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Para lucrar com ações, tire os fones dos ouvidos

Trabalhar num grande escritório sem divisórias, rodeado de pessoas que enfrentam pelo menos o mesmo stress que nós, não é fácil.

Ian Waldie/Getty Images
26 de Janeiro de 2020 às 11:00
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A política da Bloomberg segundo a qual ninguém se fecha no seu escritório particular tem as suas vantagens. Nunca se perde notícias e ideias que fluem pela redação com várias centenas de jornalistas. Mas o ruído é um problema. E isso é verdade tanto no sentido literal como figurativo. Mas como é que podemos distinguir sinal de ruído?

Há uma solução. O meu vizinho e colega próximo Cameron Crise, que escreve a coluna Macro Man, usa fones nos ouvidos para abafar o ruído sempre que está a escrever. Ao início é desagradável quando a pessoa que se senta ao teu lado está a bloquear cada palavra que dizes. Mas a estratégia de Cameron funciona. Agora, também uso fones quando estou a escrever.

Filtram o ruído, deixando apenas o sinal (como as alturas em que Cameron grita para o ecrã do computador enquanto Jerome Powell está a dar uma conferência de imprensa).

A redução do ruído também costuma ser uma ótima estratégia para os mercados. No ano passado, porém, teria feito sentido tirar os fones dos ouvidos e prestar atenção ao ruído. Qualquer pessoa com um computador poderoso e capacidade de manter os custos de negociação baixos pode ganhar dinheiro com esse método, descrito por Joseph Mezrich, estrategista da Instinet LLC. Comece com uma estratégia de reversão simples de "shortar" as ações com melhor desempenho no final de cada mês e comprar as ações com pior desempenho. O ganho é quase nulo a longo prazo. Depois, controle o desempenho dos diferentes fatores durante o mês e o desempenho dos diferentes setores - ambos melhoram os retornos. Como etapa final, exclua ações onde há baixa dispersão entre as previsões dos analistas, com o argumento de que os fundamentais dessas empresas são conhecidos e estão descontados. Se evitar ações que estejam a movimentar-se em linha com os seus setores ou fatores ou em resposta a notícias sobre os seus fundamentais, o mais provável é que o que resta seja puro "ruído". Ao que parece, apostar nessas ações no final de cada mês gera lucros de forma muito consistente.

Abafar tudo o resto para podermos identificar o que é puro ruído é muito mais fácil de dizer do que fazer. Essa tornou-se uma das melhores formas de os investidores quantitativos ganharem dinheiro, e é uma estratégia que a maioria de nós não deve tentar.

Agora, analisemos o que aconteceu no ano passado. Os fatores inverteram de mês para mês, como não acontecia desde o início dos dados da Instinet, em 1985. E a "reversão padrão" (uma abordagem grosseira de apostar apenas na mudança da direção dos preços sem ter em conta outros fatores) teve o seu melhor desempenho de sempre, excluindo o período que se seguiu ao rebentamento da bolha das dotcom.

Não foi um fenómeno exclusivo dos Estados Unidos. O gráfico a seguir, de Andrew Lapthorne, estrategista-chefe quantitativo do Société Générale, mostra que, historicamente, os retornos de um simples fator de reversão foram ainda mais surpreendentes na Europa do que nos EUA:



O que é que explica isso? Claramente, no início do ano passado houve uma enorme reviravolta da política monetária, que se intensificou à medida que o ano avançava, e havia também uma grande incerteza na frente comercial. O US Economic Policy Uncertainty index atingiu duas vezes o nível mais alto desde que a Standard & Poor’s cortou o rating dos EUA em 2011.

Quão seriamente devemos considerar o índice? O índice baseia-se na análise de artigos de imprensa e é mais um indicador de expectativas do que outra coisa. Quando o sentimento está agitado, podemos ver que os preços das ações têm mais probabilidade de reverter. Foi um ano de extrema polarização política, apesar de ter havido muitos outros em que ocorreram mudanças mais significativas na economia. E, por isso, parece que 2019 foi um dos primeiros anos em que o ruído abafou o sinal.

