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Especiais de corrida
Os gestores de fundos precisavam de mais liberdade para investir e os reguladores europeus satisfizeram o pedido. Foi há pouco mais de cinco anos que os primeiros fundos especiais de investimento foram criados. Os novos produtos...
27 de Maio de 2009 às 10:45
Os fundos especiais de investimento prometem muito mas rendem pouco
Os gestores de fundos precisavam de mais liberdade para investir e os reguladores europeus satisfizeram o pedido. Foi há pouco mais de cinco anos que os primeiros fundos especiais de investimento foram criados. Os novos produtos, "que se caracterizam pelo facto de permitirem uma combinação diferenciada das diversas regras, técnicas e limites aplicáveis aos fundos", como se lia na introdução da legislação, foram um sucesso - pelo menos comercial. Hoje, os fundos especiais de investimento absorvem mais de quatro mil milhões de euros das poupanças dos portugueses, o que representa quase um terço das aplicações em fundos mobiliários.
O Negócios foi pedir contas aos fundos que já ultrapassaram os prazos mínimos recomendados para o investimento. Os indicadores citado neste trabalho são referentes ao dia 15 de Maio.
Verifique quem cumpriu as promessas e quem as falhou
Barclays Gestão Dinâmica 100
Objectivo: Euribor a 1 ano + 1%
Prazo mínimo recomendado: 1 ano
Rendibilidade 1 ano: -6,08%
Este fundo e o seguinte investem em fundos de tesouraria e em fundos de investimento alternativo, embora este seja menos agressivo. Apesar de apontar para uma rendibilidade anual equivalente à Euribor a 1 ano mais 1%, o Barclays Gestão Dinâmica 100 perdeu mais de 6% no último ano. "Acreditamos que este tipo de estratégias vão continuar a ser uma importante fonte de rendimentos e que a consolidação da indústria de 'hedge funds' vai permitir melhorar as 'performances' dos restantes 'players' deste mercado", indicam os responsáveis do Barclays.
Barclays Gestão Dinâmica 300
Objectivo: Euribor a 1 ano + 3%
Prazo mínimo recomendado: 3 ano
Rendibilidade anual 3 anos: -0,93%
Tal como o fundo anterior, o Barclays Gestão Dinâmica 300 tinha, no início de Maio, quase um terço do seu capital num único fundo gerido pela Morgan Stanley que faz apostas no mercado cambial. Nos últimos três anos, o prazo mínimo recomendado pela sociedade gestora, este produto perdeu quase 1% por ano, longe do objectivo de Euribor a 1 ano acrescida de três pontos percentuais.
BBVA Multifundo Alternativo
Objectivo: Euribor a 3 meses + 1,5%
Rendibilidade anual 5 anos: 2,26%
Acabado de celebrar cinco anos, este é um dos poucos fundos especiais de investimento que apresenta um desempenho positivo, apesar de ter ficado aquém do objectivo de ultrapassar a Euribor a três meses em 1,5% por ano. O fundo tem outra particularidade: os gestores só recebem comissões se conseguirem apresentar ganhos. Se isso acontecer, 15% dessa rendibilidade é dirigida para os cofres da sociedade gestora até ao limite de 1%. O fundo CAAM Dynarbitrage Volatility (ver texto ao lado) é um dos que povoavam o portefólio do BBVA Multifundo Alternativo no início de Maio.
Millennium Monetário Semestral
Objectivo: 80% × Euribor a 6 meses + 0,15%
Prazo mínimo recomendado: 1 semestre
Rendibilidade 1 ano: 3,49%
Este fundo e os dois seguintes aplicam o dinheiro em depósitos a prazo. O objectivo "é precisamente negociar com os bancos melhores taxas, tirando partido do alto volume de recursos que pretende aplicar. Este facto permite entregar aos pequenos aforradores remunerações correspondentes a taxas que dificilmente obteriam junto dos seus bancos através de uma negociação individual", explica ao Negócios a sociedade gestora do Millennium bcp.
