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Ganhe com os gurus da bolsa
Investir na bolsa não está fácil. Até o guru dos gurus perdeu dinheiro em 2008. Warren Buffett, o "Oráculo de Omaha", como é conhecido em referência à sua terra natal, perdeu 9,6% no ano passado. Em 44 anos, só tinha perdido num...
24 de Julho de 2009 às 10:00
São sete os melhores investidores de sempre e as suas estratégias renderam mais de 12% por ano na última década. Saiba como eles conseguem.
Investir na bolsa não está fácil. Até o guru dos gurus perdeu dinheiro em 2008. Warren Buffett, o "Oráculo de Omaha", como é conhecido em referência à sua terra natal, perdeu 9,6% no ano passado. Em 44 anos, só tinha perdido num ano.
Os ensinamentos dos gurus são importantes, mas não devem ser seguidos de olhos fechados. Kenneth Fisher, filho do guru Philip Fisher, um dos mentores de Warren Buffett, explica: "Ao longo da minha carreira, as pessoas têm-me perguntado por que não faço as coisas de forma mais parecida com a do meu pai ou por que não faço as coisas mais como Buffett. A resposta é simples. Eu sou eu, não eles."
Embora o legado dos gurus seja importante, os seus seguidores devem incorporar o conhecimento e não mimetizá-lo. "Tenho de usar as minhas próprias vantagens comparativas.
Não sou tão perspicaz como o meu pai a avaliar pessoas e não sou o génio que Buffett é", conclui Fisher na introdução que escreveu para o livro "Warren Buffett e as Estratégias de Um Grande Investidor".
O Negócios investigou as estratégias dos gurus que mais renderam nos últimos dez anos. Para isso, usou a base de dados de desempenho da Associação Americana de Investidores Individuais, que segue os modelos dos grandes investidores desde o início de 1998. Embora a base de dados inclua cerca de 50 estratégias, escolheram-se as sete que mais acumularam - o que deixou de fora nomes conhecidos como Peter Lynch, Philip Fisher e David Dreman.
Conheça os gurus, as suas estratégias, quanto renderam (segundo a AAII) e os livros mais marcantes. À excepção das obras sobre Warren Buffett, que podem ser adquiridas em Portugal, os preços dos livros são da Amazon francesa (amazon.fr). Depois vire a página e conheça 14 acções que os gurus poderiam comprar hoje.
Não é preciso analisar uma empresa ao pormenor para se perceber se vale a pena comprar as suas acções, diz Martin Zweig em "Winning On Wall Street". |
Olhar para o futuro
Rendibilidade anual 25,91%
Muitos poderão ligar o nome Martin Zweig ao apartamento mais caro do mundo. A família Zweig colocou à venda, há um par de anos, a sua casa no topo do hotel Pierre, na Quinta Avenida, em Manhattan, por 50 milhões de euros. Porém, se não fosse a sua capacidade para escolher acções, Martin Zweig não teria essa habitação para vender.
A bolsa levou Zweig a escolher um curso na área económica, que acabou por culminar num doutoramento em Finanças na Universidade do Michigan. Só depois disso, na década de 1970, é que entrou no mercado. Começou por publicar relatórios de previsão, mas a sua popularidade só chegou quando escreveu um conjunto de artigos certeiros na revista "Barron's". Seguiu-se a presença assídua na televisão, numa das quais previu o "crash" de 1987, e, finalmente, a criação de uma gestora de fundos, que acabou por vender em 2005, quando passou a dedicar-se ao mundo académico.
No seu livro "Martin Zweig's Winning on Wall Street" (14,34€), o guru diz que não é preciso estudar uma empresa ao pormenor para saber se vale a pena comprá-la, o que é uma heresia para a maioria dos grandes investidores.
Warren Buffett procura negócios que compreende, com um bom perfil económico e administradores de confiança. |
Guru dos gurus
Rendibilidade anual 12,33%
Buffett é a definição de guru da bolsa. A sociedade de investimento a que preside acumulou um ganho de 362.319% nos últimos 44 anos, o equivalente a 20,3% por ano. A estratégia é uma das mais estáveis. Aliás, Buffett defende que o prazo ideal para deter acções é para sempre.
