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Cirque du Soleil a caminho de ser vendido ao consórcio TPG

A companhia circense canadiana criada por Guy Laliberté, avaliada em 1,5 mil milhões de dólares poderá estar prestes a mudar de mãos, avança o The Wall Street Journal. Os compradores fazem parte de um consórcio de capitais privados liderado pela TPG.

Reuters
17 de Abril de 2015 às 19:03
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Guy Laliberté já tocou acordeão, fez equilibrismo sobre andas e cuspiu fogo. Mais tarde ajudou a fundar um novo conceito de circo, o Cirque du Soleil, do qual é actualmente presidente executivo. E agora poderá estar em vias de o vender.

 

Segundo o The Wall Street Journal, Laliberté, actualmente com 55 anos, está perto de assinar um acordo para vender a grande maioria da sua posição no Cirque a um consórcio de capitais privados liderado pela gestora de fundos norte-americana Texas Pacific Group (TPG).

 

Deste consórcio fazem parte o fundo de pensões canadiano Caisse de Dépôt et Placement du Québec e o grupo chinês Fosun – que em Portugal controla a Fidelidade e a Espírito Santo Saúde e que mostrou interesse na compra do Novo Banco.

 

Segundo as fontes citadas pelo WSJ, se o acordo for em frente, o carismático fundador da companhia circense deverá manter 10% do Cirque, bem como um assento na administração.

 

Gilles Ste-Croix, ex-director artístico que ajudou a criar o Cirque du Soleil, reformou-se há alguns anos e a companhia nunca teve um conselho de administração formal, mas sim um grupo de conselheiros a que Laliberté chama de ‘conselho de sábios’.

 

O actual valor do Cirque du Soleil, bem conhecido do público português (com espectáculos como 'Varekai', 'Alegria', 'Dralion' ou 'Quidam') está estimado em 1,5 mil milhões de dólares (1.415 milhões de euros).

 

A companhia, que tem espectáculos em digressão por todo o mundo e outros fixos (em Las Vegas, nomeadamente), emprega directa e indirectamente 1.400 pessoas no Canadá, refere o WSJ. A nova proprietária deverá decidir se o Cirque mantém a sua sede em Montreal.

 

Se o acordo de venda se consumar, Mitch Garber – executivo do jogo em Montreal, com ligações a Las Vegas, que preside à Caesars Entertainment – poderá vir a ser o nome escolhido para liderar a nova equipa, diz ainda o jornal norte-americano.

 
Um caso de estudo

O Cirque du Soleil tem sido sucessivamente apontado como um verdadeiro exemplo de empreendedorismo e inovação em obras recentes. É citado, por exemplo, nos livros "A estratégia Oceano Azul", de W. Chan Kim e Renée Mauborgne e "Mavericks no trabalho", de Polly LaBarre e William C. Taylor.

 

"Criado como um grupo de artistas de rua em 1984, o Cirque tornou-se uma marca de entretenimento global. A ascensão do Cirque já foi aclamada em incontáveis perfis empresariais publicados em revistas de economia, num extenso ensaio da Harvard Business Review e até em casos de estudo apresentados por professores dos dois lados do Atlântico nos cursos de MBA", refere "Mavericks no trabalho".

 

O fascínio é fácil de compreender. O fundador do Cirque, Guy Laliberté, criou um negócio fabulosamente bem sucedido ao reinventar o próprio conceito de circo, dizem Polly LaBarre e William C. Taylor. "Não há dúvida que o Cirque foi pioneiro numa estratégia de negócio verdadeiramente original. Mas você não conseguirá compreender o desempenho de negócio desta empresa se não compreender a sua abordagem junto dos próprios artistas. Os seus espectáculos transformaram-se em obras de arte magistrais, em larga medida porque o Cirque dominou a arte e a ciência de pesquisar, avaliar e recrutar o mais atractivo talento disponível. Estabelece uma ligação explícita entre as pessoas que atrai e o produto que oferece, entre a forma como faz negócio e quem convida para fazer parte desse negócio".

 

No Cirque, ir à procura - antes de ser necessário - implica projectar uma larga teia, refere "Mavericks no trabalho". Os membros do departamento de casting percorrem o mundo, sem descanso, à procura de artistas empolgantes e invulgares. Fazem entre 20 e 40 viagens por ano para destinos tão diversos como os ginásios da Europa de Leste, as favelas do Brasil e os yurts da Mongólia. Também assistem a uma variedade incrível de competições desportivas, sem perderem festivais de artes dramáticas e eventos culturais, nem visitas a escolas de circo.

 

Em "A Estratégia Oceano Azul", que defende que se deve desbravar terreno inovador em vez de se tentar ultrapassar a concorrência, o primeiro capítulo é dedicado ao Cirque du Soleil. "Guy Laliberté já tocou acordeão, fez equilibrismo sobre andas e cuspiu fogo. Actualmente é o presidente executivo do Cirque du Soleil, uma das maiores exportações culturais do Canadá. Criado em 1984 por um grupo de artistas de rua (...), o Cirque du Soleil atingiu um nível de receitas que demorou mais de um século a ser alcançado pelo campeão mundial da indústria circense, o Ringling Bros. and Barnum & Bailey", dizem os autores.

 

O Cirque du Soleil não concorreu com o Ringling Bros. and Barnum & Bailey. "Em vez disso, criou um novo espaço de mercado não disputado que tornou a concorrência irrelevante" e atraiu um grupo completamente novo de visitantes: "adultos e clientes corporativos preparados para pagar um preço muito acima do praticado nos circos tradicionais, a troco de uma experiência lúdica sem precedentes".

 

O Cirque du Soleil alcançou sucesso porque os seus responsáveis perceberam que as empresas, para terem um futuro bem sucedido, devem parar de competir umas com as outras. A única forma de bater a concorrência é deixar de tentar bater a concorrência, salientam os autores.

 

Ao derrubar as barreiras do mercado teatral e circense, o Cirque du Soleil passou a compreender melhor não apenas os clientes do circo mas também aqueles que não eram visita habitual: os adultos que iam ao teatro.

 

Ao contrário dos espectáculos circenses tradicionais, com uma série de números não interligados, cada criação do Cirque du Soleil obedece a um tema e enredo, assemelhando-se de alguma forma a uma apresentação teatral. Os espectáculos do Cirque também apresentam danças abstractas e espirituais, uma ideia que provém do teatro e do ballet. Ao introduzir estes novos elementos, o Cirque du Soleil criou espectáculos mais sofisticados. A companhia fixou os preços dos seus bilhetes tendo como referência estratégica os preços praticados no teatro, aumentando-os fortemente face aos da indústria circense. Assim, estabelece o preço das suas produções com vista a captar os adultos habituados aos preços praticados no teatro.

 

"Será que o Cirque du Soleil é realmente um circo, depois de ter eliminado, reduzido, incrementado e criado tantas coisas? Ou será um teatro? E se for um teatro, de que género será? Será um espectáculo da Broadway, uma ópera, um ballet? Isso é algo que não está claro. O Cirque du Soleil reconstruiu elementos pertencentes a todas estas alternativas, por isso acaba por ser simultaneamente um pouco de tudo mas também não chega a ser nada disso na íntegra", sublinham Polly LaBarre e William C. Taylor.

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