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Contorne a crise portuguesa
Os investidores portugueses dificilmente conseguirão fugir da recessão mundial que deverá contrair a economia mundial em 2,9%, segundo o Banco Mundial. Porém, como Portugal está entre os mais afectados pela crise - o Fundo Monetário...
07 de Julho de 2009 às 11:10
A economia nacional é uma das principais vítimas mundiais da crise financeira, mas isso não quer dizer que não deve investir em empresas lusas. Procure as que facturam fora das fronteiras portuguesas.
Os investidores portugueses dificilmente conseguirão fugir da recessão mundial que deverá contrair a economia mundial em 2,9%, segundo o Banco Mundial. Porém, como Portugal está entre os mais afectados pela crise - o Fundo Monetário Internacional estima uma redução real do produto interno bruto de 4,1% - é possível contorná-la preferindo as firmas menos expostas à economia nacional. Não precisa de vender todas as suas acções lusas para a sua carteira deixar de ser arrastada pela retrocesso económico do país: basta que escolha as companhias que mais operam lá fora.
Para começar, é preciso ponderar se as empresas que apenas facturam em Portugal devem continuar no seu portefólio. A Brisa, a REN - Redes Energéticas Nacionais, a Sonaecom e a Zon Multimédia são claramente as cotadas portuguesas menos abertas à globalização, uma vez que pouco ou nada ganham no exterior das fronteiras portuguesas.
Transnacionais estrangeiras
Da última vez que os especialistas do grupo de estudos de comércio e de desenvolvimento das Nações Unidas procuraram as firmas mais transnacionais, a finlandesa Nokia estava no topo da lista: apenas nove em cada 1.000 telemóveis produzidos pelo grupo eram vendidos na sua terra natal.
A China é o maior mercado da Nokia, absorvendo quase 12% das vendas, sendo seguida pela Índia, Reino Unido, Alemanha e Rússia. Depois da Nokia, as empresas mais multinacionais do mundo são duas farmacêuticas suíças, a Novartis e a Roche. Ambas vendem mais de um terço da produção para os mercados norte-americanos.
Cinco acções que não dependem só dos humores de portugal
Um volume de negócios obtido à custa de um só mercado significa uma exposição excessiva às oscilações da conjuntura. Entre as empresas cotadas em Lisboa, conheça as cinco que estão menos expostas aos humores da economia portuguesa e quais as fatias da facturação que são originadas noutros territórios.
1 Portucel - Papel para todo o mundo
Preço/lucros: 10,12x
Taxa de dividendos: 6,08%
Peso das exportações: 90%
Principais mercados: Europa, EUA
Actividade externa absorve 90% da produção da papeleira
Não há dúvida que a Portucel é a sociedade cotada portuguesa mais multinacional: a actividade externa, que chega quase aos mil milhões de euros, absorve 90% da produção do grupo papeleiro. É assim que a Portucel, que inclui a Soporcel, está entre os três maiores exportadores portugueses. Cerca de 3% das exportações portuguesas de bens são da responsabilidade da companhia liderada por Pedro Queiroz Pereira.
Actualmente, a Portucel é o maior produtor europeu de pasta branca de eucalipto e a administração do grupo prevê tornar-se também líder europeu nos papéis finos não revestidos, assim que a nova fábrica de Setúbal entrar em actividade, o que deverá ocorrer em Agosto.
Essa nova unidade juntar-se-á às três já existentes em Cacia, em Setúbal e na Figueira da Foz. Como toda a produção da Portucel está em território nacional e apenas um décimo do volume de negócios fica em Portugal, graças à rede comercial de uma dezena de escritórios distribuídos pela Europa e pelos EUA, o grupo precisa de transportar a produção para o estrangeiro. É por isso que um em cada dez contentores movimentados pelos portos nacionais são da responsabilidade da Portucel.
2 Sonae Indústria - Crescer no exterior
Preço/lucros: não aplicável
Taxa de dividendos: não aplicável
Peso do exterior na facturação: 90%
Principais mercados: Alemanha, França, Espanha
25 das 32 fábricas estão localizadas no estrangeiro
Ao contrário da Portucel, cuja produção é exclusivamente efectuada no território português, desde 1989 que a Sonae Indústria expande as suas unidades fabris internacionais.
