Notícia
Augusto Mateus: Turistas responderam por mais de metade do crescimento do consumo interno
O economista defende que os operadores turísticos nacionais devem "habituar-se a um turismo de mercados emissores mais longínquos".
Os não residentes responderam, durante o período da crise, por mais de metade do crescimento do consumo interno em Portugal. Os cálculos são de Augusto Mateus, economista e antigo ministro da Economia, que destaca o "papel fundamental" do setor na economia nacional e alerta para a necessidade de os operadores estarem preparados para um novo ciclo, com um "turismo de mercados mais longínquos".
O economista falava, esta sexta-feira, 15 de novembro, no congresso anual da Associação das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que decorre, até 16 de novembro, na Madeira. Numa intervenção onde apresentou a estratégia para o turismo que acredita dever ser seguida durante a nova legislatura, Augusto Mateus ilustrou o peso do setor para a economia.
"O consumo privado mede-se pelo consumo feito no território, que é feito por residentes e por não residentes. Na entrada do século, o consumo de não residentes representava 5% do total. Hoje, representa 12,5%. Em 100 euros de consumo em Portugal, 12,5 euros são de não residentes", exemplificou.
O setor ganhou particular importância durante o período da crise. "Desde 2008 até agora, mais de metade do crescimento do consumo interno deve-se a despesas de não residentes. O conjunto da população portuguesa fez aumentar o consumo interno menos do que os turistas que vieram a Portugal".
É por estes números que o setor deve preparar-se para as alterações iminentes, defendeu ainda. "Estamos em cima não tanto de um fim de ciclo, mas de uma mutação qualitativa muito importante. Temos uma responsabilidade que é fazer acontecer esse salto qualitativo. A gestão corrente não permite saltos qualitativos, permite apenas ganhos de eficiência, ganhos nos resultados das empresas, ganhos na procura".
Desde logo, apontou, é preciso dar atenção ao crescimento do mercado asiático. "A Europa já representou dois terços dos turistas mundiais. Passou recentemente menos de metade e estabilizará em cerca de um terço. O que está a acontecer é que a Ásia e o Pacífico, no turismo como no resto da economia, estão a mudar o mundo. Está a nascer uma nova classe média que emerge com bastante pujança".
Assim, diz, o setor turístico português, habituado a um "turismo de proximidade", tem de "habituar-se a um turismo de mercados emissores mais longínquos", o que "tem exigências não só do ponto de vista da moobilidade e das infraestruturas, mas, também, do ponto de vistsa cultural".
"Portugal tem tudo a ganhar com alojamento local", desde que limitado
O economista defendeu, ainda, uma maior regulação do alojamento local em Portugal, semelhante à que se faz na Holanda, onde há limites temporais a este segmento do turismo.
"Portugal tem tudo a ganhar em ter alojamento local, desde que seja verdadeiro alojamento local", começou por dizer sobre este assunto. Em causa, continuou, o facto de o alojamento local ter, na sua génese, a "economia de partilha, não a falsa hotelaria".
"A Holanda é um bom exemplo para Portugal, em que durante uma parte do ano podem partilhar-se casas e na restante não se podem", propôs.
Em Amesterdão, o arrendamento de casas a turistas só é permitido até 30 dias por ano, estando proibido o alojamento de mais de quatro hóspedes em simultâneo. O proprietário tem ainda de viver na casa durante o tempo em que a mesma não é arrendada a turistas.
"Não há economia sólida e competitiva sem regras de concorrência", concluiu Augusto Mateus.
* A jornalista viajou à Madeira a convite da APAVT.
O economista falava, esta sexta-feira, 15 de novembro, no congresso anual da Associação das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que decorre, até 16 de novembro, na Madeira. Numa intervenção onde apresentou a estratégia para o turismo que acredita dever ser seguida durante a nova legislatura, Augusto Mateus ilustrou o peso do setor para a economia.
O setor ganhou particular importância durante o período da crise. "Desde 2008 até agora, mais de metade do crescimento do consumo interno deve-se a despesas de não residentes. O conjunto da população portuguesa fez aumentar o consumo interno menos do que os turistas que vieram a Portugal".
É por estes números que o setor deve preparar-se para as alterações iminentes, defendeu ainda. "Estamos em cima não tanto de um fim de ciclo, mas de uma mutação qualitativa muito importante. Temos uma responsabilidade que é fazer acontecer esse salto qualitativo. A gestão corrente não permite saltos qualitativos, permite apenas ganhos de eficiência, ganhos nos resultados das empresas, ganhos na procura".
Desde logo, apontou, é preciso dar atenção ao crescimento do mercado asiático. "A Europa já representou dois terços dos turistas mundiais. Passou recentemente menos de metade e estabilizará em cerca de um terço. O que está a acontecer é que a Ásia e o Pacífico, no turismo como no resto da economia, estão a mudar o mundo. Está a nascer uma nova classe média que emerge com bastante pujança".
Assim, diz, o setor turístico português, habituado a um "turismo de proximidade", tem de "habituar-se a um turismo de mercados emissores mais longínquos", o que "tem exigências não só do ponto de vista da moobilidade e das infraestruturas, mas, também, do ponto de vistsa cultural".
"Portugal tem tudo a ganhar com alojamento local", desde que limitado
O economista defendeu, ainda, uma maior regulação do alojamento local em Portugal, semelhante à que se faz na Holanda, onde há limites temporais a este segmento do turismo.
"Portugal tem tudo a ganhar em ter alojamento local, desde que seja verdadeiro alojamento local", começou por dizer sobre este assunto. Em causa, continuou, o facto de o alojamento local ter, na sua génese, a "economia de partilha, não a falsa hotelaria".
"A Holanda é um bom exemplo para Portugal, em que durante uma parte do ano podem partilhar-se casas e na restante não se podem", propôs.
Em Amesterdão, o arrendamento de casas a turistas só é permitido até 30 dias por ano, estando proibido o alojamento de mais de quatro hóspedes em simultâneo. O proprietário tem ainda de viver na casa durante o tempo em que a mesma não é arrendada a turistas.
"Não há economia sólida e competitiva sem regras de concorrência", concluiu Augusto Mateus.
* A jornalista viajou à Madeira a convite da APAVT.