Notícia
Cáritas retém 2,4 milhões de euros no banco há dez anos
Contas da Cáritas de Lisboa estão sob suspeita. O Ministério Público abriu um inquérito para avaliar a credibilidade de uma denúncia que aponta para crime de burla qualificada.
Apesar das queixas sobre faltas de meios, a Cáritas de Lisboa tem há pelo menos dez anos mais de 2,1 milhões de euros em depósitos e 320 mil euros investidos em obrigações. As contas de 2014, reveladas esta quinta-feira por uma investigação do jornal Público, indicam que em 2014 a instituição teve um lucro de 110 mil euros. No mesmo ano, terá recebido donativos particulares de 325 mil euros e dedicado 147 mil euros em ajuda aos pobres.
O jornal nota, contudo, que as contas dos diferentes documentos a que tem vindo a ter acesso, por vezes apenas na sequência de uma ordem judicial, não batem certo. O relatório de actividades de 2014, publicado em Março do ano passado, indica que os apoios encaminhados para ajuda aos pobres serão mais residuais: 11,3 mil euros em apoio a 319 famílias.
Questionada sobre o facto de esta instituição sem fins lucrativos ter em tempos de crise económica mais de 2,4 milhões de euros em depósitos e investimentos financeiros, além dos 119 mil euros de lucro e do património imobiliário – avaliado em 1,4 milhões de euros – a Cáritas justifica a almofada com a necessidade de acautelar o agravamento da crise ou o aumento de pedidos.
O objectivo é "manter os valores patrimoniais actualizados", uma vez que "continuam muito incertas as expectativas futuras", para fazer face à "necessária cobertura de défices de exploração expectáveis", já que "é por ventura esperado o aumento de solicitações" dos pobres, "a par de um abaixamento de doações". O jornal nota, no entanto, que o presidente da instituição, Carlos Frias Gomes, já revelou ao jornal da diocese que quer alocar 1,5 milhões de euros à criação "de uma residência universitária pra estudantes carenciados".
As contas dos jornal sugerem que os 407 mil euros recebidos do Estado, em parte via fundos comunitários, representam 34% das despesas totais da Cáritas, que fala antes num financiamento público de 20%.
Ministério público abriu inquérito
De acordo com o mesmo jornal, que cita fonte oficial, o Departamento de Investigação de Acção Penal (DIAP) de Lisboa instaurou um inquérito, em Janeiro, no qual são visados o presidente da Cáritas de Lisboa, José Carlos Frias Gomes, e o cónego Álvaro Bizarro, responsável pelas finanças do Patriarcado de Lisboa.
O inquérito visa avaliar a credibilidade de uma denúncia que aponta para a prática do crime de burla qualificada por parte dos dirigentes, na qual são visados o presidente da Cáritas de Lisboa, José Carlos Frias Gomes, e o cónelo Álvaro Bizarro, responsável pelas Finanças.
Só depois desta avaliação é que o Ministério Público decide se avança para investigação.
O patriarcado de Lisboa nega que o responsável tenha recebido notificação, enquanto a Cáritas de Lisboa afirmou ao Público desconhecer a existência "de qualquer queixa ou processo pendente".