Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Governo alemão fecha a porta a venda do Commerzbank

O executivo liderado por Olaf Scholz manifestou-se contra a operação de controlo desencadeada pelo UniCredit, que aumentou a participação para cerca de 21%, e diz que apoia a “estratégia de independência” do banco alemão.

Governo alemão anunciou que não pretende abrir mão de mais capital do Commerzbank.
Kai Pfaffenbach/Reuters
23 de Setembro de 2024 às 16:08
  • ...

Depois de o UniCredit ter anunciado esta segunda-feira que aumentou a participação no Commerzbank para cerca de 21%, o governo alemão foi taxativo: "Tomámos nota das ações do UniCredit. Não apoiamos uma aquisição. Comunicámo-lo ao UniCredit", disse uma fonte do ministério das Finanças alemão à Bloomberg. Mas o executivo liderado por Olaf Scholz vai ainda mais longe e diz que "apoia a estratégia de independência" do Commerzbank, de acordo com a mesma fonte.  

Entretanto, o próprio chanceler alemão também se pronunciou negativamente sobre a operação. "Ataques não amigáveis e aquisições hostis não são algo positivo para os bancos e é por isso que o governo alemão se posicionou claramente nesta direção", disse Scholz em Nova Iorque, citado pela Reuters.      

O governo alemão tinha já dado sinais nesse sentido, ao impedir que o banco italiano comprasse uma maior parcela do congénere ao Estado germânico. O Unicredit adquiriu 4,5% da participação pública no banco, somando-se aos 4,5% que já detinha. Mais recentemente, elevou a participação para perto de 21%, tendo adquirido o capital restante através de contratos de derivados financeiros. As compras foram efetuadas no âmbito do plano do CEO do banco italiano, Andrea Orcel, para assumir uma posição de controlo no banco alemão e criar um novo colosso na banca europeia.

A posição do governo alemão arrisca aumentar o diferendo com o banco italiano. Os planos do UniCredit foram vistos dentro do executivo alemão como pouco transparentes, de acordo com a Bloomberg, por ter utilizado instrumentos financeiros para expandir a participação, depois da operação de aquisição da participação ao Estado alemão. 

Para a aquisição da participação de forma discreta, o Barclays foi essencial, ao disponibilizar os instrumentos derivados que permitiram a operação no mercado. A "transação física" dos derivados colocaria efetivamente o Commerzbank sob controlo do UniCredit, mas isso apenas poderá acontecer depois das aprovações requeridas terem sido obtidas, algo que o banco solicitou junto do BCE e poderão elevar a participação até aos 29,9%. Os derivados, conhecidos como "total return swaps", transferem a propriedade económica para o beneficiário, mas não a propriedade legal. A efetivar-se, o banco italiano consolidaria a posição como maior acionista do Commerzbank, seguido do Estado alemão, da BlackRock e do fundo soberano norueguês.   

No comunicado desta segunda-feira a anunciar a subida da participação, o UniCredit assegura que fez o "hedge" da exposição económica ao banco alemão para manter a "opcionalidade e flexibilidade", seja para manter a participação, vendê-la com um limite mínimo ou aumentar a posição. Isso dependerá do desfecho dos contactos com os conselhos de administração e supervisão do Commerzbank, assim como outras partes interessadas na Alemanha.            

O UniCredit refere ainda que "existe um valor substancial que pode ser desbloqueado dentro do Commerzbank, seja de forma independente ou dentro do UniCredit, para benefício da Alemanha e das partes interessadas mais amplas do banco".

No comunicado, o UniCredit diz que "partilha a crença de que uma forte união bancária dentro da Europa é essencial para o sucesso económico do continente", de forma a assegurar a "prosperidade de cada uma das nações", referindo que "assegurar o crescimento e a competitividade dentro do setor bancário alemão é crítico para a economia alemã e para a Europa como um todo".   

Apesar disso, a potencial operação conta com o ceticismo não só do do governo alemão, mas também está a gerar preocupação nas organizações sindicais, por poder levar a redundâncias nas operações e ao despedimento de trabalhadores excedentários.   

Na sessão desta segunda-feira, o Commerzbank desvalorizou 6,03%, enquanto o Unicredit perdeu 3,21%.   

 

Ver comentários
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio