resultantes das alterações climáticas e a usurpação de uma grande parte das reservas europeias por um único investidor apontam o sentido ascendente para o preço do cacau. Em 2010, o preço nos mercados internacionais deslizou ligeiramente.
A gula de Anthony Ward
Em Julho, o "New York Times" contou que existe "um Willy Wonka da vida real", referindo-se ao excêntrico chocolateiro da história "Charlie e a Fábrica de Chocolate". Através da sociedade Armajaro, Anthony Ward, um gestor de activos especializado no mercado das mercadorias, comprou a quase totalidade das reservas de cacau da Europa. Foram 240 mil toneladas da matéria-prima, o equivalente a quase 7% da produção anual do mundo e mais do que a capacidade produtiva dos Camarões, o quinto maior exportador de cacau.
Muitos intervenientes na praça de Londres, onde Ward investiu, defenderam que o especulador queria pressionar a cotação do cacau para a subida, vendendo posteriormente com um apetitoso ganho. A associação alemã de comerciantes de cacau chegou a escrever à bolsa londrina a reclamar. Contudo, algumas vozes mais próximas de Anthony Ward dizem que ele está a apostar na quebra da oferta.
Enquanto a procura continua a crescer, em resultado de uma cada vez mais numerosa classe média em todo o mundo, a oferta está a descer: nos dois últimos anos, a produção mundial caiu quase 4%, segundo a Organização Internacional do Cacau. As alterações climáticas colocam as plantações à mercê das pestes e doenças, como a frequente doença fúngica da podridão-parda, e encurtam a vida útil dos cacaueiros. Além disso, as plantações esgotam rapidamente os nutrientes da terra, reduzindo progressivamente a sua produtividade.
Graças à forte procura, os fabricantes de chocolate deverão conseguir passar a escalada dos preços do cacau para os consumidores finais, tornando-se, assim, boas apostas para os investidores. Contudo, o mercado chocolateiro é tendencialmente familiar ou disperso por grandes grupos económicos de actividade diversificadas. Desde que a Cadbury foi adquirida pela Kraft Foods, há um ano, restou apenas uma grande empresa dedicada quase exclusivamente à produção de chocolate: a norte-americana The Hershey Company, conhecida simplesmente por Hershey's. Esta empresa, responsável pela marca Kit Kat nos Estados Unidos da América através de um contrato que celebrou com a Nestlé, vale actualmente mais do que a Portugal Telecom ou do que a Jerónimo Martins.
A escassez de cacau no mercado - bem como de outras matérias-primas como o açúcar, o gás e o milho - não é uma grande preocupação para a Hershey's. A todo o momento, a administração do grupo tem contratos que lhe garantem entre três e 24 meses de necessidades produtivas. A sociedade gasta 2,4 mil milhões de euros por ano na produção de chocolates, o que representa cerca de 57% do valor das vendas.
Além da Hershey's, há outros produtores de chocolates listados na bolsa, mas o negócio chocolateiro representa pouco na sua facturação. É o caso da americana Kraft Foods e da Suíça Nestlé, cujas divisões dos chocolates e doces representam 28% e 10% das receitas, respectivamente. A Kraft é a dona das marcas Cadbury e Milka e a Nestlé dos chocolates Kit Kat e Smarties.
Líder problemático
A Costa do Marfim, o maior produtor de cacau, está envolvida num conflito político. A sua produção caiu 14% nos dois últimos anos. Estas são as quotas de mercado da produção mundial, que se cifrou em 3,6 milhões de toneladas na época 2009-2010, o suficiente para produzir 75 mil milhões de barras de chocolate.
Investir na escalada do cacau
Não precisa de ir ao supermercado comprar algumas saquetas de cacau em pó para apostar na subida da matéria-prima. Consegue especular na alta através da bolsa
Através de um intermediário financeiro ligado a uma das duas maiores bolsas de derivados de mercadorias - a Nymex, em Nova Iorque, e a Ice, em Londres -, é possível investir em contratos de futuros sobre o cacau, isto é, especular sobre o preço que esta matéria-prima terá nos próximos meses. Foi na Ice que o gestor Anthony Ward adquiriu 7% das reservas globais de cacau. Contudo, como estas praças são destinadas a investidores muito sofisticados, a maioria que quer apostar na escalada do bem deve optar por fundos de investimento expostos ao cacau.
É possível encontrá-los na bolsa de Londres. O veículo mais popular para apostar na subida do cacau é o ETFS Cocoa. Este organismo investe indirectamente em contratos de futuros sobre o cacau, mas é preciso ter cuidado com as comissões que lhe podem cobrar - directa e implicitamente. Sem contar com as comissões de bolsa dos intermediários financeiros, a aposta no ETFS Cocoa "rendeu" um prejuízo de 1,78% em 2010, apesar da perda dos contratos sobre o cacau não ir além dos 0,04%, segundo a Bloomberg.
A entidade gestora do ETFS Cocoa, a ETF Securities, facilita, ainda, a aposta na queda do cacau e especulação alavancada na subida. O ETFS Short Cocoa deverá perder o equivalente aos ganhos do ETFS Cocoa e ganhar o que ETFS Cocoa perde. O ETFS Leverage Cocoa deverá ganhar (ou perder) diariamente o dobro do ETFS Cocoa. Se a versão não alavancada é tão volátil como as acções da Hershey's, a opção alavancada pode tirar a respiração aos investidores mais agressivos devido aos numerosos saltos da sua cotação. Estes instrumentos financeiros podem ser negociados como se fossem acções.
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