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Rússia protesta contra plano de resgate de Chipre

Taxa poderá custar dois mil milhões de euros a depositantes russos que utilizarão fundamentalmente a ilha como plataforma de branqueamento de capitais. Porta-voz de Putin considera a proposta europeia “injusta e perigosa”. Medvedev fala, por seu turno, em “confisco de fundos estrangeiros”.

18 de Março de 2013 às 13:40
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O porta-voz do presidente russo Vladimir Putin contestou esta manhã com veemência os termos da proposta europeia de assistência financeira a Chipre, considerando que a ideia de cobrar uma taxa extraordinária de imposto sobre os depositantes da banca resgatada é “injusta, amadora e perigosa”.

 

O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, foi ainda mais contundente. "Temos de o dizer francamente: isto parece uma simples confiscação de fundos estrangeiros. Não sei quem teve esta ideia, mas é isso que parece”. O primeiro-ministro russo adiantou ainda, citado pela Lusa, que a decisão vai obrigar Moscovo a "retirar conclusões".

 

Anton Siluanov, o ministro russo das Finanças, também criticou a iniciativa, salientando que a proposta europeia tão pouco foi concertada com as autoridades russas. “A decisão de impor uma taxa sobre os depósitos é, em nossa opinião, injusta porque os problemas de supervisão e de regulação estão a ser transferidos para os investidores”. Questionado sobre se estava a defender

os depositantes russos, Anton Siluanov assegurou que “não tenho pena dos nossos empresários”.

 

Chipre, que aderiu ao euro em Janeiro de 2008, é suspeito de se ter convertido numa plataforma de branqueamento de capitais de mafias russas. As entradas e saídas anuais de capitais russos rondaram, anualmente, entre 2009 e 2011, os 120 mil milhões de euros – valor mais do que cinco vezes superior ao do PIB de Chipre (inferior a 20 mil milhões de euros), segundo dados do Global Financial Integrity. Esta organização não-governamental, presidida por Dev Kar, antigo economista sénior do Fundo Monetário Internacional (FMI), refere que muitas empresas russas instalaram-se em Chipre, beneficiando da baixa taxa de IRC de 10%, apenas para dar cobertura a circuitos financeiros que permitem "branquear" capitais gerados em negócios ilícitos. Neste momento, segundo alguma imprensa internacinal, os depósitos de russos ascenderão 40 mil milhões de euros.

 

O "Financial Times" cita hoje banqueiros de Nicosia, segundo os quais a taxa sobre depósitos, que acompanhará um resgate internacional por iniciativa do FMI, custará só aos depositantes russos dois mil milhões de euros – ou seja, quase metade da receita de 5,8 mil milhões de euros que se pretende que o Governo obtenha com esta medida, reduzindo o valor do empréstimo externo. À partida, os países da Zona Euro assegurarão 10 mil milhões de euros de assistência a Chipre. O FMi ainda não quantificou a sua parte, tendo mostrado disponibilidade para também contribuir para o resgate internacional.

 

A proposta inicial do Governo era a de lançar uma taxa extraordinária de 6,75% sobre depósitos até 100 mil euros e de 9,9% sobre os de valor superior. Perante a comoção da população e a ameaça de chumbo do Parlamento, o Presidente cipriota - que terá recusado a proposta da Europa de não taxar os pequenos depositantes por não querer uma taxa demasiado agravada sobre os maiores, segundo fontes diplomáticas citadas pela Reuters – sugere  agora distribuição do esforço diferente. Até 100 mil euros, os depositantes serão taxados em 3%; entre 100 mil e 500 euros "pagam" 10% e é introduzida uma fasquia acima de 500 mil euros, que sofre um impacto fiscal de 15%. O montante da receita fiscal que se pretende angariar é o mesmo da proposta inicial: 5,8 mil milhões de euros.

 

A votação no Parlamento cipriota desta medida – parte fundamental do pacote de resgate pré-acordado pela Zona Euro – foi adiada para amanhã, terça-feira. O Presidente cipriota Nicos Anastasiades controla 28 dos 56 assentos parlamentares.

 

Em 2011, Chipre recebeu um empréstimo bilateral da Rússia de 2,5 mil milhões de euros. Nesta quarta-feira, o ministro cipriota das Finanças deslocar-se-á a Moscovo para tentar renegociar os seus termos (amortização até 2022) e eventualmente pedir um segundo empréstimo.

 

(notícia actualizada às 14h00)

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