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Centeno cita Mourão Ferreira: “Por teu livre pensamento foram-te longe encerrar”
"Abandono" é o nome do poema citado pelo Governador na conferência "Banca do Futuro". Centeno alerta que o país "não tem desculpa" para não lidar com a crise e elogiou o desempenho do sistema bancário.
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"O país vive um momento que convida à reflexão". A observação é do governador do Banco de Portugal, que desta forma iniciou a sua intervenção de abertura na conferência Banca do Futuro do Jornal de Negócios. "O país e não apenas o Banco de Portugal", reforçou, sem referir explicitamente a crise política nem a polémica que o envolveu na sequência da demissão do primeiro ministro.
Mário Centeno afirmou querer "que esse momento de reflexão seja diferente", e perante uma plateia de muitas dezenas de pessoas citou versos de David Mourão Ferreira:"Por teu livre pensamento/foram-te longe encerrar/tão longe que o meu lamento/ não te consegue alcançar". Centeno não explicou a escolha destas palavras em particular. Nem mencionou o nome do poema: "Abandono".
Taxas "não vão voltar a zero"
Voltando-se para o tema mais concreto da evolução da economia, o governador deixou o aviso: os próximos três anos "são mais desafiantes do que qualquer período anterior".
"As taxas não vão voltar a zero mas vão voltar a valores que a economia determinará como sendo compatíveis com o objetivo para a taxa de inflação de 2% no médio prazo", afirmou, lembrando que a alta generalizada dos preços tornou necessário subir as taxas diretoras do Banco Central Europeu "num período muito curto e num valor muito grande".
Para Mário Centeno, "foi essa a grande dificuldade com que nos confrontámos", e "uma mudança desta dimensão requer tempo para ajustar a economia".
"Todos teríamos gostado que esta normalização tivesse decorrido num período de tempo mais longo", disse, sublinhando, no entanto, que "países como Portugal beneficiaram mais do que outros das taxas de juro baixas porque temos uma estrutura de crédito muito mais concentrada em taxa variável".
"Desta vez não temos desculpa"
Passando em revista a história económica do país, Mário Centeno afirmou que nos últimos anos Portugal foi o país com maior crescimento do emprego: "Portugal cria cinco vezes mais emprego que a área do euro", salientou.
"Esses empregos criados fazem parte dos mais de 5 milhões de empregos no país. É mais um milhão de empregos do que tínhamos em 2013. Não há nenhum país na Europa que tenha criado tantos empregos", afirmou, referindo-se indiretamente ao período em que esteve no Governo.
O governador destaca que "os setores mais dinâmicos são os que pagam mais, acima da média. É nesses que Portugal está a criar mais empregos. O crescimento do emprego nestes últimos cinco anos foi de 44%", salientou.
Para o líder do Banco de Portugal, a criação de emprego é um sinal de preparação para lidar com dificuldades que não teve no passado: "O nosso desempenho nas crises anteriores foi o que sabemos porque o país não estava preparado. Desta vez não temos essa desculpa", atirou.
"Resultados da banca têm de ser usados para preparar o futuro"
O supervisor da banca entende que as instituições financeiras têm desempenhado o seu papel: "A banca mostra resultados", salientou, comparando o período de prejuízos conjuntos do sistema entre 2010 e 2017 com o de lucros desde então. "A banca mudou e fez o seu trabalho", disse. O que não invalida que, na soma desde 2010, em média, "neste longo período de tempo a banca tenha tido magros resultados".
O governador não tem no entanto dúvidas que esses resultados positivos "têm de ser usados para preparar o futuro", embora não tenha dito como. O Fundo Monetário Internacional apela à constituição de almofadas e a não distribuição de dividendos. Ontem o Banco de Portugal anunciou a obrigatoriedade de criação de novas almofadas de capital no valor de 4% da carteira de crédito à habitação que tenha imóveis como garantias.
O responsável máximo do supervisor deixou ainda críticas indiretas a quem fala em lucros desproporcionais no sistema bancário: "Muitos olham para os resultados e entendem que são extraordinários e excessivos", constatou, enfatizando que, pelo contrário, "a banca tem respondido aos desafios de remuneração de poupanças. Há dezenas de milhares de créditos renegociados e adaptados as novas condições. A banca tem essa preocupação permanente e de reforço das suas condições de financiamento", considerou.
Mário Centeno esteve nos últimos dias no centro uma polémica com origem na crise política, ao ter sido convidado por António Costa para liderar o Governo depois da demissão do primeiro-ministro.
