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Francisco Calheiros: Apoios têm de sair do papel porque empresas "estão presas por arames"

O presidente da Confederação do Turismo Português avisa que muitas empresas correm o risco de "morrer na praia" e diz que os apoios "têm de sair do papel". O pior pode até ter passado, mas uma quebra de 56% em 2021 "é um desastre", alerta.

25 de Setembro de 2021 às 11:13
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O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) instou o Governo a pôr em prática medidas de apoio que ficaram "no papel", porque as empresas "estão presas por arames" e corre-se o risco de "morrer na praia".

"Muitas das empresas [do setor do turismo], neste momento, estão presas por arames. E qual é o problema? O problema é que não podemos morrer quando estamos a chegar à praia. Quer dizer, estamos a ver a praia e este esforço de um ano e meio é fundamental que não seja infrutífero", considerou Francisco Calheiros, em entrevista à agência Lusa.

O presidente da CTP acredita que em março de 2022 o setor vai retomar a sua atividade normal, com a aproximação do Carnaval e da Páscoa, bem como com o fim do período de época baixa, que se inicia agora em outubro.

"Eu diria que em março nós vamos retomar a nossa atividade normal, são cinco ou seis meses", apontou, acrescentando que, no seu entender, o Estado deve "rapidamente" passar "do papel" à prática as medidas de apoio preconizadas, ou mesmo criar outras medidas que ajudem as empresas a ultrapassar o período difícil.

O responsável reiterou os elogios à atuação do Governo no início da pandemia, no que diz respeito ao apoio às empresas, no entanto, considerou que, um ano e meio depois, "os apoios estão esgotados".

Francisco Calheiros lembrou a criação do Plano Reativar Turismo (PRT), com 6.000 milhões de euros, dos quais 4.000 milhões são exclusivamente para apoiar empresas.

"O programa está muito bem desenhado, fundamental, mas está no papel. Tem que sair do papel. Há 4.000 milhões para as empresas, há medidas fundamentais de capitalização das empresas, uma série de instrumentos financeiros para a capitalização das empresas, mas que não saíram do papel", considerou.

"Se há um ano e meio, se a medida demorasse uma semana ou duas não era grave, porque as empresas estavam muito capitalizadas, neste momento não há uma semana, ou duas, uma hora, ou duas. Cada hora que passa a situação é mais dramática, mais ainda quando daqui uma semana estamos a entrar na época baixa de outubro", alertou.

Quebra de 56% em 2021 "é um desastre"

No que toca aos efeitos da pandemia no setor, o presidente da CTP acredita que "o mal terá passado", mas aponta que a quebra de 56% estimada para este ano "é um desastre". "O que nós acreditamos é que o mal terá passado, estão reunidas as condições para a retoma do turismo", no entanto, e ainda que o setor tenha entrado numa trajetória ascendente de recuperação com o verão, o responsável descartou "um certo otimismo" de que se tem falado.

"[Perdas de] 63% em 2020, 56% em 2021, é tudo um desastre. Para quem? Para o norte, passando pelas ilhas, as agências, os hotéis, passando pelos restaurantes, é tudo péssimo. [...] 2020 e 2021 foram dois anos terríveis", apontou.

O responsável explicou que, apesar de o mercado nacional ter crescido mais de 6% em julho, o internacional decresceu 76% e, uma vez que o nacional representa menos de um terço da atividade turística, as perspetivas da CTP para 2021 são de quebras de 56%, em relação a 2019.

"Acho que há dados que convém nós termos a noção: o ano de 2020 regressou a 1993. E há um dado ainda mais curioso: o janeiro e fevereiro de 2020 foram iguais aos [do ano] de 74", sublinhou.

Francisco Calheiros destacou o sucesso do processo de vacinação em Portugal, que tem um impacto "enorme" no turismo.

"Sendo nós, neste momento, um destino extraordinariamente seguro, não há razão nenhuma para que não comecemos e retomar já em 2022 o crescimento e todos esperamos que em 2023 consigamos atingir os números de 2019, sem nunca esquecer que os anos 2017, 2018 e 2019 foram anos extraordinários, talvez os melhores anos do turismo português", afirmou.

Assim, o presidente da CTP prevê que os meses de outubro e de novembro sejam melhores do que os do ano passado e que janeiro seja melhor do que o mesmo mês dos dois anos anteriores.

Francisco Calheiros lembrou que, antes da crise provocada pela pandemia, o saldo da balança comercial do país foi positivo por causa do turismo, com uma contribuição de cerca de 12.000 milhões.

"A balança [comercial] tomou uma proporção tal que conseguiu que todas as outras atividades -- que são deficitárias -- com o turismo, a balança de Portugal fosse positiva. E isto para a imagem de um país é extremamente importante", realçou.
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