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"O prémio das acções portuguesas é justificado"
Líder entre os fundos que investem na bolsa de Lisboa no fim de Julho, o Millenium Acções Portugal oferecia até ao início da semana um retorno de 30% em 2007, quase o dobro dos 18,7% do índice PSI-20. Conheça as apostas do gestor de fundos que melhor bate
Líder entre os fundos que investem na bolsa de Lisboa no fim de Julho, o Millenium Acções Portugal oferecia até ao início da semana um retorno de 30% em 2007, quase o dobro dos 18,7% do índice PSI-20. Conheça as apostas do gestor de fundos que melhor bateu o mercado.
As acções portuguesas estão mais caras que as europeias. Mas Pedro Pintassilgo, gestor de fundos de acções nacionais na F&C Investments, considera que este "prémio é justificado".
"Penso que as estimativas de lucros para as empresas portuguesas são conservadoras. Este prémio é também justificado por estarmos num ciclo de crescimento económico que é diferente da generalidade das empresas europeias", diz, em entrevista ao Jornal de Negócios.
Acha que o PSI-20 pode terminar o ano acima dos 10%?
Ainda penso que não estamos perante uma correcção dramática que leve a uma inversão total do sentimento, provocando uma perda dos dois dígitos no PSI-20. Porque se olharmos para a economia real e para o discurso das empresas os sinais são positivos. Assistimos a uma época de apresentação de resultados nos EUA que correu muito bem. No início do segundo trimestre, os analistas esperavam um crescimento de 4% nos lucros e já estamos com 8%. Com a queda das cotações na correcção, as acções tornaram-se mais baratas. Mas como não sabemos a real dimensão do problema do "subprime", perante a incerteza, o mercado foge para activos mais seguros, como as obrigações de dívida pública.
Dizer se a correcção já acabou é difícil...
Só um adivinho. O que hoje é visível é que há riscos e estamos numa mini crise financeira. Há uma necessidade de perceber qual a efectiva dimensão deste problema. Até lá, é de esperar esta volatilidade. Não sabemos quem tem estes activos e que peso poderão ter nos balanços das instituições financeiras.
As acções portuguesas estão mais caras que as europeias. Este prémio é justificado?
Sim. Penso que as estimativas de lucros para as empresas portuguesas são conservadoras. Este prémio é também justificado por estarmos num ciclo de crescimento económico que é diferente da generalidade das empresas europeias. O mercado português está claramente mais barato que o espanhol e acredito que possa beneficiar de desinvestimento em empresas espanholas para empresas portuguesas. Há ainda um prémio de OPA que se paga por várias empresas portuguesas, que eu acho que faz sentido, embora esse prémio se reduza neste ambiente.
Como conseguiu quase duplicar o retorno do PSI-20 este ano?
Por duas ordens de razões. A primeira prende-se com o facto de termos sobreponderações em acções que fizeram melhor que o índice. A segunda deve-se ao facto de termos estado com investimentos significativos em títulos que tiveram uma performance fantástica durante estes sete primeiros meses do ano, e que não estão representados no PSI-20. Há dois exemplos muito evidentes, que são a Teixeira Duarte e a Soares da Costa, que lideraram as valorizações até 30 de Junho de 2007. Esta última entrou para o PSI-20 na segunda metade do ano. Saliento ainda a aposta feita na Altri.
O que levou à aposta nestes títulos?
A Altri é uma história que teve como acontecimento significativo a aquisição da Celbi à Stora Enso. A Celbi era, dentro do sector, das empresas como melhor performance operacional. Por outro lado, esta aquisição acontece num momento estruturalmente bom para o sector com a procura de pasta e papel a continuar muito dinâmica, com um aumento do nível de preços. Nós acreditámos que o mercado iria reconhecer esse valor e fizemos um movimento de antecipação.
E a história da Soares da Costa e da Teixeira Duarte?
A Soares da Costa, como é do conhecimento público, mudou de accionista maioritário e de gestão. É uma empresa que foi muito penalizada no passado recente. Hoje, com um accionista conhecido, com uma posição claramente maioritária, com uma gestão independente da estrutura accionista e competente, a empresa pode alavancar aquilo que tem de bom. Tem aproveitado muito bem o "know how" que tem na ferrovia, quer em concursos em Portugal quer no exterior. É expectável que a Soares da Costa tenha um papel importante nos concursos que venham a ser abertos para o Metro e o TGV.
Não o preocupa o facto da Soares da Costa ter um capital em circulação no mercado muito pequeno?
O "free-float" estreitou um pouco e isso é um óbice do título, mas o reforço de posição por parte do accionista maioritário é uma evidência de um compromisso estável e duradouro.
Mas não acha que o accionista pode vir a retirar a empresa de bolsa?
Acho mais provável uma intensificação do compromisso com o mercado financeiro, porque acredito que a Soares da Costa poderá vir a precisar de um aumento de capital para explora e rentabilizar algumas oportunidades que vai ter de crescimento. Eventualmente o accionista maioritário poderá abdicar de acompanhar na totalidade o aumento de capital.
Faltou falar da Teixeira Duarte...
É uma empresa mais diversificada, com participações financeiras significativas fora do negócio da construção, tendo beneficiado da sua valorização. E tem também oportunidades de crescimento, não só devido à recuperação da economia portuguesa, mas ao plano de investimentos anunciado pelo Governo.
Estes títulos que destacou continuam a fazer parte das apostas para o resto do ano?
Sim. Os níveis de investimento é que poderão ser diferentes. Mas há outras oportunidades. A Sonae é claramente uma delas. Tem um presidente com um perfil diferente, mais jovem, com uma comunicação mais fluente com o mercado. Vejo uma empresa muito ambiciosa em termos de crescimento nas várias áreas de negócios, com uma excelente capacidade de gestão.
A cisão da Sonae Capital pode ser um catalizador para as acções da Sonae?
Pode. O mercado ainda não tem bem a percepção do valor da Sonae Turismo ou da Sonae Capital. É o momento para cristalizar esse valor. Atendendo à proximidade temporal da cisão, acho que vai haver de uma forma crescente mais notícias e mais informação ao mercado sobre o que ali está. A Sonae parece-me uma empresa interessante no longo-prazo.
A Galp também tem um peso elevado na carteira do fundo...
A Galp é uma empresa com uma excelente equipa de gestão, que tem uma estrutura accionista conhecida e estável e oportunidades de crescimento na exploração e produção de petróleo. As novas descobertas tem aparecido com regularidade. É um título que pode continuar a surpreender pela positiva. Já depois da divulgação de resultados já tivemos várias casas a rever em alta as estimativas de lucros. E na nossa opinião à actual cotação não está cara.