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Corrida à informação
Vinte minutos foram suficientes para António Arriaga, representante para as relações com o mercado da Papelaria Fernandes, responder às dúvidas que um "pequeno investidor" lhe enviou a meio de uma sessão de bolsa tranquila de Julho. Além de...
05 de Agosto de 2009 às 11:19
Os representantes para as relações com o mercado são fundamentais para orientar os investidores. Mas, entre as empresas cotadas em Lisboa, nem todos estão a fazer o seu trabalho. O Negócios enviou duas perguntas em simultâneo para os "investor relations officers" para testar os tempos de resposta. Conheça os resultados.
Vinte minutos foram suficientes para António Arriaga, representante para as relações com o mercado da Papelaria Fernandes, responder às dúvidas que um "pequeno investidor" lhe enviou a meio de uma sessão de bolsa tranquila de Julho. Além de responder às perguntas, Arriaga teve o cuidado de alertar para o facto de as acções da Papelaria Fernandes estarem suspensas na sequência do processo de insolvência da sociedade.
O que António Arriaga não sabia era que o "pequeno investidor" era um jornalista do Negócios que investigava a capacidade de resposta dos 55 representantes para as relações com o mercado das firmas com acções listadas na Euronext alfacinha. Apesar de trabalhar numa das mais pequenas sociedades cotadas, Arriaga foi o que melhor mostrou a velocidade de resposta requerida aos representante para as relações com o mercado.
Todas as cotadas têm de ter um representante para as relações com o mercado - ou, na terminologia inglesa, "investor relations officer". A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a entidade reguladora e supervisora do mercado de capitais nacional, explica que o representante é obrigatório, mas recomenda a criação de um gabinete de apoio ao investidor.
"De acordo com esta recomendação, as sociedades devem assegurar a existência de um permanente contacto com o mercado, respeitando o princípio da igualdade dos accionistas e prevenindo as assimetrias no acesso à informação por parte dos investidores", esclarece fonte oficial do organismo.
Contudo, não há evidência que as empresas estejam empenhadas em ajudar os pequenos investidores: das 55 mensagens de correio electrónico que o "pequeno investidor" enviou aos representantes para as relações com o mercado (cujos endereços constam da lista oficial publicada pela CMVM em http://tinyurl.com/representantes), 18 não tiveram resposta. Além disso, as respostas que chegaram demoraram, em média, 30 horas, mais do que é desejável.
"O representante para as relações com o mercado deve mostrar-se acessível para o contacto e assegurar disponibilidade e prontidão na prestação de esclarecimentos ao mercado, em especial durante o horário da sessão de bolsa", avisa a CMVM. As duas perguntas enviadas foram as mesmas para os 55 representantes: divisão geográfica do volume de negócios e estrutura accionista.
Grandes cotadas não respondem
Meia hora depois de António Arriaga responder, foi a vez de Maria João Carrapato, a directora do departamento de relações com investidores da Zon Multimédia, que conta com mais dois colaboradores na sua equipa. Alguns segundos depois, José Freire, representante da Impresa, esclareceu o investidor.
"Há uma grande concentração de pedidos [de informação] na altura das contas", contou Freire, posteriormente, ao Negócios. "Os pequenos investidores entram em contacto, principalmente por 'e-mail'", indica o representante da Impresa, que acumula ainda a responsabilidade pelo planeamento estratégico da firma. O contacto telefónico ou a marcação de reuniões é mais utilizado pelos investidores institucionais.
Algumas grandes cotadas estão entre o terço de inquiridas das quais o investidor não obteve resposta. Na caixa de correio electrónico não chegou qualquer mensagem do Banco BPI, da Cimpor e da Jerónimo Martins - três membros do PSI-20, o índice de referência do mercado accionista nacional. Contactados para aferir a razão para o investidor não ter recebido uma resposta, apenas o Banco BPI e a Jerónimo Martins deram um esclarecimento.
Fonte oficial do Banco BPI explicou que, embora seja "perfeitamente natural" a utilização do endereço que figura na CMVM, o "e-mail" investor.relations@bancobpi.pt está "especialmente vocacionado para o diálogo corrente com aqueles dois públicos", investidores e analistas.
"Infelizmente, por razões que não conseguimos explicar, a mensagem não foi recebida pelo seu destinatário, o que lamentamos", diz a fonte do BPI, que acrescenta que, no sítio na Internet, em http://www.ir.bpi.pt/, os investidores podem encontrar ainda todos os números de telefone directos de qualquer membro da equipa de relações com investidores.
O departamento de comunicação da Jerónimo Martins explicou que uma das três pessoas que trabalham no gabinete de apoio a investidores enviou uma resposta ao "pequeno investidor" em 56 minutos. Contudo, tal resposta nunca chegou à caixa de correio electrónico do Gmail, um serviço do Google, criada especialmente para este artigo. Cláudia Falcão, a representante da Jerónimo Martins, tem recebido sucessivos prémios pelo seu trabalho: foi nomeada a melhor representante para as relações com o mercado entre as pequenas e médias empresas europeias pela "IR Magazine", a melhor representante europeia no sector do retalho e alimentação pela revista "Institutional Investor" e a melhor "investor relations officer" em Portugal pela Deloitte. A maioria dos prémios são o resultado da votação entre investidores institucionais e analistas, o que exclui os pequenos investidores.