Millennium Extra Tesouraria
Objectivo: 3,5%
Prazo mínimo recomendado: 1 ano
Rendibilidade 1 ano: 4,43%
No início de Maio, a composição dos três fundos especiais de investimento em tesouraria do Millennium bcp aplicavam o dinheiro em exclusivo em depósitos do mesmo banco. O Millennium Extra Tesouraria tinha taxas que chegavam aos 5,839%.
Millennium Extra Tesouraria II
Objectivo: 3,7%
Prazo mínimo recomendado: 1 ano
Rendibilidade 1 ano: 4,23%
Embora a rendibilidade deste e dos dois fundos anteriores seja muito atractiva, já não valem a pena: quem for subscrevê-los paga agora uma comissão de subscrição de 2%. A única opção é esperar que o Millennium bcp lance um novo fundo especial de investimento em depósitos, porque, tradicionalmente, nas primeiras semanas não há lugar a cobrança.
Santander Dinâmico 100
Objectivo: 80% × Euribor a 1 ano + 1%
Prazo mínimo recomendado: 2 anos
Rendibilidade anual 2 anos: -1,75%
Juntamente com o produto seguinte, o Santander Dinâmico 100 é o fundo especial de investimento mais antigo em Portugal. Porém, isso não significa que tenha atingido a meta a que se propôs. "Os fundos dinâmicos, apesar de não terem tido um comportamento em linha com o inicialmente esperado, têm tido um comportamento razoável para as condições de mercado verificadas no período e bastante superiores aos fundos de gama idêntica geridos a nível internacional", dizem os responsáveis da Santander Gestão de Activos.
Santander Dinâmico 200
Objectivo: 80% × Euribor a 1 ano + 2%
Prazo mínimo recomendado: 3 anos
Rendibilidade anual 3 anos: -2,07%
Este produto, bem como o anterior, investe preferencialmente em fundos de fundos geridos a nível internacional no grupo Santander. No início de Maio, o Santander Dinâmico 200 tinha apenas oito fundos na carteira, o que não seria permitido pela entidade supervisora se não fosse um fundo especial de investimento. Se tivesse atingido o seu objectivo, o Santander Dinâmico 300 teria ganho mais de 4% por ano nos últimos três anos, em vez de ter perdido 2,07%.
Alie-se à volatilidade
Embora seja tradição assumir a volatilidade do mercado como um factor de risco, os gestores da Crédit Agricole Asset Management conseguiram transformá-la em algo positivo. Há oito anos que a equipa da sociedade gestora francesa investe em volatilidade de activos financeiros através de fundos especiais de investimento. O processo pode ser complicado para os investidores-padrão: "Pode investir-se em volatilidade através de um largo número de instrumentos líquidos disponíveis nos mercados de acções, obrigações e câmbios. Ao comprar e vender esses instrumentos e usando derivados para neutralizar os riscos inerentes, é possível extrair a componente de volatilidade", explica uma apresentação da equipa liderada por Gilbert Keskin e Eric Hermitte. Os gestores podem, por exemplo, comprar um índice de acções alemãs e vender um índice de acções francesas, se acreditarem que as acções alemãs vão recuperar o desempenho que tiveram abaixo das acções francesas. Podem repetir a estratégia usando duas acções do mesmo sector. Podem fazê-lo, também, com obrigações do mesmo emitente que tenham prazos diferentes.
Apesar de ser complicado, a CAAM tem tido muito sucesso: enquanto os fundos disponíveis aos investidores perderam, em média, 20% no último ano, o CAAM Volatility World Equities ganhou 39,11%, a melhor marca entre mais de 2.000 produtos. Este é o mais arriscado dos três fundos de volatilidade distribuídos em Portugal e, por isso, os gestores aconselham um prazo mínimo de investimento de três anos. Essa também é a duração recomendada do CAAM Volatility Euro Equities, que, ao contrário do anterior, que se foca nos mercados accionistas globais, apenas aposta nas acções da Zona Euro. O CAAM Dynarbitrage Volatility, que pretende ganhar anualmente o equivalente às taxas de curtíssimo prazo mais 2%, é o indicado para os investidores mais avessos ao risco. Afinal, os fundos de volatilidade também são voláteis.