A Comissão de Ética do Banco de Portugal não detetou falhas no comportamento do responsável máximo da instituição, que "cumpriu os seus deveres" mas alertou que o ruído mediático poderia afetá-la negativamente dado que "os desenvolvimentos político-mediáticos subsequentes podem trazer danos a imagem do Banco".
Mário Centeno afirmou querer "que esse momento de reflexão seja diferente", e perante uma plateia de muitas dezenas de pessoas citou versos de David Mourão Ferreira:"Por teu livre pensamento/foram-te longe encerrar/tão longe que o meu lamento/ não te consegue alcançar". Centeno não explicou a escolha destas palavras em particular. Nem mencionou o nome do poema: "Abandono".
Voltando-se para o tema mais concreto da evolução da economia, o governador deixou o aviso: os próximos três anos "são mais desafiantes do que qualquer período anterior".
"As taxas não vão voltar a zero mas vão voltar a valores que a economia determinará como sendo compatíveis com o objetivo para a taxa de inflação de 2% no médio prazo", afirmou, lembrando que a alta generalizada dos preços tornou necessário subir as taxas diretoras do Banco Central Europeu "num período muito curto e num valor muito grande".
Para Mário Centeno, "foi essa a grande dificuldade com que nos confrontámos", e "uma mudança desta dimensão requer tempo para ajustar a economia".
"Todos teríamos gostado que esta normalização tivesse decorrido num período de tempo mais longo", disse, sublinhando, no entanto, que "países como Portugal beneficiaram mais do que outros das taxas de juro baixas porque temos uma estrutura de crédito muito mais concentrada em taxa variável".
"Desta vez não temos desculpa"
Passando em revista a história económica do país, Mário Centeno afirmou que nos últimos anos Portugal foi o país com maior crescimento do emprego: "Portugal cria cinco vezes mais emprego que a área do euro", salientou.
"Esses empregos criados fazem parte dos mais de 5 milhões de empregos no país. É mais um milhão de empregos do que tínhamos em 2013. Não há nenhum país na Europa que tenha criado tantos empregos", afirmou, referindo-se indiretamente ao período em que esteve no Governo.
O governador destaca que "os setores mais dinâmicos são os que pagam mais, acima da média. É nesses que Portugal está a criar mais empregos. O crescimento do emprego nestes últimos cinco anos foi de 44%", salientou.
Para o líder do Banco de Portugal, a criação de emprego é um sinal de preparação para lidar com dificuldades que não teve no passado: "O nosso desempenho nas crises anteriores foi o que sabemos porque o país não estava preparado. Desta vez não temos essa desculpa", atirou.
"Resultados da banca têm de ser usados para preparar o futuro"
O supervisor da banca entende que as instituições financeiras têm desempenhado o seu papel: "A banca mostra resultados", salientou, comparando o período de prejuízos conjuntos do sistema entre 2010 e 2017 com o de lucros desde então. "A banca mudou e fez o seu trabalho", disse. O que não invalida que, na soma desde 2010, em média, "neste longo período de tempo a banca tenha tido magros resultados".
O governador não tem no entanto dúvidas que esses resultados positivos "têm de ser usados para preparar o futuro", embora não tenha dito como. O Fundo Monetário Internacional apela à constituição de almofadas e a não distribuição de dividendos. Ontem o Banco de Portugal anunciou a obrigatoriedade de criação de novas almofadas de capital no valor de 4% da carteira de crédito à habitação que tenha imóveis como garantias.
O responsável máximo do supervisor deixou ainda críticas indiretas a quem fala em lucros desproporcionais no sistema bancário: "Muitos olham para os resultados e entendem que são extraordinários e excessivos", constatou, enfatizando que, pelo contrário, "a banca tem respondido aos desafios de remuneração de poupanças. Há dezenas de milhares de créditos renegociados e adaptados as novas condições. A banca tem essa preocupação permanente e de reforço das suas condições de financiamento", considerou.
Mário Centeno esteve nos últimos dias no centro uma polémica com origem na crise política, ao ter sido convidado por António Costa para liderar o Governo depois da demissão do primeiro-ministro.
A Comissão de Ética do Banco de Portugal não detetou falhas no comportamento do responsável máximo da instituição, que "cumpriu os seus deveres" mas alertou que o ruído mediático poderia afetá-la negativamente dado que "os desenvolvimentos político-mediáticos subsequentes podem trazer danos a imagem do Banco".