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Trabalhadores denunciam fraude de milhões em megaprojeto na Alemanha

A construção da estação ferroviária Stuttgart 21 na cidade alemã com o mesmo nome já se "arrasta" há vários anos. Agora vem juntar-se uma nova controvérsia: uma alegada fraude de milhões.

A IP prevê adjudicar este ano mais de     510 milhões de euros em obras, essencialmente na ferrovia.
João Cortesão
Rita Atalaia ritaatalaia@negocios.pt 25 de Novembro de 2021 às 11:12
Um dos maiores projetos de infraestruturas da Europa está alegadamente envolvido num esquema de fraude de vários milhões. A denúncia foi feita por dois trabalhadores da Deutsche Bahn, empresa ferroviária alemã, e revelada esta quinta-feira pelo Financial Times.

O polémico projeto ferroviário Stuttgart 21 - que prevê a construção de uma nova estação na cidade com o mesmo nome - já passou por vários revés e atrasos (começou a ser pensado em 1994), e é o mais caro e controverso de sempre na Alemanha. 

Inicialmente, o seu custo estava previsto em 2,5 mil milhões de euros, mas este valor subiu para 8,2 mil milhões. E houve alertas quanto a um possível aumento: em 2016, a entidade responsável por auditar as contas do governo, disse que os encargos podiam subir para 10 mil milhões de euros. 

Este foi precisamente o ano em que arrancou uma investigação interna na Deutsche Bahn, depois de o departamento de compliance ter recebido vários avisos de dentro da empresa de que uma parte significativa do aumento dos custos estava relacionada com má gestão e suspeitas de corrupção. A denúncia foi feita por dois engenheiros que estavam a trabalhar no projeto. 

600 milhões de custos desnecessários
Um dos denunciantes disse estimar que a alegada má conduta resultou em 600 milhões de euros de custos desnecessários para a Deutsche Bahn, com ambos os funcionários a afirmarem que alguns dos responsáveis séniores pelo projeto encomendavam trabalhos desnecessários e recebiam uma compensação por isso. 

Um exemplo disso foi a construção de uma subestação elétrica que não fazia parte do plano original. Um dos engenheiros terá sido pressionado por superiores a optar por um contrato no valor de 2,5 milhões de euros apesar de haver uma alternativa mais barata de apenas 30 mil euros. Mas a pressão acabou por não resultar nessa ocacisão, uma vez que a opção mais cara acabou por cair, mas nem sempre foi assim.  

O departmento de "compliance tem de avaliar quem está a beneficiar com este comportamento", pedia um dos trabalhadores em julho de 2016, em documentos a que o FT teve acesso. 

Investigação não encontrou indícios
Estas denúncias foram analisadas na investigação que acabou por terminar, um ano depois de arrancar, sem que a Deutsche Bahn tivesse encontrado provas de uma má conduta. "Todas as alegadas irregularidades foram investigadas" e "não se provaram verdadeiras", disse a empresa, citada pelo jornal, recusando dar mais detalhes sobre o âmbito da investigação e os métodos utilizados para tal.

Semanas depois de uma primeira reunião com o departamento de compliance em janeiro de 2016, um dos denunciantes recebeu uma série de avisos escritos de alegada má conduta, nomeadamente por entregar tardiamente atestados por doença. Em dezembro de 2016 foi demitido. O outro engenheiro, por temer retaliações e considerar que não havia interesse em investigar devidamente o caso, cortou abruptamente o contacto com o departamento. 

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