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UE lança contraofensiva no setor eólico para combater novo domínio asiático

Bruxelas quer "ressuscitar" a indústria eólica europeia e "não criar novas dependências", como já acontece nos painéis solares.

Em três anos, o primeiro parque eólico “offshore” em Portugal produziu energia suficiente para 60 mil casas. O Governo quer replicar o projeto.
Dani Mora
24 de Outubro de 2023 às 13:33
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Com a União Europeia a perder, nos últimos dois anos, a sua liderança mundial na energia eólica para os países da região Ásia-Pacífico, como admitiu esta terça-feira a comissária Europeia da Energia, Kadri Simson, Bruxelas decidiu avançar com um novo Plano de Ação para a Energia Eólica.

"Estamos a ficar para trás e temos de reduzir a dependência de tecnologias renováveis importadas", alertou. 

O objetivo, garante a comissária, não é fechar o mercado dos 27 nem entrar em guerras comerciais com a China, por exemplo, por causa dos auxílios estatais dados por Pequim ao setor das renováveis, mas sim "ressuscitar" a indústria eólica europeia e "não criar novas dependências", como já acontece nos painéis solares. 

"O setor da energia eólica é fundamental para os nossos objetivos em matéria de energia limpa, mas temos de garantir que se pode fazer negócios num ambiente justo e favorável. Estamos empenhados em trabalhar com os Estados-Membros e a indústria para concretizar os nossos objetivos legislativos no terreno. As ações que hoje definimos garantirão que a energia eólica continua a ser um forte interveniente europeu no setor". disse Kadri Simson.

E apesar de em 2022 a energia eólica na UE ter sido responsável por 16% da produção de eletricidade (com esta percentagem a chegar aos 30% em muitos dias), a indústria europeia tem sido abalada por um "conjunto único de desafios": procura insuficiente e incerta; lentidão e complexidade das licenças; inflação elevada; preços altos das matérias-primas; leilões nacional mal concebidos; maior pressão por parte dos concorrentes internacionais; e falta de mão-de-obra-qualificada.

"Esta situação exige uma ação imediata. Tal como anunciado pela presidente Ursula von der Leyen no seu discurso sobre o Estado da União, a Comissão Europeia apresenta hoje um Plano de Ação europeu para a energia eólica", refere Bruxelas. O objetivo é chegar a 45% de energias renováveis até 2030, o que "exigirá um aumento massivo da capacidade eólica instalada" de 204 GW em 2022 para mais de 500 GW em 2030.

Bruxelas quer também dar um novo fôlego à indústria eólica do continente através da tecnologia offshore. Em 2022, os 27 tinham uma capacidade de produção eólica offshore de 16,3 GW. "Isto significa que, para colmatar o fosso entre os 111 GW já autorizados pelos Estados-Membros e a capacidade existente, temos de instalar, em média, quase 12 GW/ano — ou seja, 10 vezes mais do que os novos 1,2 GW instalados no ano passado", refere a Comissão Europeia.    

"Este pacote ajudará o setor europeu da energia eólica a crescer a nível interno e a competir a nível mundial, reduzindo assim as dependências de fornecedores externos e criando empregos verdes para os trabalhadores", rematou por seu lado Maroš Šefcovic, vice-presidente executivo responsável pelo Pacto Ecológico Europeu.

Do lado das empresas, o CEO da WindEurope, Giles Dickson, acredita que "o novo plano de ação da UE vai mudar o jogo para a indústria eólica na Europa. As novas ações em matéria de financiamento, leilões e licenciamento irão acelerar o desenvolvimento de novos parques eólicos. E ajudarão a cadeia de abastecimento europeia a fornecer o equipamento necessário".

A associação confirma que a cadeia de abastecimento eólica europeia está a passar por dificuldades neste momento, depois dos custos terem aumentado acentuadamente nos últimos dois anos. "Ao mesmo tempo, os fabricantes chineses de turbinas eólicas começam agora a garantir encomendas na Europa e oferecem turbinas mais baratas e condições de pagamento diferido, subsidiadas injustamente pelo Estado chinês", acusa a WindEurope.

O Plano de Ação para a Energia Eólica da Comissão Europeia inclui medidas em seis domínios principais:

  1. Aceleração da implantação de capacidade eólica através de processos de licenciamento mais rápidos e digitais. Em 2022, foi acrescentado um número recorde de 16 GW de instalações de energia eólica, o que constitui um aumento de 47 % em relação a 2021. No entanto, este valor é muito inferior aos 37 GW/ano necessários para alcançar a meta da UE para 2030 em matéria de energias renováveis. Nas redes elétricas, será lançado um novo plano de ação ainda em 2023;
  2. Melhoria nos leilões eólicos, com critérios bem concebidos e objetivos que recompensem equipamentos de maior valor acrescentado e garantam que os projetos são realizados na íntegra e atempadamente. 
  3. Acesso ao financiamento. A Comissão facilitará o acesso ao financiamento através do Fundo de Inovação, ao passo que o Banco Europeu de Investimento (BEI) disponibilizará garantias de redução dos riscos. 
  4. Combate a práticas dsleais. A Comissão Europeia vai acompanhar de perto eventuais práticas comerciais desleais que beneficiem os produtores estrangeiros de energia eólica e continuará a recorrer a acordos comerciais para facilitar o acesso aos mercados estrangeiros. Serão eliminados obstáculos ao investimento.
  5. Competências. Serão lançadas academias europeias — incluindo uma dedicada ao setor da energia eólica - para formar 100.000 alunos no prazo de três anos. 
  6.  Envolvimento da indústria. Será elaborada uma Carta Eólica da UE para que a indústria continue a ser competitiva.
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