Sinónimo de bom desempenho bolsista
O primeiro gabinete de relações com investidores foi criado em 1952 pela General Electric, mas só chegou a Portugal muito mais tarde. Em 1999, na primeira vez que a CMVM publicou o resultado de um questionário às sociedades portuguesas, 75% das sociedades do BVL 30, o índice de referência da altura, disseram que tinham um gabinete de apoio aos investidores. No último questionário, o grau de cumprimento da recomendação já era de 87,2% entre as cotadas na bolsa portuguesa. Porém, a maioria dos representantes não dá uma grande ajuda aos pequenos investidores, porque as respostas são quase sempre a mesma: "Veja no nosso sítio na Internet".
Um apoio capaz aos investidores é meio caminho andado para as acções se valorizarem. Uma investigação dos professores Michael J. Brennan e Claudia Tamarowski, da London Business School e da Università Bocconi, respectivamente, demonstrou que as actividades do departamento de relações com investidores tem um impacto positivo no número de analistas a acompanhar o título e no volume de negócios bolsistas, o que, por sua vez, conduz ao aumento dos preços. "Em suma, as firmas podem reduzir o seu custo de capital e aumentar o preço das acções através de actividades de relações com investidores mais eficazes, o que reduz o custo da informação para o mercado e para os analistas de investimento em particular", escreveram no trabalho publicado, em 2005, no "Journal of Applied Corporate Finance". Outras investigações académicas confirmam os resultados.
Uma resposta eficaz é, por exemplo, usar a mesma língua do investidor, o que não aconteceu nas respostas enviadas por três companhias estrangeiras cotadas em Lisboa (apesar de as perguntas estarem em português). Os representantes da luxemburguesa Espírito Santo Financial Group e das espanholas Europac e Sacyr Vallehermoso escreveram numa língua estrangeira (inglês e castelhano). "A informação deve ser prestada em português", avisa fonte oficial da CMVM. Também é eficaz que o endereço de "e-mail" exista, o que não aconteceu no caso da EDP Renováveis. Os responsáveis pela informação de contacto no sítio da CMVM são as empresas emitentes, explica a entidade reguladora.
Respostas ao cronómetro
Um terço dos pedidos de ajuda enviados por um "pequeno investidor" aos representantes para as relações com o mercado não teve resposta. Saiba quem respondeu quando.
As duas questões que foram enviadas para os responsáveis pelas relações com investidores:
1. Qual o volume de negócios por país no primeiro trimestre de 2009 (ou em 2008, na falta de segmentação trimestral)?
2. Quais são os accionistas de referência e respectivas participações?
Vinte minutos foram suficientes para António Arriaga, representante para as relações com o mercado da Papelaria Fernandes, responder às dúvidas que um "pequeno investidor" lhe enviou a meio de uma sessão de bolsa tranquila de Julho. Além de responder às perguntas, Arriaga teve o cuidado de alertar para o facto de as acções da Papelaria Fernandes estarem suspensas na sequência do processo de insolvência da sociedade.
O que António Arriaga não sabia era que o "pequeno investidor" era um jornalista do Negócios que investigava a capacidade de resposta dos 55 representantes para as relações com o mercado das firmas com acções listadas na Euronext alfacinha. Apesar de trabalhar numa das mais pequenas sociedades cotadas, Arriaga foi o que melhor mostrou a velocidade de resposta requerida aos representante para as relações com o mercado.
"De acordo com esta recomendação, as sociedades devem assegurar a existência de um permanente contacto com o mercado, respeitando o princípio da igualdade dos accionistas e prevenindo as assimetrias no acesso à informação por parte dos investidores", esclarece fonte oficial do organismo.
Contudo, não há evidência que as empresas estejam empenhadas em ajudar os pequenos investidores: das 55 mensagens de correio electrónico que o "pequeno investidor" enviou aos representantes para as relações com o mercado (cujos endereços constam da lista oficial publicada pela CMVM em http://tinyurl.com/representantes), 18 não tiveram resposta. Além disso, as respostas que chegaram demoraram, em média, 30 horas, mais do que é desejável.
"O representante para as relações com o mercado deve mostrar-se acessível para o contacto e assegurar disponibilidade e prontidão na prestação de esclarecimentos ao mercado, em especial durante o horário da sessão de bolsa", avisa a CMVM. As duas perguntas enviadas foram as mesmas para os 55 representantes: divisão geográfica do volume de negócios e estrutura accionista.
Grandes cotadas não respondem
Meia hora depois de António Arriaga responder, foi a vez de Maria João Carrapato, a directora do departamento de relações com investidores da Zon Multimédia, que conta com mais dois colaboradores na sua equipa. Alguns segundos depois, José Freire, representante da Impresa, esclareceu o investidor.
