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Tarifas: AIP propõe apoios à tesouraria das empresas e ao investimento direto nos EUA

AIP diz que investir diretamente nos Estados Unidos a produção abrangida pelas tarifas impostas por Donald Trump figura como uma das medidas que as empresas estão a equacionar, pelo que sugere ao Governo a criação de um instrumento financeiro suportado por garantia pública para o efeito.

08 de Abril de 2025 às 16:51
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A AIP - Associação Industrial Portuguesa propôs ao Governo a criação de apoios à tesouraria das empresas, mas também ao investimento direto por parte de empresas nos Estados Unidos, como forma de mitigar o impacto das tarifas anunciadas por Donald Trump.

As propostas constam de um relatório elaborado pela AIP, que resultou de uma análise feita às respostas de um inquérito junto das suas assoaciadas com relações comerciais com os Estados Unidos e de uma reflexão interna, enviado ao Ministério da Economia. A AIP foi uma das entidades "convocadas" por Pedro Reis, mas cujos representantes não se reuniram com o ministro, à semelhança do que sucedeu com outras, por motivos de agenda, dado que a tutela antecipou a convocatória, arrancando esta terça-feira com a "ronda" de auscultação que envolve um universo de aproximadamente duas dezenas de associações empresariais.

Segundo o documento, facultado ao Negócios, do pacote que a AIP entende que o Governo deve pôr em marcha figura, desde logo, a "criação de um instrumento financeiro com garantia pública de apoio tesouraria das empresas cuja produção foi afetada diretamente pelas medidas aduaneiras", mas também a de um outro, igualmente "suportado por garantia pública, para os investimentos diretos de empresas portuguesas nos Estados Unidos".

Estas propostas surgem em linha com as medidas que as próprias empresas estão ou ponderam implementar, com a AIP a dar conta de que passam pelo "redireccionamento para novos mercados, sobretudo
os menos afetados pelas alterações tarifárias", com uma "estratégia de reexportação aproveitando mercados beneficiados com tarifas mais baixas", mas também por "reforçar a internacionalização investindo
diretamente nos EUA a produção abrangida pelas tarifas aduaneiras".

A organização presidida por José Eduardo Carvalho sugere ainda um "reforço dos protocolos de seguros de crédito a empresas exportadoras" e a "criação de fundos de garantia às transações comerciais" para mercados alternativos ao norte-americano.

Já no plano da proteção de emprego, a AIP, descrita como a mais representativa associação empresarial de Portugal, advoga por "mecanismos flexíveis de gestão laboral ('lay-off' total ou parcial) até se proceder ao reajustamento das relações comerciais", assim como por um "programa de requalificação profissional, com particular realce para a área do comércio internacional".

Pacote mínimo de 500 milhões de euros

Para financiar o pacote de ajudas, a AIP sugere a "reafectação de parte dos 1,2 mil milhões de euros alocados ao programa STEP", sigla em inglês de Plataforma de Tecnologias Estratégicas para a Europa, destinada a investimentos em áreas críticas: "A reprogramação efetuada no Compete 2030, com a alocação de 1,2 mil milhões à agenda STEP dificilmente será utilizada. Países como a Alemanha, Espanha e França submeteram reprogramações mais modestas (...). Como vai ser inevitável recorrer aos fundos estruturais nestas situações de emergência, a reafectação de parte do montante agora reprogramado, poderá ser uma solução de financiamento das medidas de apoio a implementar, propondo-se afetar um valor não inferior a 500 milhões de euros para as medidas agora propostas".

Resulta ainda do inquérito, segundo a AIP, que "o plano de resposta governamental deve centrar-se nas empresas cujos produtos serão mais afetados pela política aduaneira dos Estados Unidos e não generalizado a todo o setor".

A par com estas propostas concretas, a AIP insta, de uma forma geral, o Governo a "monitorizar o potencial redireccionamento da produção destinada aos Estados Unidos para o mercado europeu por parte da China e de outros produtores afetados pelas tarifas, provocando um acréscimo significativo de concorrência, num mercado que absorve 80% das vendas ao exterior da produção nacional", a "negociar e estabelecer acordo a nível da UE que previnam situações de desequilíbrio", enquanto exorta à ação diplomática, apontando que "o Governo português deve assumir um papel ativo nas relações bilaterais lideradas pela Comissão Europeia, defendendo os interesses particulares das empresas portuguesas".

Um apelo em linha com "a opinião de muitas das empresas" de que "devem ser adotadas medidas de negociação, deixando para segunda fase e caso necessário, as de retaliação, evitando a fragmentação dos mercados, ou se existirem, devem centrar-se no setor dos serviços tecnológicos".

De acordo com a AIP, com base nos dados do inquérito, "já se assiste uma redução da procura com cancelamento e suspensão de encomendas" e as perspetivas não são animadoras, dado que 28% das empresas inquiridas prevê uma redução da faturação nos próximos meses acima de 50%. Já 58% aponta para quebras entre 20 a 35%, enquanto 14% antecipa um golpe de 10 a 20% no volume de negócios. 

As tarifas anunciadas por Donald Trump entram em vigor na quarta-feira, dia 9, data a partir da qual todos os produtos da UE serão taxados a 20%.

Os Estados Unidos figuram como quarto maior mercado das exportações de Portugal. Considerando a estrutura de bens exportados em 2024, como assinala a AIP, os setores mais afetados serão a indústria química, produtos minerais; máquinas; têxteis, plásticos e agroalimentar.

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