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Douro troca vinho certificado por vendas nos apoios covid
Os viticultores contestam o critério do Governo para apoiar o setor, em vez da quebra comercial. É que muitos fizeram a certificação para ter acesso ao armazenamento e destilação de crise, mas não venderam esses vinhos.
A ProDouro – Associação dos Viticultores Profissionais do Douro critica os critérios de elegibilidade utilizados pelo Governo na mais recente medida "excecional e temporária" dirigida aos produtores de vinho, tal como a outros setores da cadeia agroalimentar afetados pelo impacto da pandemia no canal da hotelaria e restauração (Horeca).
Em vez da redução do valor comercializado no último ano, a tutela optou por considerar o desvio negativo – igual ou superior a 5%, correspondente a, pelo menos, mil litros – na quantidade de vinho certificado de 2019 para 2020, o que "poderá não refletir os efeitos da pandemia na atividade económica das empresas, sobretudo nas pessoas singulares e nas PME".
É que muitos vitivinicultores optaram em 2020 por certificar vinho para obterem o registo para a Denominação de Origem (DO) e, assim, poderem candidatar-se às medidas excepcionais para o setor adotadas no ano passado, como o armazenamento e destilação de crise. Isto é, a certificação foi requisito para aceder aos apoios, mas não resultou daí um aumento da procura por estes vinhos com DO.
Terminada a aplicação dessas ajudas, a maioria dos vitivinicultores com vinho em stock no final de setembro aproveitou para engarrafar e rotular os vinhos certificados com os respetivos selos de garantia, na expectativa de que se prolongasse a "ligeira recuperação" sentida no verão. Interrompida, porém, com os novos confinamentos e encerramentos de restaurantes, hotéis e enoturismos, que mantiveram as vendas em baixa.
Pequenos são mais prejudicados
A Prodouro, liderada por Rui Soares, salienta que "para as empresas que tinham apostado na certificação e stockagem de vinho com DO, a realidade torna-se ainda mais dura neste momento em que são impedidas de aceder às ajudas proporcionadas por esta portaria", que prevê uma dotação orçamental afeta ao setor do vinho certificado de 7,9 milhões de euros.
Além disso, "a maioria das empresas de menor dimensão não certifica vinho de forma faseada, de maneira a simplificar e racionalizar processos (ex. pagamento de um registo único) e ter custos mais controlados (compra de rolhas, garrafas ou rótulos), ocorrendo a comercialização dos vinhos ao longo de um período de tempo, por vezes alargado, e não ao longo de um ano", acrescenta a associação criada em 2015 e promovida pela Real Companhia Velha e pela The Fladgate Partnership (Taylor’s, Fonseca e Croft, entre outras marcas) para "dar voz aos lavradores profissionais".