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Rei dos cogumelos vai fechar uma fábrica e dispensar 100 pessoas

O grupo Sousacamp, que vai passar para as mãos de uma capital de risco após o Novo Banco e o Crédito Agrícola perdoarem 35 milhões de euros, vai fechar a unidade industrial de Paredes e concentrar a produção em Vila Flor e Vila Real, reduzindo o efetivo para 350 pessoas.

O grupo fundado por Artur Santos vai passar para as mãos da capital de risco Core Capital.
17 de Janeiro de 2020 às 16:30
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A cerca de duas semanas da assembleia de credores que deverá aprovar o plano de recuperação da maior produtora portuguesa de cogumelos, que propõe a sua entrega à capital de risco Core Capital, após um perdão de dois terços de uma dívida de 60 milhões de euros, os mais de 450 trabalhadores do grupo Sousacamp ficaram a saber que perto de uma centena deles serão dispensados.

A produção será concentrada nas fábricas de Benlhevai (Vila Flor) e Vila Real, encerrando-se os setores de colheita e produção da unidade industrial de Paredes, que continuará a centralizar as áreas de embalamento e expedição do grupo, onde trabalham mais de 100 pessoas.

 

"Para a opção de concentrar a produção nas duas unidades localizadas no interior – Benlhevai e Vila Real, ao invés de Paredes, pesou, além das questões estruturais subjacentes à própria unidade - que é aquela que apresenta maiores necessidades de intervenção -, o facto de ser em Paredes que existe a maior facilidade para recolocação dos colaboradores no mercado de trabalho, em razão da existência de um tecido industrial mais vasto e dinâmico", explicou, ao Negócios, o administrador de insolvência da empresa.

 

"Caso a opção recaísse por uma das outras duas unidades de produção (Vila Real ou Benlhevai), o seu impacto, do ponto de vista social, apresentar-se-ia bem mais nefasto, o que se apresentou determinante", sublinhou Bruno Costa Pereira.

 

Ainda neste ponto, o mesmo gestor judicial deu conta que, "neste processo, também se verão salvaguardas as situações dos casais que trabalhem num mesmo setor, porquanto, será assegurado o emprego para um dos membros na unidade, ainda que realocado a um outro setor".

Para concretizar a "redução necessária" do quadro de pessoal do grupo, "dar-se-á primazia absoluta a acordos de rescisão por mútuo acordo, assegurando-se o pagamento integral e imediato da totalidade dos créditos laborais que correspondam a cada colaborador", detalhou Bruno Costa Pereira.

Após a reorganização industrial e corte do efetivo, o grupo Sousacamp "continuará a garantir o emprego direto de mais de 350 pessoas em Portugal", enfatizou.

 

Quebra de produtividade determina "medidas de contingência"

O administrador de insolvência frisou que o percurso tendente à recuperação do grupo "apresentou-se complexo, primeiro pelo tempo decorrido até à votação do plano que se viu apresentado pelos acionistas/administradores do grupo - quase um ano desde a data de declaração de insolvência, e um ano e meio desde o momento em que o grupo se apresentou a uma medida de reestruturação, por via da sua apresentação ao Processo Especial de Revitalização (PER)".

 

Um PER que "redundaria na sua reprovação", assistindo-se a uma "redução progressiva da produtividade, resultante de problemas ocorridos ao nível da qualidade do composto produzido, o que se traduziu em quebras de produção e consequentes dificuldades em manter o fornecimento regular junto dos clientes, com a consequente quebra no volume de negócios", assinalou.

 

Uma quebra de produtividade que, de acordo com o gestor judicial, "se veio a agudizar no último semestre de 2019" e "acabou por originar a necessidade de se verem tomadas medidas de contingência, com o objetivo de garantir a normalização da produção e assegurar uma racionalização da capacidade instalada, visando melhorar os níveis de eficiência industrial, essencial para o equilíbrio operacional", considerou.

 

Neste âmbito, remata Bruno Costa Pereira, "foi constatada a necessidade de concretizar intervenções de fundo no setor de compostagem do grupo", que é responsável pela produção de composto, matéria a partir da qual se desenvolvem os cogumelos, "e operar a concentração da produção em duas das três unidades industriais detidas pelo Grupo – em Benlhevai e Vila Real -, ajustando e racionalizando a estrutura de custos, por um lado, e criando condições para que se veja modernizados os setores que verão a atividade suspensa".

Futuro do grupo nas mãos de um ex-diretor de jornais

No dia 30 de janeiro, os credores da Varandas de Sousa, o braço industrial do grupo Sousacamp, deverão aprovar o plano de recuperação da empresa, com o seu credor maioritário a perdoar perto de 70% dos seus créditos - o Novo Banco aceito fazer um "haircut" de cerca de 24 milhões dos mais de 34 milhões de euros que tinha a haver, enquanto o grupo Caixa Agrícola Mútuo fez um desconto de 11 milhões aos 15,9 milhões de euros que reclamava.

 

Já os credores comuns foram obrigados a perdoar praticamente todos os seus créditos sobre a Varandas de Sousa, o braço industrial do grupo Sousacamp. Estão em causa empresas como o grupo Galp (203 mil euros), a EDP (42 mil), a Euroguano (270 mil), a Saica Pack (262 mil) ou a Caterpillar (162 mil euros).

Com os créditos do Fisco (2,4 milhões de euros) e da Segurança Social (881) a serem pagos na totalidade, resta saber o destino dos 4,4 milhões de euros devidos ao Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), que estão condicionados à boa execução dos apoios financeiros concedidos à empresa.

 

O grupo fundado por Artur Sousa, que entrou em colapso após a falência do BES, que chegou a deter 39,1% da empresa através da sua capital de risco ES Ventures, vai agora para o universo da Core Capital, que tem como sócios, entre outros, Martim Avillez Figueiredo (antigo diretor do jornal i e do falido Diário Económico) e Nuno Fernandes Thomaz (presidente da Centromarca e ex-administrador da CGD).

 

(Notícia atualizada às 17:12)

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