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Vendas de vinho do Porto decrescem há mais de 20 anos, diz AEVP

Criada em 1932 para defender os viticultores e a viticultura duriense, a Casa do Douro viu alterados os seus estatutos para associação com gestão privada e inscrição facultativa em 2014, durante o Governo de Passos Coelho.

Contestação à Casa do Douro ameaça chegar a Bruxelas
12 de Dezembro de 2023 às 21:40
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As vendas de vinho do Porto decresceram cerca de 20% nos últimos 20 anos, perspetivando-se uma quebra de cerca de 5% este ano nos vinhos do Porto e Douro, disse esta terça-feira a associação representativa do comércio.

"As vendas em volume e valor do vinho do Porto decrescem estruturalmente há mais de 20 anos. Durante este período perderam-se mais de 20% da totalidade em volume", afirmou António Filipe, presidente da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), na Comissão de Agricultura e Pescas.

A AEVP foi uma das organizações do Douro ouvidas na Assembleia da República sobre a restauração da Casa do Douro como associação pública e de inscrição obrigatória.

Durante a audição, António Filipe disse que a Região Demarcada do Douro "atravessa um período muito difícil" e que o setor dos vinhos do Porto e Douro em geral confrontam-se, também com uma situação "extremamente desafiante".

"Só no ano passado as vendas de vinho do Porto no Reino Unido caíram cerca de 22% em volume, um valor sem paralelo desde os tempos da Segunda Guerra Mundial. Este ano é provável que as vendas dos vinhos do Porto e Douro caiam possivelmente em valores não inferiores a 5% em volume nas duas denominações de origem", referiu ainda.

E, segundo acrescentou, as vendas de vinhos da Denominação de origem Controlada (DOC) Douro, "apesar de um desempenho notável neste período, não têm conseguido compensar as perdas do setor de vinho do Porto, nomeadamente em termos dos preços pagos pelas uvas na região vendidas, na maior parte dos casos, a preços inferiores ao de custo".

"As margens dos operadores irão ter este ano uma contração muito significativa em virtude de não ter sido possível transferir para os mercados os impactos sofridos nos custos de produção, nomeadamente em termos de mão-de-obra e de materiais de engarrafamento", referiu.

E apontou como razões que têm contribuído para esta situação a alteração dos hábitos de consumo dos clientes finais, os temas relacionados com o álcool, saúde e segurança rodoviária, o impacto dos aumentos dos impactos sobre o álcool a nível global, a redução global dos consumos particularmente nos vinhos generosos e o excesso sistemático de produção relativamente ao consumo mundial".

Acrescentou ainda a "concorrência dos vinhos do novo mundo particularmente pela via preço" e deu como exemplo que produzir um quilo de uvas no Douro não custa menos que 80 cêntimos, enquanto produzir no Chile custa 11 cêntimos.

"Estes factos são relevantes porque os mercados são cada vez mais competitivos e mais exigentes, o nível de concorrência é feroz", afirmou.

Realçou ainda que o "vinho do Porto é aquele que tem demonstrado maior resiliência na queda relativamente a todos os restantes vinhos fortificados no mundo" e que o que foi feito no caso dos vinhos tranquilos do Douro "foi absolutamente notável", porque a partir do zero, nos anos 2000, construiu-se um mercado que representa mais de 225 milhões de euros.

Por fim, disse que o Douro faturou 620 milhões de euros de vendas no ano passado.

Nove meses depois da aprovação dos diplomas do PS, PCP e BE que restauram a Casa do Douro como associação pública e a cerca de um mês da dissolução da Assembleia da República, decorreu hoje, em sede de especialidade, uma audição conjunta de várias organizações ligadas ao Douro.

Criada em 1932 para defender os viticultores e a viticultura duriense, a Casa do Douro viu alterados os seus estatutos para associação com gestão privada e inscrição facultativa em 2014, durante o Governo de Passos Coelho.

Em 2020, entrou em vigor a lei que a reinstitucionalizou como associação pública e inscrição obrigatória, mas, em 2021, o Tribunal Constitucional apontou inconstitucionalidades à lei, nomeadamente, uma insuficiência na definição de competências de natureza pública.


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