Notícia
O homem que quer colonizar Marte em 2025
Dependendo do ponto de vista, Elon Musk é movido a sonhos ou a delírios. Empreendedor, inventor, inovador ou apenas cientista louco, tem vindo a provar, contudo, que as suas ambições podem-se transformar em realidade, mesmo que não tenhamos o seu poder imaginativo ou a sua crença inabalável de que é possível realizar o impossível. E foi na Code Conference deste ano que assegurou que, em 2024 e via SpaceX, um dos vários empreendimentos a que dedica o seu fértil intelecto, será enviada a primeira missão tripulada para o Planeta Vermelho. Como a viagem não será propriamente curta, a colonização de Marte terá início um ano depois. E não parece que esteja a delirar…
Foi durante a elitista Code Conference – na medida em que só uma mão-cheia de personalidades são para a mesma convidados – que Elon Musk, o multimilionário e CEO da Tesla Motors e da SpaceX, anunciou os seus planos para enviar, já em 2024, os primeiros humanos que irão colonizar o planeta vermelho, mesmo que, e se tudo correr como previsto, só lá cheguem em 2025. Mas e mesmo assim, apesar da vertiginosa velocidade que caracteriza o progresso tecnológico na actualidade, quem é que acredita que esta missão espacial possa vir a ser uma realidade? Na verdade, não serão muitos os crentes, mas pelo menos um existe e é o próprio Musk.
Na conferência que junta os influenciadores do topo dos topos da indústria para discutirem, de forma aprofundada, o impacto presente e futuro das tecnologias digitais nas nossas vidas, a participação do empreendedor em série, inventor, visionário, filantropo e, sobretudo, aparentemente louco Elon Musk foi uma das mais comentadas de todo o evento, algo que, para quem conhece minimamente o percurso do homem que teve uma ascensão literalmente meteórica ao longo da sua ainda não muito longa vida – tem 44 anos – não é, de todo, surpreendente. Este "self-made" multimilionário – com uma fortuna líquida avaliada em 12,6 mil milhões de dólares, de acordo com a revista Forbes - não só afirmou que acredita que a probabilidade de NÃO sermos apenas peças de código numa simulação de computador futurista é apenas de uma em milhares de milhões, ou seja, que a possibilidade de estarmos a viver no interior de uma espécie de videojogo [quem não se recorda da trilogia Matrix?] é maior do que o seu inverso, como diz estar certo – se tudo correr como previsto – que Marte será habitado pelos primeiros colonos já em 2025, naquilo que pretende ser "uma cidade em crescimento" no início e, seguidamente, uma urbe auto-sustentável.
Mas se tudo isto parece inverosímil, por que motivo tem Musk tanta credibilidade – para além de uma legião de seguidores – e, em particular nos últimos anos, um lugar mais do que cativo em tudo o que são listas e rankings e não só no que respeita aos mais endinheirados do mundo ou aos 15 mais ricos da tecnologia, mas também enquanto "global changer", ou "o empreendedor mais inovador do planeta", entre outros epítetos similares?
Afirmam os "entendidos" no assunto que, se existir um sucessor digno da fama (e do proveito) do tão adorado quanto odiado Steve Jobs, Musk é o mais provável candidato. Apesar de não ter o mau feitio do fundador da Apple (mesmo que haja quem diga que sim, que o tem), também Musk é considerado como uma espécie de ave rara, numa mistura entre génio e louco.
No livro publicado em 2015, intitulado "Elon Musk: Tesla, SpaceX and the Quest for a Fantastic Future", o autor Ashlee Vance cita uma conversa com a sua mãe, suficientemente esclarecedora, sobre a sua personalidade, no mínimo "sui generis": "[em criança] ele simplesmente perdia-se no interior do seu cérebro e era fácil perceber que estava num outro mundo. E ainda faz mesmo. Só que agora deixo-o em paz porque sei que está a pensar na concepção de um novo foguetão ou outra coisa qualquer parecida". A progenitora de Musk acrescenta ainda que, enquanto criança e adolescente, muitas vezes parecia que o filho entrava em transe, na medida em que não respondia quando falavam com ele e tinha sempre um olhar distante. Chegaram a pensar que seria surdo (ou que sofreria de algo parecida à Síndroma de Asperger), ao ponto de lhe removerem os adenóides para melhorar a sua audição. Mas, e na verdade, a diferença foi nenhuma. E parece mesmo que não, a fazer fé nas palavras da sua ex-mulher Justine que, no mesmo livro, afirma: "Penso nele como se fosse o Terminator: olha fixamente para uma coisa e diz ‘isto tem de ser meu’ e não descansa enquanto não o conseguir".
De vítima de bullying na África do Sul ao alter ego do Iron Man nos Estados Unidos
Como qualquer cientista louco que se preze ou, nos tempos que correm, enquanto hiper-empreendedor, a vida de Elon Musk tem suscitado uma curiosidade infinita. Para o livro acima referido, foi com enorme relutância que (pouco) contribuiu, detestando falar da sua esfera privada. Depois de perder o primeiro filho, com 10 semanas, devido à síndroma de morte súbita, Musk tem cinco filhos, dois gémeos rapazes e mais três (igualmente gémeos) e vai no terceiro casamento.
