Notícia
Análise: Para quando a recuperação dos mercados?
Terminado primeiro trimestre de 2001, que seguiu um dos piores anos bolsistas da década, a ansiada recuperação ainda não se deslumbra num horizonte de curto prazo. A evolução da economia norte-americana e a dependência da economia europeia será crucial.
Depois do ano 2000, em termos bolsistas, ter sido um dos piores da década, a generalidade dos analistas apontava 2001 como o ano da recuperação, se a conjuntura mundial não pregar nenhuma partida.
No entanto, a esperada recuperação das Bolsas mundiais poderá acontecer este ano, com maior incidência no segundo semestre, quando a economia norte-americana aliviar do «landing» a que tem estado sujeita desde o final do ano passado e princípio deste.
A maior economia do mundo, após um período de expansão superior a dez anos, está a sofrer uma correcção mais ou menos suave, consoantes as opiniões, cujo comportamento será crucial para a evolução dos mercados de capitais e das economias em todo o mundo.
Praça lisboeta na dependência das congéneresUm crescimento nunca inferior a 10% para 2001 foi a estimativa dos especialistas que apontam o diferencial da economia norte-americana e a europeia como um factor determinante para a valorização dos títulos na Bolsa de Valores de Lisboa e Porto (BVLP).
O PSI20 perdeu 13% no ano passado contra previsões que avançavam uma valorização média entre 10 e 20%. A maioria dos gestores de fundos, analistas e operadores do mercado, quando contactados pelo Canal de Negócios, não quiseram arriscar uma previsão para o PSI20, depois do verificado o ano passado.
A Schroder Salomon Smith Barney (SSSB), num estudo sobre o potencial de valorização das Bolsas europeias, estima que o PSI20 atinja os 12.500 pontos no final de 2001, o que reflecte uma valorização de cerca de 20% até ao final do ano. Para justificar esta estimativa, a SSSB refere que «as acções parecem agora baratas e os preços do petróleo e as taxas de juro devem descer nos próximos tempos».
O PSI20, referencial da Bolsa nacional, protagonizou uma desvalorização de 5,55% no primeiro trimestre de 2001, com as perspectivas de inversão da tendência a parecerem cada vez menos de curto prazo.
Os títulos da economia tradicional têm limitado as perdas registadas pelas empresas de tecnológicas media e telecomunicações (TMT), que têm vindo a ganhar ponderação nos índices nacionais, agravando assim a queda. O índice norte-americano das empresas da nova economia, o Nasdaq, que pela sua natureza estão associadas a uma maior volatilidade e incerteza, caiu mais de 20% desde o princípio do ano, influenciando o sector a nível mundial.
Embora se antecipe uma subida nos próximos trimestres do sector das TMT, a recomendação dos especialistas assenta numa carteira de acções defensivas com um aumento progressivo e dependente das condições do mercado nas empresas tecnológicas, que se encontram a preços convidativos. A nível nacional, a Electricidade de Portugal (EDP) e a Brisa, merecerem a confiança da generalidade dos analistas.
Alta do petróleo nocivo para economias ocidentaisO ano de 2000 foi caracterizado por um aumento generalizado das taxas de juro, motivado em grande medida pela alta do petróleo, que nas economias ocidentais e sobretudo nas europeias, origina fortes pressões inflacionistas.
O preço do «brent» tem ultimamente estabilizado em cerca de 25 dólares (27,65 euros ou 5.543 escudos), o que tem permitido o aliviar das pressões inflacionistas nas economias ocidentais, incentivando a cortes nas taxas de juro para estimular a economia mundial.
A Reserva Federal norte-americana (FED) caumentou quatro vezes a taxa de refinanciamento durante o ano passado, dos 5,5% para os 6,5%, diferencial que foi superado pelo Banco Central Europeu, que em igual período aumentou seis vezes a taxa de juro, dos 3% para os 4,75%, valor em que se encontra actualmente.
O BCE tem adoptado uma postura mais menos interventiva relativamente à taxa de juro do que o FED, com a taxa de referência europeia a manter-se inalterada nos 4,75% desde Outubro de 2000. Os responsáveis pela instituição têm vindo a justificar essa posição com a existência de perigos de aumento das tensões inflacionistas na Zona Euro.
A taxa de inflação europeia cifra-se actualmente nos 2,6%, dados de Fevereiro, valor superior ao tecto de 2% fixado como limite superior pelo BCE, que já não é atingido há 10 meses. Contudo a preocupação maior para o autoridade monetária é o abrandamento económico registado na Zona Euro.
BCE: o longo caminho da afirmaçãoA «juventude» do Banco Central Europeu (BCE) e a contestada liderança de Wim Duisenberg, presidente da entidade que regula a política monetária da Zona Euro, têm contribuído para uma falta de afirmação do euro como divisa alternativa ao dólar.
Os países pertencentes à Eurolândia ainda não formam um bloco coeso, subsistindo por vezes os interesses nacionais, o que torna difícil que o BCE transmita ao mercado um discurso de unicidade e confiança, por antítese ao que se passa com Alan Greespan, presidente da Reserva Federal norte-americana.
