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José Sócrates: "É altura de acabarmos com isto, Zé Alberto!!"
A temperatura subiu quando o entrevistador, José Alberto Carvalho, apertou o ex-primeiro-ministro sobre o dinheiro que recebeu em notas do amigo. Sócrates mantém que é tudo mentira.
Ao longo do processo da Operação Marquês, o Ministério Público teve sempre um problema: como provar que José Sócrates fora corrompido em milhões de euros. Mas o ex-primeiro-ministro teve sempre um problema do outro lado do espelho: como explicar a origem e razão de ser daquele dinheiro recebido em notas, e com conversa telefónica em código com o amigo e empresário Carlos Santos Silva. Na entrevista hoje à TVI, a temperatura em estúdio subiu quando o entrevistador foi apertando Sócrates com esta questão: o dinheiro. O do amigo com quem tinha "um papel" para seguir a conta corrente de centenas de milhares de euros, o da mãe que era "rica".
"É altura de acabarmos com isto, Zé Alberto!", afirmou Sócrates notoriamente irritado. José Alberto Carvalho tinha acabado de começar a falar sobre a conta no BES de Carlos Santos Silva, mas vinha de descrever, um a um, um mês inteiro de levantamentos dessa conta: "no dia 2 de setembro: 3 mil euros; no dia 10 de setembro: 10 mil euros; no dia 10 de setembro outra vez: mais 5 mil euros; no dia 16 de setembro: 10 mil euros; no dia 17 mil euros: 5 mil euros; no dia 18 mil euros: 5 mil euros; nos dias 23 e 27: 10 mil euros".
O entrevistador citou depois os 127 levantamentos de quase um milhão de euros feitos por Carlos Santos Silva para entregar a Sócrates, segundo a acusação, sublinhou o facto de ser tudo feito em dinheiro e de haver escutas que mostram conversas em código (com o uso de palavras como "fotocópias", entre outras). O ex-primeiro-ministro afirmou que iria "rever as escutas" - o processo corre há sete anos - e alegou falta de memória sobre o tom das conversas. "Não tenho memória nenhuma que numa conversa com o Carlos eu lhe tenha falado em fotocópias para lhe falar de dinheiro", afirmou. "Não era o padrão da minha conversa com o engenheiro Carlos Santos Silva", juntou.
As dificuldades em produzir uma narrativa consistente foram notórias e foram irritando José Sócrates, que vinha do triunfo relativo conseguido na passada sexta-feira, quando o juiz Ivo Rosa destruiu a maior parte da acusação do Ministério Público - deixando-o, ainda assim, com uma ida a julgamento por pelo seis crimes e apontando, de forma surpreendente, que terá havido um crime de corrupção. A parte central da entrevista acabou por ser, contudo, aquela em que o entrevistador deu uma oportunidade ao ex-primeiro-ministro de dar uma explicação para todo aquele estranho circuito de notas - o teste não foi passado.
"Não foi vida de luxo, foi investimento em educação", afirmou a certa altura Sócrates sobre a sua vida em Paris, feita num apartamento de luxo no mais exclusivo bairro da capital francesa. Noutra parte, prometeu que levaria ao entrevistador "um almanaque de 1943 onde vem a reportagem do meu avô", e que notava como ele já era rico. Para provar que o dinheiro na conta do amigo não era dele, Sócrates fez o teste das escutas, das quais desta vez já se lembrava bem: foi por não ter reagido à falência do BES naquelas conversas gravadas, em 2014, que "provou" que o dinheiro na conta do BES do amigo Carlos Santos Silva não era dele. Entre estas explicações de geometria variável, o ex-primeiro-ministro foi recorrendo à vitimização.