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Ricardo Machado compra antigo feudo Espírito Santo a espanhóis
O empresário português, que mantém em tribunal uma disputa superior a mil milhões de dólares contra a norte-americana General Eletric e o Estado angolano, adquiriu a Herdade do Vale Feitoso, a maior propriedade privada vedada de Portugal.
Ricardo Machado é o novo dono disto tudo: 7.300 hectares, dos quais 1.200 são reserva de caça turística, destino de famosos caçadores nacionais e internacionais no período reservado à caça grossa, como veados, gamos, muflões, corsos ou javalis.
Trata-se da Herdade do Vale Feitoso, a maior propriedade privada vedada de Portugal e uma das gigantes na Península Ibérica.
Situada em Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, foi comprada pelo Grupo Espírito Santo (GES) em 2004, tendo sido convertida pelos Salgado numa espécie de feudo familiar, sítio para festas e caçadas com os amigos.
Entretanto, o GES colapsou e arrastou para a falência a dona da herdade, a Companhia Agrícola de Penha Garcia, nome da aldeia idanhense que acolhe pouco mais de meio milhar de habitantes.
Mais tarde, o herdeiro do BES executou hipotecas que tinha sobre estes ativos, tendo a companhia sido declarada insolvente em fevereiro de 2017, num processo em que o Novo Banco reclamou créditos de 53,3 milhões de euros.
Desde o final de 2018 que a massa falida da Penha Garcia vinha promovendo vários procedimentos de venda, com sucessivas revisões em baixo do preço, tendo no ano passado vendido a herdade a um fundo de investimento imobiliário detido pelo grupo espanhol Tenigla.
Compra por um valor "bastante maior" do que os 20,7 milhões pagos pelos espanhóis
Agora, a Herdade do Vale Feitoso passou para as mãos de Ricardo Machado por um valor "bastante maior" do que os 20,7 milhões de euros desembolsados pelos espanhóis, garantiu o empresário português ao Negócios, sem revelar o valor exato da transação.
Machado afiança que vai "manter todo o plano de investimento de 50 milhões de euros" que o grupo espanhol tinha anunciado para o Vale Feitoso, tornando-a "numa herdade autossustentável", assim como é seu objetivo apostar "na aquisição de mais propriedades florestais" no nosso país.
Com a aquisição do antigo feudo Espírito Santo, o empresário português, que se notabilizou em projetos empresariais em vários países africanos, pretende "dar sequência a um plano de reorientação da exposição geográfica da sua carteira de investimentos, reduzindo presença no continente africano e aumentando a aposta na Europa e, em particular, em Portugal", explica Machado, em nota enviada ao Negócios.
No contexto desta estratégia de reorientação territorial, o empresário português avança que "alienou as suas participações no banco multilateral Afreximbank e num banco comercial do Gana, incluindo outros ativos imobiliários, alguns ligados ao retalho que detinha neste mesmo país africano".
O seu objetivo, revela, "é prosseguir e expandir o projeto de transformação da Herdade do Vale Feitoso que os espanhóis iniciaram e que envolve a conjugação de apostas na exploração florestal e pecuária, no turismo e caça".
Este projeto soma-se a outros investimentos que Machado diz que já detém em Portugal, "no centro, sul e ilhas, nas áreas agroalimentar, turística e energética".
Processo judicial milionário contra a General Eletric e o Estado angolano
Entretanto, Ricardo Leitão Machado e a sua empresa AEnergy "prosseguem várias batalhas jurídicas em tribunais cíveis e arbitrais dos Estados Unidos, Reino Unido, Suíça e Angola contra o grupo americano General Electric e a República de Angola".
Machado responsabiliza-os "por violação contratual, fraude e danos extracontratuais relacionados com 13 contratos e projetos de investimento em Angola no valor de 1.2 mil milhões de dólares, que foram rescindidos unilateralmente pelo Estado Angolano, incluindo a subsequente expropriação ilegal de equipamentos e outros ativos da Aenergy", acusa.
Relativamente a esta matéria, em abril passado soube-se que a justiça norte-americana recusou julgar o processo movido pela AEnergy contra o Estado angolano, pelo que o caso será agora julgado em Luanda.
Foi a 7 de maio do ano passado que a empresa interpôs a ação no Tribunal Federal de Nova Iorque contra a norte-americana General Eletric e o Governo angolano, reclamando uma indemnização de cerca de 550 milhões de dólares (mais de 539,3 milhões de euros) por rescisão de contratos.
O caso diz respeito a 13 contratos assinados entre a Aenergy e Ministério da Energia e Águas (Minea), em 2017, para construção, expansão, requalificação, operação e manutenção de centrais de geração de energia elétrica em Angola.
Em causa está um processo de responsabilidade civil intentado pela empresa Aenergy, de Ricardo Leitão Machado, e a sua subsidiária Combined Cycle Power Plant Soyo SA, contra o Minea, o Ministério das Finanças, a Empresa Pública de Produção de Eletricidade (ENDE) e a Empresa Nacional de Distribuição de Eletricidade (Prodel), chamados "réus de Angola" e ainda contra três corporações General Electric (GE), antiga parceira comercial da acusadora.
Na acusação inicial da Aenergy no Tribunal Federal de Nova Iorque, submetida em maio de 2021, os "réus de Angola" são acusados de oito crimes, entre os quais dois crimes de rescisão de contrato, um de enriquecimento ilícito, dois de violação da lei internacional (bens físicos e bens intangíveis) e um crime de expropriação ilegal.
A Aenergy está envolvida num contencioso com Angola desde que o executivo angolano rescindiu em 2019 vários contratos com a empresa alegando quebra de confiança devido a alegadas irregularidades, acusações que a empresa rejeita, garantindo ter alertado o Minea e ter executado vários projetos sem receber pagamento.
(Notícia atualizada às 18:48)