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Nevermind: Faturar às casinhas com Love in a Box
De repente, Susana Silva viu-se confinada em casa com dois filhos pequenos e a sua promotora de eventos com todos os contratos cancelados ou adiados. Reinventou o negócio, multiplicou as vendas e o efetivo e até vai abrir uma loja na Suíça.
Susana Silva viu-se forçada a repensar a vida, em março do ano passado, quando os contratos da sua empresa de eventos foram todos cancelados ou adiados. Confinada em casa com os seus dois filhos pequenos, identificou uma necessidade do mercado - a de conciliar o teletrabalho com a vida familiar. E foi por aqui que a empresa se reinventou. Instalou uma indústria 4.0, duplicou o efetivo e vai abrir a sua primeira loja Love in a Box na Suíça.
A 8 de março de 2019, Dia Internacional da Mulher, três portuguesas fundavam uma empresa especialista em criar e concretizar eventos, experiências e parques infantis em grandes superfícies comerciais, espaços públicos e para outras marcas. À frente da Nevermind, Susana Silva, 43 anos, dois filhos, licenciada em Marketing, que dedicou grande parte da sua vida à gestão de marca e direção da produção de eventos em Portugal e no estrangeiro.
Parceiras nesta aventura empresarial: Alexandra Costa, 45 anos, duas filhas gémeas e "boadrasta" de três jovens, formada em Marketing e que desenvolveu a sua carreira na indústria de centros comerciais ao longo de quase duas décadas; e Alexandra Lopes, 25 anos, formada em Criminologia, mas que se apaixonou pela área dos eventos.
Passado um ano, quando já tinha oito funcionários e o negócio ia de vento em popa, tendo já assegurado para 2020 adjudicações no valor de 600 mil euros, a Nevermind fica sem chão. "Em finais de fevereiro [de 2020], começamos a sentir os primeiro efeitos da pandemia: eventos adiados, da Páscoa para o verão, nomeadamente dos nossos clientes estrangeiros, como Inglaterra, Escócia e França, seguindo-se, em março, Portugal e Espanha", conta Susana Silva ao Negócios.
Em síntese, todos os eventos que tinham previsto realizar nessa Páscoa "foram cancelados ou adiados". A CEO percebeu, logo "em fevereiro", que "algo ia mudar na realidade da Nevermind e que era decisivo reinventar o negócio". Confinada em casa, com dois filhos, na altura com 8 e 3 anos, Susana decidiu não atirar a toalha ao chão, dando corpo à ideia de criar "com amor", espaços de brincadeira dentro de casa.
De grandes festas para a Love in a Box
"Identificámos uma necessidade do mercado que se mostrou mais visível com o confinamento e com o distanciamento social a que todos estamos sujeitos - a aprendizagem, o recreio e a ginástica das crianças passaram a ser em casa. E o teletrabalho para os pais, uma nova realidade. A conciliação saudável da vida profissional com a vida familiar passou a ser uma necessidade", afirma a empresária.
Vai daí, a reinvenção da Nevermind passou por levar às famílias algo que a empresa "já sabia fazer, e bem, para grandes espaços, mas agora adaptado a espaços confinados, que podiam ser o quarto, a sala, o jardim, a garagem, o sótão, onde a imaginação nos levasse..." Ou seja, a empresa passou a desenhar e a construir equipamentos como casinhas térreas, lofts, casas da árvore, caixas, almofadões ou salas de estudo, com vários acessórios e módulos que possam ser acrescentados.
E assim nasceu a marca Love in a Box, que surgiu "para dar resposta aos vários desafios que a maioria das empresas e as famílias enfrentam nos dias de hoje: ‘dar a volta’ a uma crise que parou mais de 180 países, e a necessidade de continuar a produzir, mesmo com os filhos em volta das mesas de trabalho", sinaliza Susana Silva.
1,5 milhões na conversão de ex-têxtil numa indústria 4.0
O sucesso da loja online pegou fisicamente de estaca, com um investimento de 1,5 milhões de euros na reabilitação e adequação de uma antiga têxtil em Labruge, Vila do Conde, parada há mais de duas décadas, onde se fabricava camisas e empregava quatro centenas de pessoas. Entretanto, este espaço "está a ser comprado com o apoio de parceiros de negócio que acreditam no nosso projeto", adianta a empresária.
Aqui a Nevermind tem instalada "uma indústria 4.0, que passa a vender para o mundo equipamentos infantis, desde casinhas, casas de árvore, elaborados parques temáticos, mobiliário, acessórios e, mais recentemente, carpintaria de apoio à construção".
Depois de ter chegado ao final do atípico ano de 2020 com uma faturação na ordem dos 300 mil euros, a empresa, que tem neste momento 18 trabalhadores, distribuídos pelas áreas criativa, produção e logística, prevê encerrar 2021 com vendas a rondar um milhão de euros.
Primeira loja Love in a Box abre em junho na Suíça
A CEO afiança que, nesta altura, já fechou negócios de cerca de 600 mil euros para a indústria e 120 mil na Love in a Box, "sendo a área dos eventos ainda uma incógnita, mesmo havendo negociações em curso, mas que dependem de fatores de saúde pública", ressalva. Aliás, na atividade fundacional da Nevermind, Susana Silva só acredita "numa retoma a 100% em 2023", quando espera voltar "a níveis de faturação que a empresa estava em março de 2020".
Entretanto , com a estratégia da Love in a Box em Portugal centrada nas plataformas digitais, e existindo na fábrica um ‘"showroom", a Nevermind não equacionou a abertura de lojas próprias, "mas sim estabelecer parcerias e dar a possibilidade de revenda dos produtos". O que começou por acontecer, curiosamente, no estrangeiro.
No dia 20 de junho, abre na cidade suíça de Wangen, nas margens do Lago de Zurique, a primeira loja física da Love in a Box, que seguirá toda a linha criativa da marca e só vai comercializar os seus produtos. "Marco Carneiro, um empresário português residente na Suíça, e Simon Friedlos, tomaram conhecimento e apaixonaram-se pelo conceito, e perceberam o potencial da marca nos mercados que operam - Suíça, Alemanha, Áustria e Liechtenstein", conta a CEO da Nevermind.
"Idealmente", Susana Silva espera que estes quatro mercados "irão representar cerca de 40% do volume de negócios" da empresa, cuja estimativa está fixada em "12,5 milhões de euros nos próximos cinco anos". A loja suíça, que tem 400 metros quadrados, distribuídos por dois pisos, representou um investimento de 200 mil euros e vai gerar a criação de meia dúzia de postos de trabalho.
Em termos de expansão internacional, "sempre que se identificarem oportunidades de negócio e de expansão da marca, todas as possibilidades de parcerias serão analisadas", enquanto em Portugal está a negociar "novos revendedores, lojas e a criar a figura do ‘embaixador da marca’, que será uma pessoa que poderá ter aqui uma oportunidade de negócio e fazer a ponte entre a marca e o consumidor final".