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Português funda start-up na China com mira no mercado latino-americano
Radicado em Xangai há uma década, Pedro Aguiar trabalhou sempre em empresas grandes, até que no ano passado decidiu aventurar-se no mundo local das start-ups, animado pela crescente aposta da China na tecnologia e inovação.
"Aqui, toda a gente ambiciona ter o seu próprio negócio", diz o empresário, de 35 anos, natural de Lisboa e a viver na China desde 2007. "É contagiante". Baptizada de GameBau, a empresa de Pedro Aguiar faz jogos para telemóvel e, apesar de ter sede em Xangai, a capital económica do país asiático, o seu alvo é a América Latina.
"É um mercado emergente e acreditamos que será uma grande potência na área 'mobile' e digital", refere Pedro Aguiar.
No escritório da GameBau, o português trabalha lado a lado com os seus 15 funcionários e o sócio chinês, desafiando o que é costume nas firmas locais, onde a chefia permanece numa sala à parte. As instalações incluem uma mesa de matraquilhos, consolas antigas e decoração de Natal. Nas paredes, estão expostas várias imagens de Lisboa, registadas pelo fotógrafo esloveno Tit Viscek.
"Tentamos criar um espaço confortável para toda a gente", comenta o empresário.
Formado em Engenharia de Telecomunicações e Computadores, Pedro Aguiar aterrou em Xangai para estagiar nos escritórios da multinacional francesa Alcatel-Lucent, através do programa InovContacto da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). Sede de um município com cerca de 24 milhões de habitantes, Xangai é uma das mais cosmopolitas cidades da China, juntamente com Hong Kong.
Nove meses após concluir o estágio, Pedro conseguiu trabalho como assistente de produtor numa firma local de jogos para consolas.
"Nunca tinha trabalhado em jogos (...) mas dois meses depois de começar deram-me uma equipa com trinta chineses e seis meses para concluir um projeto", conta. A "vontade de controlar o futuro", "utilizar as próprias ideias" e "fazer algo novo", levaram-no a trocar o emprego estável por um projecto seu.
O investimento inicial na GameBau, no valor de nove milhões de yuan (1,2 milhões de euros), foi garantido três horas após a primeira reunião com um grupo de investidores em Shenzhen, o centro tecnológico da China, no sul do país.
"Ligaram-nos a dizer: 'Fiquem cá mais um dia que nós vamos assinar o contrato'", recorda Pedro Aguiar.
"Temos a componente chinesa, que dá confiança aos investidores, e o elemento estrangeiro, que dá segurança a um negócio escalável para fora da China", nota. Ao longo do seu percurso profissional no gigante asiático, o português assistiu a "uma evolução muito rápida dos acontecimentos", com Pequim a apostar agora tudo na inovação e tecnologia.
"Quem visita uma unidade da indústria pesada ficará com a impressão de que a economia está a enfraquecer", disse o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Março passado, no fim da sessão anual da Assembleia Nacional Popular.
"Porém, numa zona de empresas de tecnologia sente-se uma economia pujante", acrescentou.
Desde a Europa aos Estados Unidos, a nação asiática tem adquirido empresas importantes em ramos como a saúde, banca, logística, energia ou robótica, numa onda de investimentos que abrange também Portugal.
"Eles acreditam que ter um pé em todas essas indústrias dá acesso a conhecimento que depois pode ajudar as empresas aqui", diz Pedro Aguiar.
Os empreendimentos do português em Xangai não se limitam à indústria dos jogos: uma filha de um ano e um outro bebé que nascerá dentro de seis meses são os seus outros "dois projetos".
"Apesar das noites mal dormidas, continuo a ter energia", conta. "Como me sinto feliz, tenho vontade para acordar e alegria quando chego a casa".