Voltando à analogia dos fones, no ambiente excecionalmente carregado de angústia e raiva de 2019, ficou provado que era melhor não abafar o ruído, mas seguir todos os sons que distraíam e apostar contra eles. Este ano começou com mais reversões. Portanto, é possível que o ambiente ruidoso seja algo a que nos devemos habituar e começar a negociar regularmente contra os ruídos mais recentes.

Mas o meu vizinho ainda está a usar fones. E, por enquanto, pretendo continuar a imitá-lo.

É assim que o Brexit termina…

Em matéria de redução de ruído, o parlamento do Reino Unido votou definitivamente a saída da União Europeia, mas sem um grande estrondo. Armado agora com uma forte maioria parlamentar, o primeiro-ministro Boris Johnson conseguiu esmagar toda a oposição e todo o drama. Um comentador proeminente chamou ao evento "Blue Wednesday". A Câmara dos Lordes concordou em não levar adiante as objeções ao projeto de lei que formaliza a decisão do Reino Unido de sair do bloco, o que significa que o Brexit só precisa agora do consentimento da rainha para se tornar lei. A fadiga do Brexit no Reino Unido é tão grande que essas notícias importantes, sobre a resolução de uma questão que dividiu o país de forma quase ininterrupta durante quatro anos, nem chegaram à primeira página de alguns jornais britânicos.

Isso é suficiente para ressuscitar a libra esterlina? A excitação imediata do pós-eleições acabou, deixando a libra no topo do intervalo pós-referendo, mas não acima. Como mostra o gráfico, numa base ponderada em relação a um amplo conjunto de moedas, a libra nunca conseguiu recuperar parte do terreno perdido na noite do referendo além de alguns dias:

Durante pelo menos um, ano, desde que ficou claro que a antiga primeira-ministra Theresa May teria problemas para aprovar o seu projeto de lei do Brexit no parlamento, a libra oscilou de acordo com um risco binário - o Reino Unido sairia sem um acordo ou não? Agora esse risco acabou. A libra estará pronta para uma recuperação?

Possivelmente, não. Para começar com um problema óbvio, o Reino Unido teve uma inflação mais alta do que os seus principais parceiros comerciais, o que significa que todas as coisas equivalentes à libra deverão enfraquecer em algum momento. Existem muitas formas de medir a paridade do poder de compra, mas poucas sugerem que a libra esteja muito desvalorizada. Este gráfico mostra como a inflação se moveu no Reino Unido em comparação com a Zona Euro e com os EUA desde o referendo em junho de 2016:

Além disso, há o problema de a economia do Reino Unido ainda não ter tido de enfrentar nenhum dos efeitos reais do Brexit, mesmo que parte da incerteza tenha sido resolvida. A mais recente pesquisa da Confederação da Indústria Britânica junto de responsáveis da indústria mostra o otimismo a recuperar para um nível nunca visto desde antes do referendo; mas as encomendas continuam muito fracas.

Isso deve levar o Banco de Inglaterra a cortar os juros em breve e, na opinião dos mercados, antes de outros grandes bancos centrais o fazerem. Isso tende a enfraquecer a libra.

No entanto, a maior questão continua a ser a incerteza do Brexit. O Reino Unido deve fechar um acordo com a União Europeia até ao fim deste ano, além de fazer novos acordos comerciais com outros parceiros importantes, com destaque para os EUA. Segundo o ministro das Finanças, Sajid Javid, em entrevista na semana passada ao Financial Times: "Não haverá alinhamento, não obedeceremos a regras, não estaremos no mercado único e não estaremos na união aduaneira". Se for verdade, isso implica um corte dramático no acesso ao mercado da UE - não terá mais do que o Canadá e, possivelmente, até menos. Isso levanta a questão de valer ou não a pena ter um acordo e, portanto, implica que o risco de uma saída sem acordo está de volta. Enquanto isso, o desejo declarado do Reino Unido de priorizar um acordo com a UE coloca o país em divergência com os EUA.

 

Os riscos não são tão binários ou alarmantes como os que surgiram durante grande parte do ano passado. Mas a incerteza parece grande demais para permitir que a libra comece a recuperar o terreno perdido na noite do referendo. Isso terá que esperar até que seja assinado, um acordo comercial o que significa pelo menos até ao fim deste ano.

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