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A receita de Carlos Costa para garantir “informação de confiança”

É necessário garantir que a “troca de informação se baseia numa relação de confiança”, defende o governador do Banco de Portugal. No rescaldo do colapso do BES, Carlos Costa definiu um guião para melhorar a confiança da informação que circula entre agentes económicos.

Bruno Simão/Negócios
07 de Outubro de 2014 às 11:28
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O governador do Banco de Portugal defende que é necessário "encarar de forma diferente a cultura e os valores em torno da troca de informação". Porque é necessário garantir que essa troca "se baseia numa relação de confiança".

 

No rescaldo do colapso do BES, Carlos Costa admite que o reforço da confiança exige usar a "via legislativa, mas não só". "Só confio se souber que tenho informação disponível sobre alguém ou sobre uma organização numa perspectiva dinâmica, que permita prever o seu comportamento futuro".

 

Conheça a receita do governador para melhorar a confiança da informação que circula entre agentes económicos através da leitura de uma selecção das frases que marcaram a sua apresentação na 6ª Conferência Internacional com o tema Governança dos Sistemas de Informação: Economia & Privacidade, que decorre esta terça-feira, 7 de Outubro, na Culturgest, em Lisboa.

 

Sobre a fiabilidade da informação

 

"Informação fiável significa que é verificável e que quem a presta pode ser responsabilizado pela qualidade da informação que presta. Se não, não há confiança".

 

"Em torno da informação há interesses. Confiar apenas no produtor de informação é depender de um único interesse, daí a necessidade de certificação de informação. Tem de haver alguém independente que certifica a informação para não ficarmos reféns de um único interesse".

 

"É fundamental a responsabilização e autonomia dos produtores de informação contabilística. Estes produtores de informação têm que ser independentes e autónomos".

 

Sobre as ferramentas da informação

 

"A informação é datada. Uma pessoa vai ao médico num dia e o médico diz-lhe que está são, mas pode voltar uma semana depois e descobrir que está doente. Por isso temos que saber datar a informação".

 

"Na oncologia pulmonar, há seis anos havia problemas que eram atribuídos à qualidade da informação das radiografias e que, agora se percebe, que eram sinais problemas sérios. Mas o médico fez o melhor diagnóstico com as ferramentas que dispunha no momento".

 

Sobre o objectivo da informação

 

"Duas informações distintas sobre o banco podem não ser contraditórias dependendo do objectivo dessa informação".

 

"Se eu tiver uma dívida para pagar em duas semanas e um automóvel e vender à pressa, o valor será muito inferior ao da dívida. Mas se tiver dois anos para o vender tenho tempo para ajustar o preço do automóvel ao valor de mercado".

 

Sobre o destinatário da informação

 

"O interesse geral é o que justifica que a informação tenha de ser partilhada. Temos de partir sempre de uma lógica de interesse geral para uma lógica de privacidade".

 

"Um doente de ébola não tem direito à privacidade da informação sobre esse diagnóstico, porque está a pôr em risco a sociedade".

 

"A informação tem valor económico e a privacidade tem valor económico. Mas a privacidade não se pode transformar em assimetria de informação".

 

Sobre a informação que chega ao supervisor

 

"Temos de olhar muito seriamente para toda a cadeia de produção de informação com que um supervisor trabalha. O supervisor trabalha informação que passa por quatro níveis de controlo. Há o produtor de informação, o auditor interno, o compliance – que é responsável pelo controlo interno – e o auditor externo. Se quem consome a informação tiver uma falha na cadeia de produção fica completamente exposto a falhas de avaliação. A não ser que reproduza todo o ciclo de produção de informação".

 

"É fundamental saber qual a informação que lhe é servida, qual a sua pertinência, qual a sua certificação, qual a independência do produtor da informação contabilística sobre o objecto da informação".

 

"Ao produzir informação contabilística, o contabilista está também a avaliar a qualidade da gestão. Se não tem independência e se subordina à gestão acaba por viciar a informação e a cadeia de confiança quebra-se".

 

"Temos de construir valores e métodos que reforcem a confiança. Não podemos usar a privacidade como arma de protecção de interesses ilegítimos".

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