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Análise: Para quando a recuperação dos mercados?

Terminado primeiro trimestre de 2001, que seguiu um dos piores anos bolsistas da década, a ansiada recuperação ainda não se deslumbra num horizonte de curto prazo. A evolução da economia norte-americana e a dependência da economia europeia será crucial.

08 de Abril de 2001 às 17:13
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Terminado primeiro trimestre de 2001, que seguiu um dos piores anos bolsistas da década, a ansiada recuperação ainda não se deslumbra num horizonte de curto prazo. A evolução da economia norte-americana e a dependência da economia europeia será crucial.

Depois do ano 2000, em termos bolsistas, ter sido um dos piores da década, a generalidade dos analistas apontava 2001 como o ano da recuperação, se a conjuntura mundial não pregar nenhuma partida.

No entanto, a esperada recuperação das Bolsas mundiais poderá acontecer este ano, com maior incidência no segundo semestre, quando a economia norte-americana aliviar do «landing» a que tem estado sujeita desde o final do ano passado e princípio deste.

A maior economia do mundo, após um período de expansão superior a dez anos, está a sofrer uma correcção mais ou menos suave, consoantes as opiniões, cujo comportamento será crucial para a evolução dos mercados de capitais e das economias em todo o mundo.

Praça lisboeta na dependência das congéneres

Um crescimento nunca inferior a 10% para 2001 foi a estimativa dos especialistas que apontam o diferencial da economia norte-americana e a europeia como um factor determinante para a valorização dos títulos na Bolsa de Valores de Lisboa e Porto (BVLP).

O PSI20 perdeu 13% no ano passado contra previsões que avançavam uma valorização média entre 10 e 20%. A maioria dos gestores de fundos, analistas e operadores do mercado, quando contactados pelo Canal de Negócios, não quiseram arriscar uma previsão para o PSI20, depois do verificado o ano passado.

A Schroder Salomon Smith Barney (SSSB), num estudo sobre o potencial de valorização das Bolsas europeias, estima que o PSI20 atinja os 12.500 pontos no final de 2001, o que reflecte uma valorização de cerca de 20% até ao final do ano. Para justificar esta estimativa, a SSSB refere que «as acções parecem agora baratas e os preços do petróleo e as taxas de juro devem descer nos próximos tempos».

O PSI20, referencial da Bolsa nacional, protagonizou uma desvalorização de 5,55% no primeiro trimestre de 2001, com as perspectivas de inversão da tendência a parecerem cada vez menos de curto prazo.

Os títulos da economia tradicional têm limitado as perdas registadas pelas empresas de tecnológicas media e telecomunicações (TMT), que têm vindo a ganhar ponderação nos índices nacionais, agravando assim a queda. O índice norte-americano das empresas da nova economia, o Nasdaq, que pela sua natureza estão associadas a uma maior volatilidade e incerteza, caiu mais de 20% desde o princípio do ano, influenciando o sector a nível mundial.

Embora se antecipe uma subida nos próximos trimestres do sector das TMT, a recomendação dos especialistas assenta numa carteira de acções defensivas com um aumento progressivo e dependente das condições do mercado nas empresas tecnológicas, que se encontram a preços convidativos. A nível nacional, a Electricidade de Portugal (EDP) e a Brisa, merecerem a confiança da generalidade dos analistas.

Alta do petróleo nocivo para economias ocidentais

O ano de 2000 foi caracterizado por um aumento generalizado das taxas de juro, motivado em grande medida pela alta do petróleo, que nas economias ocidentais e sobretudo nas europeias, origina fortes pressões inflacionistas.

O preço do «brent» tem ultimamente estabilizado em cerca de 25 dólares (27,65 euros ou 5.543 escudos), o que tem permitido o aliviar das pressões inflacionistas nas economias ocidentais, incentivando a cortes nas taxas de juro para estimular a economia mundial.

A Reserva Federal norte-americana (FED) caumentou quatro vezes a taxa de refinanciamento durante o ano passado, dos 5,5% para os 6,5%, diferencial que foi superado pelo Banco Central Europeu, que em igual período aumentou seis vezes a taxa de juro, dos 3% para os 4,75%, valor em que se encontra actualmente.

O BCE tem adoptado uma postura mais menos interventiva relativamente à taxa de juro do que o FED, com a taxa de referência europeia a manter-se inalterada nos 4,75% desde Outubro de 2000. Os responsáveis pela instituição têm vindo a justificar essa posição com a existência de perigos de aumento das tensões inflacionistas na Zona Euro.

A taxa de inflação europeia cifra-se actualmente nos 2,6%, dados de Fevereiro, valor superior ao tecto de 2% fixado como limite superior pelo BCE, que já não é atingido há 10 meses. Contudo a preocupação maior para o autoridade monetária é o abrandamento económico registado na Zona Euro.

BCE: o longo caminho da afirmação

A «juventude» do Banco Central Europeu (BCE) e a contestada liderança de Wim Duisenberg, presidente da entidade que regula a política monetária da Zona Euro, têm contribuído para uma falta de afirmação do euro como divisa alternativa ao dólar.

Os países pertencentes à Eurolândia ainda não formam um bloco coeso, subsistindo por vezes os interesses nacionais, o que torna difícil que o BCE transmita ao mercado um discurso de unicidade e confiança, por antítese ao que se passa com Alan Greespan, presidente da Reserva Federal norte-americana.