Embora seja o discípulo mais conhecido de Benjamin Graham, Warren Buffett tem incorporado outros modelos de avaliação e selecção de acções. Quando lhe perguntam que tipo de empresas comprará no futuro, responde que procura negócios que compreende, com um bom perfil económico (por exemplo, monopolista) e conduzidos por administradores de confiança.
O interesse dos portugueses em Warren Buffett é óbvio: já há cinco livros editados em Portugal sobre o guru. Para os mais interessados na sua estratégia, "Warren Buffett e as Estratégias de Um Grande Investidor" (20€), de Robert G. Hagstrom, é provavelmente a melhor compra. Se quiser a versão fácil, opte pelo "O Tao de Warren Buffett" (12,6€): 125 ideias deduzidas de citações do super-investidor. Mary Buffett, antiga nora de Warren Buffett, é um dos autores.
Porém, o único livro que teve a participação de Buffett foi o recente "Efeito Bola de Neve - A Biografia de Warren Buffett, o Maior Investidor do Mundo" (38€). Como é uma biografia, não conte descobrir segredos sobre a sua estratégia de investimento.
Com a estratégia que apelidou de CAN SLIM, William O'Neil garante que é possível descobrir o próximo Google ou Apple. |
Seguir as letras
Rendibilidade anual 26,41%
Há muitos anos que William O'Neil actua nos mercados financeiros. Três anos depois de terminar o curso em Gestão de Empresas, em 1955, O'Neil tornou-se corretor em Wall Street. Graças ao seu modelo de selecção de acções, ascendeu ao pódio do melhor corretor da firma onde trabalhava, a Hayden, Stone & Co. Em 1963, funda a sua própria empresa, a William O'Neil & Co., e, aos 30 anos, é o corretor mais novo na bolsa de Nova Iorque.
A sua estratégia de investimento evolui para o que é agora o CAN SLIM, um conjunto de regras para seleccionar acções. É esse método, em que cada letra do acrónimo corresponde a uma variável a controlar, que está na base do lançamento, em 1983, do jornal "Investor's Business Daily". A quarta edição do seu livro, "How to Make Money in Stocks: A Winning System in Good Times and Bad" (12,02€), chegou recentemente às livrarias, incluindo uma análise à crise de 2008-09. "É verdade que o mercado está a recuperar de uma queda histórica, mas a história mostra-nos que há sempre inovações que produzem grandes empresas e grandes oportunidades para os investidores", nota O'Neil. "O sistema de investimento CAN SLIM mostra como descobrir o próximo Google ou Apple", completa.
Se o sistema continuar a render a sua taxa de longo prazo, 26,41%, segundo a AAII, então 5.000 euros transformam-se em um milhão de euros em pouco mais de 21 anos.
Quando a grande massa de investidores foge do mercado, John Neff entra. Fez bons negócios com as petrolíferas nos anos 80. |
Investidor no contrário
Rendibilidade anual 17,98%
Ao leme do Windsor, um dos maiores fundos norte-americanos, John Neff tornou-se num dos mais conhecidos gestores de activos das últimas quatro décadas. Quando o investidor se reformou da sociedade gestora Vanguard, em 1995, o fundo Windsor tinha rendido 13,7% por ano nos 31 anos em que o conduziu pelos mercados accionistas da América do Norte.
Neff é um investidor no contrário: muitas vezes aposta no sentido oposto das massas de investidores. Ele explica no seu livro "John Neff on Investing" (19,26€) que os mercados são repetitivos. Assim como muitas empresas adicionaram ".com" às suas designações para atrair os investidores que procuravam novas tecnologias no final da década passada, foram várias as firmas norte-americanas que acrescentaram o sufixo "tronics" na década de 1950, captando a atenção dos investidores que estão sedentos da explosão do mercado da electrónica. John Neff prefere deixar passar as bolhas tecnológicas, porque, invariavelmente, rebentam. O investidor não receia a reduzida diversificação da carteira.
Quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo entrou em colapso em 1986, levando o preço do barril a cair para metade, John Neff aplicou um quarto do fundo em petrolíferas, quando toda a gente estava a fugir do sector. "O investimento no contrário exige alguma teimosia", explicou.
Joseph Piotroski
Academia e bolsa
Rendibilidade anual 23,87%
No meio de tantos grandes investidores é, no mínimo, curioso encontrar um investigador académico. Joseph Piotroski, um professor do departamento de Contabilidade da Universidade de Chicago, nunca trabalhou no sector da gestão de activos, não escreveu qualquer livro sobre investimentos e nem dá entrevistas. Porém, a estratégia que publicou no ano 2000 é cada vez mais conhecida pelos investidores de todo o mundo.
