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O que já sabemos sobre o ataque à central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia?
As notícias vindas de fontes oficiais ucranianas deram conta de um ataque sem precedentes a uma central nuclear do país - a maior da Europa - deixando o mundo em suspenso. Mas o incêndio que deflagrou na central de Zaporizhzhia foi controlado e parece menos provável que se repita um cenário como o desastre da central de Chernobyl, em 1986.
O que é que aconteceu?
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, deu conta no Twitter, esta sexta-feira de um incêndio numa central nuclear no sudeste do país após um ataque russo, feito durante a noite.
A primeira unidade de produção da central foi atingida, de acordo com o líder da área nuclear da Ucrânia, Petro Kotin. Esta central está a cerca de 500 quilómetros de Chernobyl, com uma capacidade total de 5,7 gigawatts, o suficiente para fornecer energia a quatro milhões de lares. E, inicialmente, o ministro dos Negócios Estrangeiros frisou que, em caso de uma explosão, poderia ser dez vezes maior que Chernobyl.
Os serviços de emergência indicaram mais tarde que o incêndio foi controlado e que não havia mortes. Também não foi libertada radiação e a segurança dos reatores não foi comprometida, avançou Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, o regulador da energia nuclear. No entanto, as forças militares russas ocuparam a central de Zaporizhzhia.
Qual foi a resposta?
A segunda e terceiras unidades da central foram postas em modo de arrefecimento e a quarta continuou em operação, já que é a mais distante da zona atingida. E os reatores foram protegidos por estruturas robustas de contenção, indicou Jennifer Granholm, a responsável norte-americana da área da energia.
Nos dias anteriores à explosão, a agência internacional já tinha considerado uma zona de exclusão de 30 quilómetros à volta de todos os reatores nucleares da Ucrânia.
O líder da Agência Internacional de Energia Atómica afirmou estar gravemente preocupado com a situação no país e até se ofereceu para reunir com representantes russos e ucranianos no sentido de reduzir o risco.
Existem semelhanças com Chernobyl?
Ao contrário de Chernobyl, os seis reatores desta central são pressurizados com água, construídos no início dos anos 80. Têm estruturas de contenção à volta do reator para prevenir qualquer libertação de radiação.
Chernobyl não tinha nada destas estruturas, comenta Dale Klein, antigo chairman da Comissão Regulatória nuclear dos EUA e professor da Universidade de Austin, no Texas.
Os reatores desta central estão protegidos com metal denso e escudos de cimento. Além disso, as centrais estão equipadas com sistemas de emergência para parar os reatores caso sejam sentidas vibrações de um ataque.
Quais são os riscos?
No cenário em que as forças russas consigam retirar a energia num dos 15 reatores nucleares da Ucrânia e destruir os geradores de reserva, o operador da central poderá ter dificuldade em manter as barras de combustível arrefecidas. "A minha preocupação é que atinjam os armazéns de combustível para os geradores a diesel, o que poderia eliminar uma das forças que asseguram estes sistemas", diz Klein.
O que justificam estes receios?
Nunca ouve um ataque militar a uma central nuclear em funcionamento, de acordo com os analistas consultados pela Bloomberg. As centrais nucleares têm material radioativo incrivelmente perigoso - mesmo após dez anos de arrefecimento, o combustível utilizado pode libertar até 20 vezes a dose fatal de radiação no espaço de uma hora.
Em 1986, em Chernobyl, na Ucrânia, 350 mil pessoas foram retiradas da zona e dezenas de trabalhadores morreram devido a envenenamento por radiação nas semanas seguintes. É o único acidente da história da energia nuclear comercial que registou vítimas mortais por exposição direta a radiação.
Mais de 30 anos após o desastre nuclear, ainda há registo de níveis muito elevados de radiação em produtos como leite produzido localmente ou cogumelos.