Notícia
70% das empresas só conta com recuperação em 2022 ou 2023
O regresso à normalidade não deverá acontecer até ao final deste ano, segundo um inquérito empresarial da AEP que “vem confirmar a necessidade de apoiar urgentemente o financiamento e a capitalização das empresas”.
Quase metade das empresas portuguesas (47%) só perspetiva o regresso à normalidade em 2022, havendo ainda 23% que aponta para essa recuperação apenas a partir de 2023.
Esta é uma das conclusões do mais recente inquérito à retoma da atividade económica, realizado durante o mês de abril pela Associação Empresarial de Portugal (AEP) e a que responderam 450 empresas de âmbito nacional e diversos setores.
"É muito preocupante. (…) Este resultado vem confirmar a necessidade de apoiar urgentemente o financiamento e a capitalização das empresas. É fundamental a rápida implementação de instrumentos de apoio como, por exemplo, o Banco Português de Fomento, que deverá ter um papel relevante", disse ao Negócios o presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro.
No primeiro trimestre deste ano, mais de metade das inquiridas (53%) teve uma redução do volume de negócios e também da carteira de encomendas. No que toca ao número de trabalhadores, 76% diz que manteve, sendo igual (12%) a percentagem que diz ter aumentado e diminuído o efetivo.
O investimento é outra vítima da crise provocada pela pandemia de covid-19. Nos primeiros três meses do ano, apenas 6 em cada 100 inquiridas referem ter aumentado. E quase um terço cortou mesmo no valor investido, em comparação com o mesmo período de 2020.
Já para este segundo trimestre – e numa comparação com uma "situação de normalidade" –, 41% das empresas espera ainda uma quebra do volume de negócios, embora com "perspetiva de melhoria" face ao registado no período entre janeiro e março deste ano.
"A recapitalização e o prolongamento dos apoios são essenciais enquanto for necessário travar o encerramento de empresas viáveis. Não podemos, nem devemos, aguardar até ao final do verão", dramatiza o líder da AEP, acrescentando que "não tem dúvidas de que serão novamente as empresas a ter um papel determinante na recuperação económica e social do país".
Como o Negócios noticiou, o endividamento das pequenas e médias empresas (PME) disparou com a pandemia de covid-19. Em fevereiro, o último valor para o qual há dados, as dívidas destas empresas à banca subiram 11,8%, em termos anuais. Nem recuando a 2008, o início da série estatística do Banco de Portugal, é possível encontrar um ritmo tão acelerado de crescimento das dívidas.
Já questionados sobre os principais problemas no funcionamento das medidas de apoio à economia, o prazo demorado continua a ser avaliado como o de maior relevância, seguido pela instabilidade legislativa, pela complexidade e pelo montante insuficiente.
Neste inquérito feito regularmente pela histórica associação patronal sediada em Matosinhos, as empresas dizem ainda concordar que um dos grandes constrangimentos nos apoios às empresas é a rigidez laboral, designadamente na obrigatoriedade de manutenção dos postos de trabalho. Apenas 6% discordam desta afirmação.
Relevante ou muito relevante é ainda como a esmagadora maioria das empresas (94%) classifica a importância do "forte envolvimento" das empresas nacionais ou a atuar em território nacional na execução do investimento público, tendo em conta o "avultado afluxo de fundos comunitários" resultante dos dois quadros financeiros plurianuais (PT2020 e 2021-2027) e do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).