A não existência de moeda em circulação, para alguns analistas, é igualmente penalizador para o euro, que entra em circulação a 1 de Janeiro de 2002, seguindo-se um período de transição de 2 meses, em que a moeda única vai transaccionar em conjunto com as divisas nacionais dos países membros da Zona Euro.
O FED, durante o corrente ano, cortou 150 pontos base nas taxas de juro, em apenas 11 semanas, a maior redução dos últimos 13 anos, com o objectivo de reanimar a maior economia do mundo.
Moeda europeia ainda muito dependente da economia norte-americanaA cotação do euro tem sido alvo de alguma instabilidade desde Janeiro de 1999, data do seu lançamento. Desde o início do ano, a moeda única já oscilou entre os 0,87 dólares e os 0,95 dólares, sem que o estado da economia da Zona Euro pareça justificar essa volatilidade.
A economia da Zona Euro deverá crescer mais do que a norte-americana no corrente ano, invertendo a tendência verificada ao longo dos últimos anos, com as previsões a apontarem para um incremento de 3% no produto interno bruto (PIB) da zona da moeda única, contra uma progressão de 2,5% da economia dos Estados Unidos (EUA).
O PIB da Zona Euro cresceu 3,4% no ano 2000 enquanto a economia norte-americana avançou 5%, embora tenha registado um abrandamento nos últimos trimestres do ano.
O facto da maioria das transacções comerciais da Eurolândia ser intracomunitária, com os Estados Unidos a serem responsáveis por apenas 13% do comércio da região, deveria permitir alguma independência da Europa ao abrandamento da economia norte-americana.
No entanto, as Bolsas mundiais estão muito dependentes da evolução do mercado financeiro norte-americano e das posições assumidas pelo FED, situação a que a moeda europeia não está imune, o que por vezes não reflecte de forma correcta os fundamentais da economia europeia.
Outro factor que sustenta a cotação do dólar, são os contratos do crude, que nos mercados internacionais costumam efectuar-se em dólares, fazendo com que a divisa tenha de ser trocada, puxando pela cotação da moeda norte-americana.
A opinião dos economistas sobre a evolução do euro não é unânime, embora concordem que as notícias provenientes do outro lado do Atlântico continuarão a concentrar as atenções dos analistas e dos investidores.
Rui Constantino, economista do Banco Santander Central Hispano (BSCH), afirma que «a paridade ainda é possível, mas com algumas reservas», sendo de destacar que «caso se confirmem os últimos indícios de que a economia norte-americana vai escapar à recessão e está a recuperar, temos aí mais um factor negativo a funcionar contra o euro».
Reforma fiscal penaliza mercado de capitaisA Reforma Fiscal, que foi aprovada no dia 21 de Dezembro de 2000, contempla uma tributação dos dividendos de acções à taxa de Imposto sobre Rendimento de Singulares (IRS), a ter início em de Janeiro de 2002.
As mais-valias mobiliárias serão tributadas à taxa de IRS em 75%, se os títulos forem detidos até 12 meses e em 60% se forem detidos de 12 a 24 meses. A taxa de imposto reduz-se para 40% quando os títulos permanecerem em carteira por um período de dois a cinco anos e em 30% quando detidos por mais de cinco anos.
Das muitas críticas que a nova fiscalidade recebeu, uma das mais consensuais reside no facto de se penalizar quem tem menos mobilidade de capitais, ou seja, o pequeno subscritor, que sofre um aumento no IRS, caso obtenha um valor superior a 997,5 euros (200 contos) anuais em dividendos e mais-valias.
Alves Monteiro, administrador-delegado da BVLP considera que «a reforma fiscal encerra potenciais efeitos negativos para o mercado de capitais» nacional.
No entanto, o Estado, as empresas e a economia em geral também são prejudicados porque a médio/longo prazo, ocorrerá uma fuga de capitais e aprofundamento do estatuto periférico do nosso país.
Para Patinha Antão, fiscalista e deputado do Partido Social Democrata (PSD), o impacto líquido desta reforma é uma perda, permanente, de receita fiscal na ordem dos 149,6 milhões de euros (30 milhões de contos), cerca de 0,2% do PIB.
A nova tributação sobre as sociedades gestoras de participações sociais (SGPS), vai implicar uma transferência destas sociedades para outros países, de que foi exemplo a Sonae e possivelmente a Jerónimo Martins, que está a equacionar a mudança de «holdings» do grupo para o estrangeiro.
A Sonae SGPS, ainda no ano 2000, alienou 51,19% dos seus direitos de votos à Sonae Investments, sociedade holandesa detida a cem por cento pela Sonae-SGPS, no âmbito do agravamento da fiscalidade, nomeadamente na tributação de mais-valias.
Sondagem: PSI20 fecha primeiro semestre positivoOs leitores do Canal de Negócios acreditam que o PSI20 vai terminar os primeiros seis meses do ano com ganhos, o que implica que a valorização do índice no segundo trimestre terá de ser superior a 5,55%, valor da queda registada no primeiro trimestre.
Dos 1.915 participantes nesta sondagem, 59,1% dos leitores responderam afirmativamente quanto à possibilidade do PSI20 encerrar o semestre a subir, enquanto 40,9% tiveram opinião contrária.