Notícia
Quebra fora da Europa estabiliza exportações do metal em 2016
As vendas ao exterior da indústria de metalurgia e metalomecânica subiram apenas 0,2%, penalizadas por Angola, China e Alemanha. Peças técnicas, máquinas e componentes automóveis conduziram a novo recorde fora de portas.
A redução de 18,6% das exportações para os mercados fora da União Europeia, equivalente a uma perda de 713 milhões de euros, contribuiu para a estabilização das vendas ao exterior por parte da indústria portuguesa de metalurgia e metalomecânica durante o ano passado. Peças técnicas de alto valor acrescentado, componentes para a indústria automóvel e tecnologias de produção (máquinas) foram os segmentos com melhor comportamento.
Segundo os dados divulgados esta quarta-feira, 1 de Março, pela principal associação industrial do sector (AIMMAP), as exportações atingiram um valor total de 14.596 milhões de euros – sendo 78,6% realizados pelas cerca de 15 mil empresas nos países comunitários. Esta progressão global de apenas 0,2% foi, ainda assim, suficiente para "superar ligeiramente o ano de 2015, que tinha sido o melhor de sempre" para o sector.
Ao Negócios, o vice-presidente da AIMMAP explicou que "esta trajectória descendente [fora da UE] foi claramente condicionada pelo mau desempenho nas vendas para Angola e China". "Na verdade, só nestes dois mercados foram perdidos mais de 500 milhões de euros de vendas. O caso angolano foi de longe o mais negativo, com um decréscimo de 316 milhões de euros face ao ano anterior", detalhou Rafael Campos Pereira.
Outro factor que impediu uma maior progressão nas exportações foi o comportamento da Alemanha, o único dos principais mercados europeus a registar uma quebra (-6,5%). Apesar de em 2016 ter recuado as compras às empresas portuguesas, de 2.718 para 2.542 milhões de euros, mantém-se como o segundo destino mais relevante no estrangeiro.
Na liderança mantém-se a Espanha, que vale 23% do total do total das exportações e foi também o país que mais cresceu em termos absolutos (cerca de 282 milhões de euros), equivalente a uma progressão homóloga de 9,1%. O terceiro lugar do ranking é ocupado pela França, com uma quota de 14,5%.
Rafael Campos Pereira deixou ainda "uma menção muito especial" aos 1.385 milhões de euros facturados no Reino Unido, num ano marcado pelo referendo sobre a saída da União Europeia. Dos dez maiores, foi o que teve a subida mais significativa em termos percentuais (17,7%) e, mesmo em valores absolutos, o aumento de 208 milhões de euros face a 2015 é classificado como "verdadeiramente notável". O porta-voz do sector completou que, com uma quota acima de 9% nas vendas globais, o mercado britânico "assumiu-se definitivamente como o quarto mais importante".
A metalurgia e a metalomecânica abrangem uma multiplicidade de subsectores – desde agulhas a gruas, passando por talheres e máquinas –, o que contribui para a classificação de sector industrial mais exportador da economia portuguesa. A quota de exportação em 2016 apenas será apurada no final do primeiro trimestre deste ano depois da entrega dos compromissos fiscais. No ano passado, o sector facturou no exterior cerca de 47% do valor total, com a AIMMAP a estimar que a quota em 2016 "não deverá ser muito diferente, embora se tenha verificado alguma recuperação do mercado interno que poderá alterar ligeiramente esta percentagem".
Brexit, Trump e Europa "lenta" condicionam 2017
Para 2017, o vice-presidente desta associação empresarial mantém "boas expectativas", ainda que admita que "os vários acontecimentos políticos recentes possam condicionar este comportamento". Quais? O Brexit, que no final do ano já trouxe "alguns sinais preocupantes" ao nível das vendas; a "pressão por via das políticas proteccionistas" de Donald Trump nos EUA – o quinto maior mercado em 2016, onde havia "expectativas legítimas de crescimento" e "agora há muita incerteza" –; e também "a retoma na Europa [que] está muito lenta".
Apesar destes constrangimentos num sector que aumentou as exportações na ordem dos 40% desde o início da década, Rafael Campos Pereira assegurou que as indústrias do metal vão "continuar a apostar na inovação e na engenharia e qualidade dos seus produtos e serviços" e também numa "política de internacionalização para mercados de valor acrescentado". Para este ano está programada a presença nas principais feiras de subcontratação industrial e um alargamento do "leque de missões para mercados com elevado potencial".