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Porque é que a moda de luxo está na passarela em saltos de plástico reciclado

Desde a pele de crocodilo à lã de caxemira, a indústria do luxo está sob mais pressão do que nunca para provar as suas credenciais sustentáveis.

Reuters
25 de Agosto de 2019 às 11:00
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Todas as primaveras na Califórnia, com a maré alta e a lua cheia, cardumes de "grunions" saltam do mar para desovar na areia.

 

Num final de tarde em junho, as praias foram invadidas por rapazes magros ornamentados pela última coleção de Saint Laurent — camisas, blazers cravejados de cristais e sapatos pontiagudos. Os modelos desfilaram a poucos metros das ondas em Paradise Cove, Malibu, perante os olhares aprovadores de jornalistas, estilistas e celebridades.

 

Os peixes não apareceram e a sua ausência provocou protestos e revolta da população e das autoridades em Malibu. Na mira dos críticos está a Kering, dona da marca Saint Laurent. A empresa posicionou-se como líder de um movimento para reduzir o impacto ambiental da indústria da moda, mas trouxe gente do mundo todo para o desfile em jatos, causando também a libertação de toneladas de dióxido de carbono.

 

As empresas de artigos de luxo andam num campo minado. A feroz concorrência pela preferência dos consumidores e por atenção nas redes sociais força as marcas a produzir eventos cada vez mais apelativos. O crescimento significativo da procura na China elevou a produção para níveis sem precedentes — o que significa que as confeções estão a usar mais recursos naturais do que nunca, incluindo couro, caxemira e metais. Ao mesmo tempo, o setor enfrenta uma pressão maior dos consumidores e autoridades reguladoras para limitar o impacto ambiental do seu rápido crescimento e da cadeia de suprimentos altamente poluente e com pouca supervisão de fornecedores.

 

"Reguladores, consumidores e, cada vez mais, os investidores estão a fazer dos critérios socioambientais uma referência de alerta importante", afirmou Mario Ortelli, consultor do mercado de luxo em Londres.

 

O setor começa a acordar. Empresas de vestuário como Giorgio Armani e Versace interromperam o uso de materiais polémicos, como peles. A Burberry Group prometeu recentemente parar de destruir as peças que não são vendidas — prática disseminada da indústria da moda para evitar que produtos indesejados cheguem às prateleiras em saldos. Em julho, a gigante LVMH — dona de Louis Vuitton, Christian Dior e Champagne Dom Perignon — comprou uma participação na empresa de Stella McCartney, conhecida por trabalhar com materiais sustentáveis, como solas de sapato biodegradáveis. A Prada pretende fabricar todos os seus icónicos acessórios de nylon usando materiais reciclados, incluindo resíduos que estão no oceano, até o final de 2021.

 

Na linha de frente está a Kering, que além da Saint Laurent é dona das marcas Gucci e Balenciaga. O presidente do conselho de administração, François-Henri Pinault, tenta convencer outras empresas globais de moda a aderir a um novo pacto de sustentabilidade. O presidente francês, Emmanuel Macron, colocou o assunto na agenda da reunião do Grupo dos Sete, que será realizada em Biarritz neste mês, nomeando Pinault para liderar a iniciativa. O comandante da Kering tenta fazer com que as empresas do setor se comprometam com metas como a eliminação dos plásticos descartáveis e a aceleração da transição para energia renovável.

 

A Kering também pressiona a sua rede de fornecedores e subfornecedores a esclarecer a procedência das matérias-primas, além de impor padrões mais rigorosos de eficiência energética e bem-estar animal. Desde 2010, os bónus pagos aos executivos da Kering são atrelados ao desempenho ambiental.

 

Consumidores frequentemente associam poluição e desperdício na indústria da moda a fabricantes de ténis e retalhistas de vestuário de pouca durabilidade — no caso dessas empresas, as cadeias de suprimentos incluem enormes fábricas que empregam mão-de-obra barata em países com baixa regulamentação. Agora as companhias de luxo estão na mira: clientes mais jovens procuram evitar produtos glamourosos de origem infeliz.

 

Millennials (nascidos a partir da década de 1980) e integrantes da Geração Z (nascidos a partir de meados da década de 1990) serão responsáveis por quatro quintos do crescimento do setor de luxo nos próximos anos, segundo o relatório do analista Flavio Cereda publicado pela Jefferies em julho. Três quartos dos millennials afirmam que mudam os seus hábitos de consumo devido a preocupações ambientais. No caso dos baby boomers (nascidos após a Segunda Guerra Mundial), a parcela é de 34%.

 

(Texto original: Why Luxury Fashion Is Walking the Runway in Recycled-Plastic Heels)

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