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Verão prolongado “seca” vendas de roupa e sapatos

Empresas de vestuário e calçado só agora começam a tirar os artigos quentes do armazém. Enquanto contam as quebras no retalho pelo atraso na chegada do tempo frio, começam a adaptar as operações às alterações climáticas.

Miguel Baltazar
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A s empresas portuguesas de vestuário e de calçado andam há mais de dois meses a consultar as previsões meteorológicas, esperando que chegue em definitivo o tempo frio e chuvoso que traga os consumidores às lojas para comprarem os produtos mais quentes da colecção Outono/Inverno. Conformadas com esta nova realidade, as marcas e a indústria da moda estão a adaptar as operações ao quadro das alterações climáticas.

Ana Paula Rafael admite ao Negócios que "este Verão prolongado tem tido um impacto negativo nas vendas da Dielmar, pois os clientes não sentem necessidade de procurar artigo de Inverno", descrevendo esta fase como "muito preocupante e com consequências severas para a economia nacional". A administradora da empresa de Alcains, que emprega 400 pessoas, salienta que 2016 "já foi um ano com temperaturas atípicas e consequências nas vendas de peças mais quentes" de vestuário para homem. E prevendo já que o padrão climatérico se repetisse, este ano optou por "abrir a estação com modelos mais frescos, peças de materiais mais leves e cores mais abertas e apetecíveis".

O director-geral da associação empresarial do têxtil e vestuário (ATP), Paulo Vaz, confirma que na distribuição de moda e nas marcas que vendem no mercado interno "há efectivamente quebras de vendas" face aos anos anteriores porque ainda "não arrancou verdadeiramente" a nova estação. Ainda que algumas tenham aproveitado para escoar alguma mercadoria de Verão que não tinha sido vendida nos meses anteriores, o porta-voz do sector refere que as empresas "esperam pacientemente" a descida da temperatura e a chegada da chuva para tirar as roupas quentes dos armazéns. "Mas com a certeza de que [a estação] será fraca, atendendo ao facto de se ter perdido já um mês e meio de vendas", acrescenta.

O panorama é semelhante no calçado, que aventa até a hipótese de, na recta final do ano, estes "fenómenos temporais" afectarem mesmo os dados das exportações, que até Agosto estavam a crescer. Paulo Gonçalves, porta-voz da associação do sector (Apiccaps), sublinha que "existe alguma preocupação relativamente ao último trimestre", concretizando que "o retalho, nomeadamente no centro da Europa, está anémico e isso não deixa de ser um motivo de preocupação".

O segmento de luxo no calçado feminino também não é imune a este problema, com Luís Onofre a reconhecer ao Negócios que nas duas lojas próprias que detém em Portugal – localizadas nas luxuosas avenidas da Liberdade (Lisboa) e da Boavista (Porto) – "o pior período ocorreu precisamente em Setembro", tendo resolvido "introduzir mais cedo novos produtos nas lojas para cativar os clientes". Uma das estratégias seguidas pelo empresário de Oliveira de Azeméis, que há 18 anos criou uma marca em nome próprio e que em Maio sucedeu a Fortunato Frederico na liderança da Apiccaps, passa pela apresentação de duas "colecções de meia época", além das outras duas tradicionais, que "permitam apresentar sempre produtos renovados".

À venda em 152 países, essa diversificação geográfica também "ajuda a reduzir o efeito sazonalidade e abre novas perspectivas de negócio", durante todo o ano, às empresas de calçado, indica Gonçalves. Por outro lado, Paulo Vaz argumenta que a indústria portuguesa do têxtil e vestuário tem precisamente as competências e características que serão cada vez mais exigidas pelos clientes da área da moda: "colecções mais pequenas, curtas, adaptadas ao mercado e às circunstâncias, numa lógica de ‘fast fashion’ levada às últimas consequências".

De certeza que a estação será fraca, atendendo ao facto de se ter perdido já um mês e meio de vendas. Paulo Vaz
Director-geral da associação empresarial têxtil e vestuário (ATP)
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