A não existência de moeda em circulação, para alguns analistas, é igualmente penalizador para o euro, que entra em circulação a 1 de Janeiro de 2002, seguindo-se um período de transição de 2 meses, em que a moeda única vai transaccionar em conjunto com as divisas nacionais dos países membros da Zona Euro.

O FED, durante o corrente ano, cortou 150 pontos base nas taxas de juro, em apenas 11 semanas, a maior redução dos últimos 13 anos, com o objectivo de reanimar a maior economia do mundo.

Moeda europeia ainda muito dependente da economia norte-americana

A cotação do euro tem sido alvo de alguma instabilidade desde Janeiro de 1999, data do seu lançamento. Desde o início do ano, a moeda única já oscilou entre os 0,87 dólares e os 0,95 dólares, sem que o estado da economia da Zona Euro pareça justificar essa volatilidade.

A economia da Zona Euro deverá crescer mais do que a norte-americana no corrente ano, invertendo a tendência verificada ao longo dos últimos anos, com as previsões a apontarem para um incremento de 3% no produto interno bruto (PIB) da zona da moeda única, contra uma progressão de 2,5% da economia dos Estados Unidos (EUA).

O PIB da Zona Euro cresceu 3,4% no ano 2000 enquanto a economia norte-americana avançou 5%, embora tenha registado um abrandamento nos últimos trimestres do ano.

O facto da maioria das transacções comerciais da Eurolândia ser intracomunitária, com os Estados Unidos a serem responsáveis por apenas 13% do comércio da região, deveria permitir alguma independência da Europa ao abrandamento da economia norte-americana.

No entanto, as Bolsas mundiais estão muito dependentes da evolução do mercado financeiro norte-americano e das posições assumidas pelo FED, situação a que a moeda europeia não está imune, o que por vezes não reflecte de forma correcta os fundamentais da economia europeia.

Outro factor que sustenta a cotação do dólar, são os contratos do crude, que nos mercados internacionais costumam efectuar-se em dólares, fazendo com que a divisa tenha de ser trocada, puxando pela cotação da moeda norte-americana.

A opinião dos economistas sobre a evolução do euro não é unânime, embora concordem que as notícias provenientes do outro lado do Atlântico continuarão a concentrar as atenções dos analistas e dos investidores.

Rui Constantino, economista do Banco Santander Central Hispano (BSCH), afirma que «a paridade ainda é possível, mas com algumas reservas», sendo de destacar que «caso se confirmem os últimos indícios de que a economia norte-americana vai escapar à recessão e está a recuperar, temos aí mais um factor negativo a funcionar contra o euro».

Reforma fiscal penaliza mercado de capitais

A Reforma Fiscal, que foi aprovada no dia 21 de Dezembro de 2000, contempla uma tributação dos dividendos de acções à taxa de Imposto sobre Rendimento de Singulares (IRS), a ter início em de Janeiro de 2002.

As mais-valias mobiliárias serão tributadas à taxa de IRS em 75%, se os títulos forem detidos até 12 meses e em 60% se forem detidos de 12 a 24 meses. A taxa de imposto reduz-se para 40% quando os títulos permanecerem em carteira por um período de dois a cinco anos e em 30% quando detidos por mais de cinco anos.

Das muitas críticas que a nova fiscalidade recebeu, uma das mais consensuais reside no facto de se penalizar quem tem menos mobilidade de capitais, ou seja, o pequeno subscritor, que sofre um aumento no IRS, caso obtenha um valor superior a 997,5 euros (200 contos) anuais em dividendos e mais-valias.

Alves Monteiro, administrador-delegado da BVLP considera que «a reforma fiscal encerra potenciais efeitos negativos para o mercado de capitais» nacional.

No entanto, o Estado, as empresas e a economia em geral também são prejudicados porque a médio/longo prazo, ocorrerá uma fuga de capitais e aprofundamento do estatuto periférico do nosso país.

Para Patinha Antão, fiscalista e deputado do Partido Social Democrata (PSD), o impacto líquido desta reforma é uma perda, permanente, de receita fiscal na ordem dos 149,6 milhões de euros (30 milhões de contos), cerca de 0,2% do PIB.

A nova tributação sobre as sociedades gestoras de participações sociais (SGPS), vai implicar uma transferência destas sociedades para outros países, de que foi exemplo a Sonae e possivelmente a Jerónimo Martins, que está a equacionar a mudança de «holdings» do grupo para o estrangeiro.

A Sonae SGPS, ainda no ano 2000, alienou 51,19% dos seus direitos de votos à Sonae Investments, sociedade holandesa detida a cem por cento pela Sonae-SGPS, no âmbito do agravamento da fiscalidade, nomeadamente na tributação de mais-valias.

Sondagem: PSI20 fecha primeiro semestre positivo

Os leitores do Canal de Negócios acreditam que o PSI20 vai terminar os primeiros seis meses do ano com ganhos, o que implica que a valorização do índice no segundo trimestre terá de ser superior a 5,55%, valor da queda registada no primeiro trimestre.

Dos 1.915 participantes nesta sondagem, 59,1% dos leitores responderam afirmativamente quanto à possibilidade do PSI20 encerrar o semestre a subir, enquanto 40,9% tiveram opinião contrária.

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