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Luís Amado: "Temos de aprender a governar em coligação"

Em entrevista à SIC-Notícias, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros argumenta que a fragilidade do país exige uma solução de governo com apoio maioritário no Parlamento. Amado duvida que o PS ou a actual maioria de direita consigam maiorias absolutas nas eleições do Outono, e lembra o caso da Alemanha, onde há tradição de grandes coligações ao centro.

Sofia A. Henriques/Negócios
Negócios 13 de Abril de 2015 às 16:48
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"Se quisermos manter o actual sistema e até o actual regime, temos de aprender a governar em coligação". A afirmação é de Luís Amado, socialista, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros que, em entrevista neste fim-de-semana à SIC Notícias, defende que a fragilidade do país exige, após as eleições do Outono, uma solução de governo "sólida" com apoio maioritário no Parlamento, algo que duvida que o PS ou a direita consigam sozinhos.

 

"Nós estamos numa situação muito séria. Não podemos andar a brincar à política nem aos governos nos próximos anos. Precisamos de um governo sólido que se comprometa com os compromissos assumidos com os credores", explica, considerando que o país está agora num contexto financeiro mais estável também porque se "conseguiu suster uma dinâmica de desagregação da coligação a meio do mandato".

 

Quanto a eventuais coligações do PS à esquerda, Amado diz não ver "nenhuma capacidade de entendimento" com o Partido Comunista ou com o Bloco de Esquerda, devido à alternativa divergente que propõem em "matéria europeia e não só".

 

Já dentro dos limites dos Tratados europeus, a diferenciação entre o PS e o PSD torna-se "mais difícil" e essa circunstância, diz, acaba por ser "o maior desafio democrático" que se coloca aos partidos que querem "provocar alternância" sem romper com o modelo de sociedade e de economia subjacente à União Europeia.

 

Neste contexto, Amado lembra que vários países europeus governam em aliança, designadamente a Alemanha, onde, ao contrário do que sucedeu em Portugal, em 2009 a CDU (da família política do PSD) não ousou governar sem maioria (coligando-se com os liberais), tendo, em 2012, reeditado a "grande coligação" com o SPD (que pertence à família europeia do PS).

 

Sobre as presidenciais, Luís Amado reconheceu que António Guterres e Jaime Gama seriam os seus candidatos naturais, recusou uma eventual candidatura própria e não quis formular uma opinião sobre Sampaio da Nóvoa por não conhecer suficientemente a pessoa nem o seu ideário.

 

Sobre a eventualidade de a Grécia sair do euro, o actual presidente do conselho de administração do Banif diz que se trata de um cenário que "não pode ser liminarmente afastado", porque "os gregos podem amanhã decidir ir por outro caminho".

 

Já a Europa "não pode recuar" e, em sua opinião, as dificuldades e as ameaças e riscos geopolíticos são de tal ordem que a obrigarão, inclusive, a reforçar-se. "A desintegração europeia seria uma catástrofe para o continente e para o mundo. Por isso, acredito que o euro – independentemente da sua configuração – subsistirá como elemento comum federador".

 

"Se o euro se salvar, o processo de integração será reforçado", antecipa, avisando que a solução para o euro "não pode depender por muito mais tempo da política monetária" e que são precisas medidas de "política fiscal e orçamental" para corrigir os defeitos de origem da arquitectura da união monetária. Tal como o excessivo endividamento dos países da periferia, também o "excedente [corrente]da Alemanha é hoje um problema" para a subsistência da união monetária europeia. Amado diz perceber a preocupação dos credores em relação à cultura dos países mais deficitários e a preocupação em limitar os défices abaixo do limite de 3%, mas espera que, a mais longo prazo, essa disciplina abra caminho a mecanismos de mutualização da dívida.

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