Actualmente, 25 das 32 fábricas do grupo estão localizadas fora de Portugal, concretamente na Alemanha, França, Espanha, África do Sul, Brasil, Canadá, Reino Unido e Suíça. Apesar de crise financeira, que afectou gravemente o negócio da Sonae Indústria, esta política de internacionalização colocou o grupo na segunda posição dos maiores produtores de painéis à base de madeira. As unidades produtivas da empresa, que não é controlada pela Sonae SGPS (ao contrário da Sonaecom e da Sonae Distribuição), têm uma capacidade anual de 10 milhões de metros cúbicos de derivados de madeira, a maior parte na Europa Central.
3 EDP Renováveis - Em plena diversificação
Preço/lucros: 42,07x
Taxa de dividendos: não aplicável
Peso do exterior na facturação: 85%
Principais mercados: EUA, Espanha
Roménia e Brasil na agenda da renováveis
A EDP Renováveis, a quarta empresa mundial de energia eólica, não podia deixar de ser uma das principais multinacionais de origem portuguesa. O grupo, que pertence ao universo da EDP - Energias de Portugal, tem actualmente em actividade 140 unidades eólicas das quais 45 estão em território nacional. Assim, apenas 15% da facturação da EDP Renováveis tem origem em Portugal.
Os principais mercados da EDP Renováveis - Estados Unidos da América e Espanha - continuam a absorver a maior parte dos investimentos do grupo, mas a administração da sociedade, liderada por Ana Maria Fernandes, continua a apostar na diversificação. Os avanços mais recentes foram tomados na Roménia e no Brasil. Contudo, a Horizon Wind Energy, adquirida em 2007 ao banco de investimento Goldman Sachs, continua a ser a subsidiária que mais contribui para o volume de negócios da casa-mãe.
Embora seja uma empresa do grupo português EDP e esteja cotada em Lisboa, a EDP Renováveis é espanhola, já que tem sede em Oviedo, em Espanha.
4 Semapa - Atrás da Portucel
Preço/lucros: 6,84x
Taxa de dividendos: 4,44%
Peso do exterior na facturação: 76%
Principais mercados: Europa, EUA
África impede queda maior no volume de negócios
Graças à sua participação de quase 77% no capital da Portucel, a cotada portuguesa mais transnacional, a Semapa tornou-se também numa das sociedades mais abertas ao resto do mundo. Contudo, apesar de a Portucel representar cerca de 80% do volume de negócios da Semapa, a maioria do capital da Secil, que apenas realiza 37 por cento das vendas de cimento fora de Portugal, reduz-lhe a exposição internacional para 76 por cento. Porém, a Secil fornece-lhe uma posição em novos países: Tunísia, Angola, Cabo Verde e Líbano. Foram as operações em Angola, na Tunísia e no Líbano que permitiram que a queda do volume de negócios do primeiro trimestre não fosse além de 1,6%. "O volume de negócios global de cimento e clínquer [na Tunísia] ascendeu a 16,6 milhões de euros, o que representou um aumento de 16,9% face ao período homólogo de 2008", lê-se no relatório do primeiro trimestre de 2009 produzido pela administração liderada por Pedro Queiroz Pereira. Esse crescimento na Tunísia, que já é o segundo mercado da Secil, resultou do efeito conjunto do aumento de preços e das quantidades vendidas.
5 Cimpor - Em busca de mais mercados
Preço/lucros: 15,86x
Taxa de dividendos: 3,70%
Peso do exterior: 70%
Principais mercados: Brasil, Egipto, Espanha
Peso de Portugal em descida
Depois de já estar presente em Portugal, Espanha, Moçambique, Marrocos, Brasil, Tunísia, Egipto, África do Sul e Cabo Verde, a Cimpor avançou, a partir de 2007, para a Turquia, China, Peru e Índia, através de aquisições de cimenteiras locais. Graças a essas compras, a capacidade produtiva da Cimpor soma actualmente 25 milhões de toneladas por ano. Tendo em conta o mais acelerado crescimento dos mercados emergentes - Egipto, Brasil e África do Sul são os que mais crescem -, é provável que o peso actual das vendas portuguesas (cerca de 30%) desça substancialmente.
A Cimpor continua em busca de aquisições por todo o mundo, procurando subir na lista das dez maiores cimenteiras mundiais, liderada pela francesa Lafarge. Depois da construtora Teixeira Duarte, a Lafarge é a maior accionista da Cimpor com cerca de 17% do capital da cimenteira portuguesa.