"Há uma grande concentração de pedidos [de informação] na altura das contas", contou Freire, posteriormente, ao Negócios. "Os pequenos investidores entram em contacto, principalmente por 'e-mail'", indica o representante da Impresa, que acumula ainda a responsabilidade pelo planeamento estratégico da firma. O contacto telefónico ou a marcação de reuniões é mais utilizado pelos investidores institucionais.
Algumas grandes cotadas estão entre o terço de inquiridas das quais o investidor não obteve resposta. Na caixa de correio electrónico não chegou qualquer mensagem do Banco BPI, da Cimpor e da Jerónimo Martins - três membros do PSI-20, o índice de referência do mercado accionista nacional. Contactados para aferir a razão para o investidor não ter recebido uma resposta, apenas o Banco BPI e a Jerónimo Martins deram um esclarecimento.
Fonte oficial do Banco BPI explicou que, embora seja "perfeitamente natural" a utilização do endereço que figura na CMVM, o "e-mail" investor.relations@bancobpi.pt está "especialmente vocacionado para o diálogo corrente com aqueles dois públicos", investidores e analistas.
"Infelizmente, por razões que não conseguimos explicar, a mensagem não foi recebida pelo seu destinatário, o que lamentamos", diz a fonte do BPI, que acrescenta que, no sítio na Internet, em http://www.ir.bpi.pt/, os investidores podem encontrar ainda todos os números de telefone directos de qualquer membro da equipa de relações com investidores.
O departamento de comunicação da Jerónimo Martins explicou que uma das três pessoas que trabalham no gabinete de apoio a investidores enviou uma resposta ao "pequeno investidor" em 56 minutos. Contudo, tal resposta nunca chegou à caixa de correio electrónico do Gmail, um serviço do Google, criada especialmente para este artigo. Cláudia Falcão, a representante da Jerónimo Martins, tem recebido sucessivos prémios pelo seu trabalho: foi nomeada a melhor representante para as relações com o mercado entre as pequenas e médias empresas europeias pela "IR Magazine", a melhor representante europeia no sector do retalho e alimentação pela revista "Institutional Investor" e a melhor "investor relations officer" em Portugal pela Deloitte. A maioria dos prémios são o resultado da votação entre investidores institucionais e analistas, o que exclui os pequenos investidores.
Sinónimo de bom desempenho bolsista
O primeiro gabinete de relações com investidores foi criado em 1952 pela General Electric, mas só chegou a Portugal muito mais tarde. Em 1999, na primeira vez que a CMVM publicou o resultado de um questionário às sociedades portuguesas, 75% das sociedades do BVL 30, o índice de referência da altura, disseram que tinham um gabinete de apoio aos investidores. No último questionário, o grau de cumprimento da recomendação já era de 87,2% entre as cotadas na bolsa portuguesa. Porém, a maioria dos representantes não dá uma grande ajuda aos pequenos investidores, porque as respostas são quase sempre a mesma: "Veja no nosso sítio na Internet".
Um apoio capaz aos investidores é meio caminho andado para as acções se valorizarem. Uma investigação dos professores Michael J. Brennan e Claudia Tamarowski, da London Business School e da Università Bocconi, respectivamente, demonstrou que as actividades do departamento de relações com investidores tem um impacto positivo no número de analistas a acompanhar o título e no volume de negócios bolsistas, o que, por sua vez, conduz ao aumento dos preços. "Em suma, as firmas podem reduzir o seu custo de capital e aumentar o preço das acções através de actividades de relações com investidores mais eficazes, o que reduz o custo da informação para o mercado e para os analistas de investimento em particular", escreveram no trabalho publicado, em 2005, no "Journal of Applied Corporate Finance". Outras investigações académicas confirmam os resultados.
Uma resposta eficaz é, por exemplo, usar a mesma língua do investidor, o que não aconteceu nas respostas enviadas por três companhias estrangeiras cotadas em Lisboa (apesar de as perguntas estarem em português). Os representantes da luxemburguesa Espírito Santo Financial Group e das espanholas Europac e Sacyr Vallehermoso escreveram numa língua estrangeira (inglês e castelhano). "A informação deve ser prestada em português", avisa fonte oficial da CMVM. Também é eficaz que o endereço de "e-mail" exista, o que não aconteceu no caso da EDP Renováveis. Os responsáveis pela informação de contacto no sítio da CMVM são as empresas emitentes, explica a entidade reguladora.
Respostas ao cronómetro
Um terço dos pedidos de ajuda enviados por um "pequeno investidor" aos representantes para as relações com o mercado não teve resposta. Saiba quem respondeu quando.
As duas questões que foram enviadas para os responsáveis pelas relações com investidores:
1. Qual o volume de negócios por país no primeiro trimestre de 2009 (ou em 2008, na falta de segmentação trimestral)?
2. Quais são os accionistas de referência e respectivas participações?