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“Humanista”, “benfeitor”, “carismático”. As reações à morte do empresário Rui Nabeiro
Empresários, políticos, rivais, economistas. Todos traçam rasgados elogios ao fundador da Delta que faleceu este domingo aos 91 anos pela inovação, pela responsabilidade social com os trabalhadores e com a região do Alentejo e, sobretudo, a vila de Campo Maior.
Ascendeu a pulso, construiu um império do café e nunca mudou a sede da empresa da vila raiana de Campo Maior, no Alentejo. São características apontadas ao empresário Rui Nabeiro que faleceu este domingo, 19 de março, tal como a preocupação com os trabalhadores.
"Procurou saber as necessidade e desejos das pessoas", lembra João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), apontando o facto de ter sido "uma empresa que na sua história não teve qualquer conflito laboral e na zona do Alentejo investiu na economia e nas questões sociais".
"Era uma pessoa que sabia os gostos das outras pessoas e, de repente, aparecia por correio ou entregue em mão uma pequena lembrança", recorda o líder da CCP, para quem esta foi "uma relação marcante".
O primeiro-ministro, António Costa, defendeu que o legado de Rui Nabeiro "ultrapassa largamente o papel de empresário exemplar, dentro e fora do país", elogiando o "percurso inspirador" e o exemplo de cidadania, humildade e responsabilidade social.
O primeiro-ministro fala de um "legado que ultrapassa largamente o papel de empresário exemplar, dentro e fora do país. O seu percurso foi inspirador, pela força, energia e sempre o sonho de fazer acontecer". António Costa destacou o "exemplo de cidadania e humildade", mas também de "responsabilidade social e de paixão pela sua terra", considerando que o empresário teve "uma vida em prol da comunidade".
O legado do Comendador Rui Nabeiro ultrapassa largamente o papel de empresário exemplar, dentro e fora do país. O seu percurso foi inspirador, pela força, energia e sempre o sonho de fazer acontecer. pic.twitter.com/4tHCRhLVpF
— António Costa (@antoniocostapm) March 19, 2023
O ministro da Economia, António Costa Silva, apontou Rui Nabeiro como um "empresário exemplar", lembrando que teve "a assunção da responsabilidade social antes de o tema se tornar um debate dominante", afirmou em declarações à SIC Notícias.
Costa Silva sublinha ainda "a capacidade de construir riqueza e distribuir essa riqueza" "é um exemplo extraordinário". Um homem "singular" e um "líder transformador". "Se tivermos mais 20, 30, 50 Rui Nabeiros, o país será completamente diferente no final desta década", afirmou.
Rui Nabeiro distinguiu-se pelo amor a Portugal e à sua terra de sempre, Campo Maior, que serviu como autarca e cidadão. Foi um dos maiores e melhores empresários portugueses, muito atento aos direitos dos seus trabalhadores. Permanecerá na memória de todos.
— Augusto Santos Silva (@ASantosSilvaPAR) March 19, 2023
Uma sucessão familiar há muito resolvida
A liderança do grupo Delta há muito estava tratada por Rui Nabeiro que em 1961, criou a Delta Cafés, "dando origem a um grupo empresarial que hoje lidera o mercado dos cafés em Portugal" e se encontra "em forte expansão nos mercados internacionais", realçou o grupo em comunicado emitido este domingo.
Atualmente, a Delta é liderada pelo neto do comendador, Rui Miguel Nabeiro.
E foi essa preocupação com a sucessão que António Pires de Lima, CEO da Brisa destaca. "Desde há muito que tivemos membros da família poderem destacar-se como bons profissionais do grupo; o grupo tem hoje uma liderança forte e carismática", frisa.
Também António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), diz estar confiante de que o neto de Rui Nabeiro continuará a obra do avô. Em declarações à Lusa, acentuou o legado que o empresário deixou e que estava refletido na sua capacidade de aliar a gestão a princípios, valores, ética, humanismo e responsabilidade social.
O presidente da CIP referiu-se a Nabeiro como um exemplo de determinação e de visão "porque sempre apontou para três objetivos na atividade empresarial", que deviam ser seguidos pelo país: dimensão empresarial, inovação e internacionalização.
Peter Villax, presidente da Associação das Empresas Familiares, lembrou o empresário exatamente numa carta dirigida ao neto. "Caro Rui Miguel, neste dia em que soubemos do falecimento do teu avô Rui, todos nos inclinamos perante o exemplo que foi de chefe de família e de empresário, mas sobretudo como soube partilhar esse exemplo com a sua comunidade local e com todo o país", escreveu no Linkedin.
Segundo o representante das empresas familiares, Rui Nabeiro ajudava quem lhe pedia, chorava as dores dos outros, partilhava as suas alegrias com todos. "Deixa-nos um importante legado de Empresa Familiar, responsabilidade que é agora tua e fazemos votos para que sigas fortalecendo a Delta e seguindo o trilho de sucesso que o Comendador Rui Nabeiro iniciou", acrescenta.
O carisma e preocupação com os trabalhadores e a comunidade é realçado pelo economista João Duque, presidente do ISEG. "É um empresário com uma visão de que a empresa serve os seus stakeholders", aponta. "Um exemplo de que pode haver coisas bem feitas que serve o interesse dos acionistas e o interesse da sociedade", frisa o economista.
"O seu nome estará para sempre ligado a um dos grandes empresários nacionais e a uma grande preocupação na criação de valor social", salientou a empresária, recordando que "durante muitos anos" o grupo retalhista dono do Continente contou com a presença de Rui Nabeiro na abertura de centenas das suas lojas, "comprovando a generosidade que sempre teve para com a Sonae".
(Notícia atualizada às 18:40)