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Plano mirabolante para retirar ouro de Londres intriga Venezuela

Charles Vincent é, para todos os efeitos, um perfeito desconhecido no mundo das finanças globais.

Bloomberg
13 de Outubro de 2019 às 13:30
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Faça uma pesquisa básica na Internet para obter informações sobre ele ou sobre a empresa com sede em Genebra - Pipaud & Partners Sarl - para a qual trabalha, e não encontrará quase nada. Passe em frente, ao endereço que a Pipaud coloca no seu papel timbrado, e não há sinais ostensivos da presença da empresa.

No entanto, quando Vincent foi a Caracas, no início de agosto, com um plano mirabolante, quase fantástico, para libertar cerca de 1,5 mil milhões de dólares em ouro venezuelano bloqueado em contas em Londres, as autoridades do banco central do país não só o receberam como ouviram com grande interesse o seu plano.

Vincent, um cidadão britânico, deixou as autoridades venezuelanas inspiradas com uma estratégia pensada para contornar sanções que, de outra forma, impediriam essa transação, segundo três pessoas que ouviram o plano ou foram informadas sobre ele. Uma das pessoas disse que os responsáveis do banco central ainda estão a analisar a possibilidade de avançar com o plano.

Independentemente de avançarem ou não, o facto de Vincent ter sido recebido mostra o nível de determinação e desespero do regime de Nicolás Maduro para encontrar formas de evitar as sanções dos Estados Unidos, que sufocaram o fluxo de moeda forte para o país e aprofundaram o pior colapso económico da história venezuelana. As autoridades precisam do dinheiro para financiar as importações cruciais de alimentos e pagar o equipamento e manutenção necessários para manter a petrolífera estatal a produzir pelo menos o mínimo de petróleo.

A Pipaud apresenta-se como uma consultora de investimentos e atua como intermediária comercial entre empresas na Suíça e no exterior, segundo documentos de registo em Genebra.

Vincent disse aos dirigentes venezuelanos que a sua empresa poderia pressionar as autoridades britânicas a libertarem ouro da Venezuela, e vendê-lo a um banco austríaco por mil milhões de dólares, o que representa um desconto de cerca de 30% sobre o valor atual de mercado, de acordo com uma cópia da apresentação vista pela Bloomberg. Não estava explícito, mas os documentos pareciam sugerir que Vincent ficaria com uma parte da diferença entre o valor comercial do ouro e a quantia que a Venezuela receberia.

No início do ano, o Banco de Inglaterra negou um pedido do regime de Maduro para retirar o ouro depositado no país, segundo fontes próximas. A decisão foi tomada depois de as autoridades dos EUA terem pressionado o governo britânico a bloquear o acesso de Maduro a ativos no estrangeiro.

Outro cenário na proposta de cinco páginas de Vincent sugeria que a Venezuela usasse uma refinaria estatal de metais na cidade austríaca de Graz para processar o ouro e depois vendesse uma tonelada por semana a um banco na República Checa. Num outro cenário do plano, Vincent sugere que a Venezuela, que já falhou o pagamento de cerca de 60 mil milhões de dólares em dívidas externas, poderia emitir um título de 5 mil milhões de dólares, subscrito por um banco em Singapura, cujo site indica que é especializado em oferecer serviços a empresas de tratamento de resíduos.

Sean Kane, advogado em Washington, que já trabalhou na área das sanções do Tesouro dos EUA, disse que as propostas lhe parecem absurdas.

"Não é incomum que as partes sancionadas, como o governo da Venezuela, procurem mecanismos menos ortodoxos de captação de recursos como este, já que instituições financeiras de mais alto nível teriam muito a perder se as sanções fossem acionadas", disse.

Num claro sinal de a Venezuela levou a sério as ideias de Vincent, os dirigentes mostraram-se dispostos a dar uma resposta quando perguntou de que forma seria pago se o plano fosse executado. As autoridades disseram a Vincent que poderiam enviar o dinheiro através do banco central de Espanha, instituição que o regime de Maduro tenta utilizar cada vez mais para realizar as suas transações internacionais.

Um representante do Banco da Espanha informou que a Pipaud & Partners Sarl "não aparece como beneficiária ou originadora de qualquer transação na conta que o banco central venezuelano possui com o Banco da Espanha".

As recentes tentativas do governo de Maduro de levantar capital, incluindo a proposta da Pipaud, chamaram a atenção das autoridades do Departamento do Tesouro dos EUA, segundo duas fontes próximas.

Não foi possível entrar em contato com Vincent. Uma rececionista de uma empresa que atua como representante da Pipaud disse que enviaria uma mensagem a Vincent, mas não divulgou o seu email ou número de telefone. Até ao momento, não houve resposta.

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