Nascido em Pretória, em 1971, e ainda na época do "apartheid", Musk foi vítima de "bullying", tendo até sido hospitalizado depois de ter sido espancado e deixado inconsciente nas escadas da escola que frequentava. Talvez por isso – ou não – tenha mandado construir uma escola especialmente para a sua prole, chamada "Ad Astra" (até às estrelas, em latim), caracterizada, explica a revista Quartz, e por não obedecer aos habituais critérios educativos, como muito mais prática do que teórica, e com relevo para os métodos de resolução de problemas de forma a ensinar o "pensamento crítico" aos poucos miúdos que a frequentam. "Se queremos que as crianças aprendam como funcionam as máquinas", afirmou numa entrevista a uma cadeia de televisão chinesa, "não devemos começar por lhes explicar o que são chaves de fendas ou parafusos, mas antes mostrar-lhes a máquina toda e perguntar-lhes como a desmontariam".
Desmontar o currículo de Musk daria uma quantidade infinita de parafusos, na medida em que os seus dotes de empreendedor começaram desde tenra idade – inventou e vendeu um videojogo com 12 anos – mas foi pouco tempo depois de se ter mudado para os Estados Unidos, em meados da década de 1990, que começou a ter sobre ele as luzes da ribalta. A ascensão foi meteórica, com a venda da sua empresa de software Zip2 por 300 milhões de dólares aos 28 anos, quando co-fundou a X.com, a qual iria, depois de uma fusão, dar origem à PayPal, o primeiro sistema de pagamentos online, sendo esta adquirida, uns anos mais tarde, pela eBay pela simpática quantia de 1,5 mil milhões de dólares.
A partir de então, o céu tornou-se mesmo o seu limite (apesar de, na sua imaginação, a ideia é mesmo torná-lo "ilimitado"). Para além da SolarCity, que é "apenas" a maior fornecedora de energia solar dos Estados Unidos e da qual é também fundador e presidente, é na Tesla Motors e, é claro, na SpaceX, que mais investe os seus prolíficos neurónios. A primeira, e apesar de até agora servir uma endinheirada elite, não só está a revolucionar o mercado da mobilidade eléctrica, obrigando as grandes marcas a concorrerem com veículos similares, totalmente eléctricos, como também o da instalação de pontos de carregamento nos Estados Unidos; e a segunda é, ou seria na verdade, o foco deste artigo. O problema é que falar de Elon Musk é um pouco como as cerejas: é tão impressionante o seu currículo, "vitae" e "cerebral", que se torna difícil limitarmo-nos a um só tema. Talvez seja por isso que o escritor e jornalista Walter Isaacson, presidente do Aspen Institute e autor, entre vários outros livros, da biografia de Steve Jobs, o considere "o mais impressionante pensador fora-da-caixa que conhece", e de Bill Gates ter afirmado que "apesar de não existir escassez de pessoas com uma visão sobre o futuro, o que faz de Elon excepcional é a sua capacidade de tornar real esse mesmo futuro que ele imagina".
Para já, duas das suas ambiciosas ideias – e tomando como exemplo apenas a Tesla e a SpaceX – são substituir os veículos de todo o mundo por carros eléctricos e… colonizar Marte. E, mesmo sabendo-se que ambas as indústrias em causa, e devido à sua ampla maturidade, são controladas por colossos empresariais, são já muitos os que acreditam que a ambição de Musk – transformá-las, a ambas, em apenas uma geração – se tornará realidade. Ou não fosse ele também considerado um "Tony Stark" da vida real: a verdade é que na sequela do filme Iron Man, lançado em 2010, Musk faz uma "perninha", mas não só. Parte do filme é mesmo filmado nas instalações da SpaceX e o próprio realizador, Jon Fraveau, defende a ideia de que Musk é o mais próximo que temos de um Homem de Ferro na vida real, na medida em que ambos são engenheiros e ambos acreditam que a engenharia é o que mais perto está da magia. E, para fechar este pequeno capítulo da vida de Musk e depois de a CNN ter noticiado uma reunião que o mesmo teve a semana passada com o Pentágono, são vários os rumores que correm na Internet que um dos tópicos em discussão com o secretário da Defesa dos Estados Unidos Ash Carter possa ter sido, exactamente, a produção de um fato "parecido" com o do herói da Marvel – um anúncio, feito em tom mais ou menos humorista pelo presidente Obama há cerca de dois anos – o qual funcionaria como um exoesqueleto movido por uma bateria interna, com protecção anti-balas, munido de uma super-força e suportado por computadores on-board. A este potencial TALOS (Tactical Light Operator Suite) falta ainda a capacidade de voar, mas essa ausência pretende Musk colmatar com a "menina dos seus olhos", a SpaceX.
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