A relação entre a cotação e o valor contabilístico de uma empresa, adicionada de nove testes são o "segredo" de Joseph Piotroski. |
Desde há muito que os académicos dizem que o rácio preço-valor contabilístico é o melhor para escolher acções de empresas. Também sabiam que uma parte dessas empresas está em dificuldades. No universo das empresas de preço-valor contabilístico baixo, Piotroski decidiu separar as boas das más. Para isso, construiu um conjunto de nove testes e os investidores só devem comprar as acções que passam nestes exames. A investigação foi publicada no "Journal of Accounting Research" ("Value Investing: The Use of Historical Financial Statement Information to Separate Winners from Losers").
Os resultados impressionaram as comunidades das universidades e das bolsas. Aliás, basta referir que, em 2008, a estratégia de Piotroski foi a única, entre meia centena, que teve um desempenho positivo, segundo a AAII. Ganhou mais de 30%.
No ano passado, um par de investigadores do Instituto Superior de Economia e Gestão aplicou o modelo de Piotroski às acções das bolsas Euronext (Lisboa, Paris, Bruxelas e Amesterdão) e alcançaram resultados ainda melhores.
O guru de Warren Buffett perdeu uma fortuna em 1929, mas acabou por recuperá-la. "The Intelligent Investor" é uma obra de referência. |
O pai do investimento em valor
Rendibilidade anual 18,71%
Warren Buffett pode ser o segundo homem mais rico do mundo, mas deve-o, em grande parte, a Benjamin Graham, seu professor e mentor. "As ideias de base do investimento consistem em considerar as acções como negócios, utilizar as flutuações do mercado em nosso proveito e procurar uma margem de segurança. Foi isso que Ben Graham nos ensinou. Daqui a 100 anos, estas continuarão a ser as pedras basilares do investimento", disse Buffett, num discurso em 1994.
Graham começou como estafeta numa empresa de corretagem, subiu a sócio, saiu para formar a sua própria empresa (a Graham-Newman, que deu trabalho a Warren Buffett), leccionou na Universidade de Colúmbia, ficou arruinado no "crash" de 1929 e acabou por recuperar o dinheiro. Pelo meio, escreveu dois livros: "Security Analysis", em parceria com o colega universitário David Dodd, e "The Intelligent Investor" (15,19€), escrito pela primeira vez em 1947. "The Intelligent Investor" foi actualizado várias vezes, a última das quais pelo jornalista financeiro Jason Zweig, que o colocou à luz dos acontecimentos entre 1972 e 2003. Graham dizia ter duas regras supremas: a primeira é não perder e a segunda é não esquecer a primeira regra.
Para James O'Shaughnessy, os bons investimentos não estão nas empresas que mais crescem, mas em pequenas e médias sociedades estáveis. |
Visão de longo prazo
Rendibilidade anual 18,30%
A maioria dos académicos defende que é muito difícil bater o mercado, mas James O'Shaughnessy quis provar o contrário. O investidor, que tem actualmente 48 anos, pegou na base de dados Compustat, da Standard & Poor's, composta por informação financeira de mais de dez mil acções desde a década de 1950, e testou sucessivamente várias estratégias usando maioritariamente rácios financeiros. O'Shaughnessy publicou as suas conclusões no livro "What Works on Wall Street" (23,56€), que mais tarde foi actualizado no "Predicting the Markets of Tomorrow: A Contrarian Investment Strategy for the Next Twenty Years". Além de dar a conhecer a estratégia que teria rendido mais de 17% por ano, o dono da gestora de activos O'Shaughnessy Asset Management fez previsões para os mercados para as duas décadas seguintes.
O'Shaughnessy acredita que os melhores investimentos não estão nas empresas que mais crescem, mas num portefólio constituído por alguns sociedades estáveis de pequena e média dimensão.
Ele enumera um conjunto de indicadores que se traduzem na busca de empresas com fluxos de caixa constantes e dividendos generosos.
Nota: as rendibilidades anuais atribuídas a cada um dos "gurus" é relativa ao período decorrido entre 1998 e a actualidade.