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Investir com arte

Será a arte uma boa oportunidade de investimento? Artistas e proprietários de galerias defendem que sim. Os dados confirmam. Este facto ganha força em épocas de crise, como mostram os recentes recordes atingidos em leilões internacionais. No entanto, há cuidados a ter na altura de escolher uma obra de arte. O Jornal de Negócios foi conhecer quatro artistas portugueses. Quatro obras de arte com potencial de valorização no futuro.

17 de Julho de 2008 às 00:04
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Bond Street. Londres. Noite de 24 de Junho de 2008. O leilão de arte moderna e impressionista da So theby´s bate um novo recorde: 163 milhões de euros. Um dia mais tarde, e a poucas ruas de distância, a rival Christie’s vende o Monet mais caro de sempre por 51,6 milhões de euros, e eleva o valor total do leilão para 212,3 milhões de euros. A lista de recordes não termina aqui. Mais recentemente, os leilões de arte contemporânea ascenderam a 228 milhões de euros, com a venda do "Three Studies for a Self-Portrait", um tríptico de Francis Bacon, por 21,7 milhões de euros.

O que explica que em plena crise económica e financeira o mercado de arte continue a crescer? O que leva um investidor a pagar mais de 51 milhões de euros por uma obra de arte? A resposta passa pelo prestígio de possuir uma obra de arte. Ou pelo prazer estético que é possível usufruir de um quadro de Monet ou de Vieira da Silva. Mas não se resume a esses dois factores. E poderá ser, precisamente, por estarmos em época de crise que o mercado de arte tem crescido tanto.

"A arte tem tido mais interessados devido às dificuldades dos outros mercados", confirma Cristina Guerra, proprietária da galeria Cristina Guerra. "É um bom refúgio para quem tem liquidez e quer investir", acrescenta Pedro Mesquita da Cunha, director e fundador da leiloeira portuguesa Sala Branca. Mesquita Cunha vai mais longe e afirma que, nesta altura, a arte é mesmo a única alternativa de investimento.

Manuel Ulisses, proprietário da galeria Quadrado Azul, também defende que a arte é um bom refúgio, por não existirem "as oscilações que, por exemplo, existem na bolsa". "É um mercado mais firme", refere. A análise do índice de arte Mei Moses permite confirmar esta "firmeza" (ver tabela). "A arte ajuda a reduzir a volatilidade de um ‘portfolio’ gerando apreciações de longo prazo", concluiu um estudo da Glenmede Trust Company com base no Mei Moses (ver caixa).

Valor inestimável
O artista João Louro não tem dúvidas. A arte é definitivamente um bom investimento. Por dois motivos.

"As escolhas certas geram margens de lucros maiores do que a maioria dos produtos disponíveis no mercado", refere. Mas a arte tem também um "valor inestimável": "melhorar a vida de quem a possui".

A arte em Portugal
"O mercado português de arte é pequeno e, consequentemente, difícil", lamenta Cristina Guerra. Este sentimento é partilhado pelo artista João Luís Bento: "Para crescer é preciso sair de Portugal. É um mercado pequeno". No entanto, apesar da reduzida dimensão do mercado, os portugueses estão mais atentos à arte "nas suas diversas expressões". O Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, e o Museu Berardo, em Lisboa, confirmam isso, referem Manuel Ulisses e Paulo Amaro, proprietário da galeria Paulo Amaro.

A Sala Branca – que desde a abertura em Setembro de 2007, realizou dois leilões – também já bateu recordes. No primeiro leilão foram seis. Com obras de Júlio Pomar ou Paulo Rego. Um quadro da artista portuguesa foi vendido por mais de 300 mil euros.

A pintura é, precisamente, a expressão que os portugueses preferem. Mas os gostos têm vindo a mudar. "A preferência dos portugueses e também dos estrangeiros ainda é a pintura. No entanto, os gostos têm sofrido alterações ao longo do tempo, porque se os gostos não se discutem, podem educar-se", comenta Manuel Ulisses. Mesquita da Cunha concorda que o mercado es tá "mais educado" e não coloca de parte a hipótese de leiloar uma instalação.

Cuidados a ter
Ao contrário do que acontece na bolsa, o mercado de arte não é regulado. Este facto implica riscos que devem avaliados. Mais. "Ao contrário do que acontece com outras classes de activos, o desempenho passado não deve ser um indicador para o futuro. Ou seja, os investidores podem não reaver tudo o que investiram. Desta forma, a arte deve ser apenas considerada como um activo por aqueles que compreendem e podem suportar os riscos envolvidos", aconselha Iain Robert son, professor da escola de arte da Sotheby’s.

€ 17.303.770

Esta obra de Francis Bacon – "Study for Head of George Dyer" – foi vendida por 13,7 milhões de libras (17,3 milhões de euros) no passado dia 1 de Julho. Um dia antes, a Christie’s vendeu o "Three Studies for a Self Portrait", um auto-retrato tríptico que o artista irlandês pintou em 1975 em Paris e que nunca tinha sido vista em público, por 17,28 milhões de libras.

€ 560.823

A obra de Paula Rego "The Lesson" foi vendida em Fevereiro deste ano, por 446 mil libras (cerca de 560,8 mil euros). É o quadro mais caro da artista portuguesa vendido em leilão. Este quadro foi pintado em 1997. A leiloeira portuguesa Sala Branca vendeu recentemente outra obra da pintora por mais de 300 mil euros.

O índice de arte Mei Moses supera historicamente o S&P500
Evolução do índice de arte Mei Moses e do S&P 500 desde 1956 até 2006



Fonte: "The Art Business", Iain Robertson e Derrick Chong


Obras de arte reduzem a volatilidade dos "portfolios"

A arte começou a ser considerada como um investimento no início dos anos 80. Durante grande parte do século XX eram apenas apreciados "os seus méritos estéticos", havendo "poucos indivíduos (na maioria corretores e leiloeiras) que olhavam para a arte como uma oportunidade de investimento", recorda Iain Robertson. "Dividendo estético" era o termo usado para descrever o prazer de possuir uma obra de arte. Esta situação mudou. Mas ainda assim, muitos críticos defenderam que a arte era demasiado volátil e, consequentemente, não deveria ser considerada como um "investimento sério". Este argumento caiu por terra em 2003 a partir da análise do índice de arte Mei Moses (ver gráfico), realizado pela instituição financeira norte-americana Glenmede Trust Company. O estudo demonstra que "portfolios" que incluem obras de arte produzem um maior retorno por cada unidade de risco. "A arte ajuda a reduzir a volatilidade de um ‘portfolio’ gerando apreciações de longo prazo", conclui. Em 2007, o índice Mei Moses valorizou cerca de 20%. Este valor compara com a subida anual de 5,5% registada pelo S&P 500. Nos últimos cinco e dez anos, a arte valorizou, respectivamente 16,2% e 10,3%, e superou os ganhos da acções: 12,7% e 5,9%, de acordo com dados da artasanasset.com. A arte teve ainda um melhor desempenho que as obrigações durante esses períodos.


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