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EUA: qual é importância dos primeiros 100 dias?

Este sábado, Donald Trump estará há 100 dias à frente dos destinos dos EUA. Nas últimas décadas, todos os presidentes americanos foram avaliados em torno daquilo que conseguiram conquistar nesse período de tempo. Como nasceu a métrica? A culpa é do Messi dos 100 dias.

Sábado
27 de Abril de 2017 às 23:30
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Comecemos pelo óbvio: os 100 dias são totalmente arbitrários. Não existe nada que não seja feito nos primeiros tempos de uma Presidência e que não possa ser executado mais para frente. Ainda assim, nos EUA desenvolveu-se a tradição de esse período ser usado para fazer as primeiras análises aprofundadas ao trabalho das Administrações. E a culpa é de Franklin Delano Roosevelt.

 

No fundo, estamos perante um problema de expectativas. Depois de ver Lionel Messi a jogar, mesmo que o jogador que o substiui seja muito bom, ficará sempre desiludido o desempenho. Infelizmente para todos os presidentes que se seguiram, FDR aprovou legislação nos seus primeiros 100 dias ao ritmo com que Messi marca golos.

 

O contexto aqui é decisivo. Os EUA estavam em plena Grande Depressão, com uma das suas mais graves crises económicas e sociais. "As pessoas literalmente não tinham dinheiro para pagar a conta do hotel de onde saíam para ir à tomada de posse" de FDR, conta à PBS Adam Cohen, autor de "Nothing to Fear", um livro precisamente sobre os primeiros 100 dias de Roosevelt na Casa Branca.

 

Estávamos em Março de 1933, no meio de um verdadeiro colapso financeiro, com a banca em fanicos, os mercados financeiros em queda livre e um desemprego acima de 20%. As pessoas queriam acção e, nessas circunstâncias, os políticos respondem.

 

FDR declarou o encerramento dos bancos por quatro dias, aprovou leis para salvar os agricultores americanos da insolvência e lançou grandes programas de infraestruturas públicas, com o objectivo de criar postos de trabalho. Ficaria conhecido como o New Deal. Nos primeiros 100 dias, assinou 76 leis. "Quando as pessoas olham para trás vêem que ele fez muito em 100 dias, mas nunca foi esse o plano. O plano era fazer muito", acrescenta Cohen.

 

Essa produtividade legislativa passou a ser a referência para todos os seus sucessores. Um termómetro da urgência com que o Presidente começa o mandato. É ou não agressivo? FDR é uma espécie de sombra dificilmente alcançável. Os que tentam comparar-se normalmente falham: Trump disse que nenhuma Administração tinha feito tanto como a sua em 90 dias, frase que o Politifact classificou como "falsa" (até Obama fez mais). Outros tentaram, desde o início baixar as expectativas. John F. Kennedy, por exemplo, fez questão de dizer logo na sua tomada de posse que tudo aquilo que pretende implementar "não será terminado nos primeiros 100 dias, nem nos primeiros 1.000 dias", avisou.

 

Embora os 100 dias sejam arbitrários, a realidade é que uma Administração pode ter mais capacidade para ser produtiva no arranque do seu mandato. Normalmente os presidentes são mais populares quando acabaram de sair de uma eleição que ganharam – Trump é uma excepção – e o Congresso pode estar mais inclinado a trabalhar com a Casa Branca.

 

É também muito mais fácil aprovar legislação se o país estiver em crise no momento em que se coloca os pés na Sala Oval, como mostra o exemplo de FDR, mas também de Barack Obama que, apesar de ter enfrentado sempre muita resistência do Congresso, conseguiu avançar legislação para responder à crise financeira no seu início de mandato.

 

"A maior parte dos presidentes não olharam para os 100 dias como uma referência significativa", nota ao Politifact H. W. Brands, historiador da Universidade de Texas. Estamos a falar, é preciso lembrar, de menos de 7% do mandato. "Em grande parte, é uma coisa para os media."

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