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FMI: Zona Euro foi mais afectada durante a crise por causa da arquitectura incompleta

As lacunas da arquitectura da Zona Euro levaram a um maior impacto nos países da moeda única. A conclusão é do Fundo Monetário Internacional num relatório sobre a recuperação económica dos últimos dez anos.

03 de Outubro de 2018 às 15:00
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Não restam dúvidas de que as raízes da crise financeira de 2008 estavam na bolha imobiliária dos Estados Unidos. Mas o seu impacto foi sentido em todo o mundo: "Desde o fecho de fábricas no México à reestruturação de poupanças e ao desemprego de longa duração para os trabalhadores migrantes da região metropolitana do Delta do Rio das Pérolas na China", exemplifica o Fundo Monetário Internacional (FMI), no capítulo analítico do World Economic Outlook divulgado esta quarta-feira, dia 2 de Outubro.

Mas a conclusão do FMI é que as réplicas desse sismo financeiro foram mais sentidas na Zona Euro. Porquê? Principalmente devido à arquitectura incompleta. Este é um dos assuntos do momento na União Europeia, seja no Eurogrupo seja no Conselho Europeu, com os países a discutir a partilha do risco na União Económica e Monetária (UEM) através de várias medidas que continuam apenas no papel. 

"A mediana da perda de crescimento [económico] nas economias da Zona Euro foi particularmente mais alta do que noutras economias avançadas entre 2011 e 2013", destaca o Fundo no capítulo em que a analisa a recuperação económica dez anos após a recessão. A outra má notícia é que essa diferença agravou-se ainda mais nos anos seguintes por causa da "recuperação [económica] mais fraca comparada com outras economias avançadas" (ver gráfico). 
"A divergência pode, em parte, reflectir a margem de manobra limitada ao nível de políticas disponíveis dentro de uma união monetária para ajustar os choques assimétricos, as diferenças na velocidade de reparação do sistema financeiro e - apesar do progresso substancial em direcção a uma união bancária e à criação do Mecanismo Europeu de Estabilidade para a gestão de crises - a manutenção de lacunas na arquitectura da Zona Euro", explica a instituição liderada por Christine Lagarde.

Alguns países da Zona Euro afectados pela crise das dívidas soberanas, nomeadamente Portugal, não tinham condições para usar uma política orçamental expansionista para contrariar o ciclo económico. "Em vez disso, esses países precisavam de reduzir os défices orçamentais para reconquistar a confiança dos credores e conter os custos com os empréstimos da dívida", recorda o FMI, admitindo depois que "o efeito contraccionista deste aperto orçamental foi maior do que o antecipado naquela altura".

Países crescem lentamente, têm menos instrumentos e mais dívida
O retrato do cenário macroeconómico de 180 países analisados pelo FMI mostra um cenário futuro de dificuldade: a maior parte está a crescer abaixo do potencial pré-crise, os instrumentos disponíveis para combater uma futura crise são poucos e um novo impacto pode ser exacerbado dado que o nível de dívida pública subiu.

Tal como Christine Lagarde revelou no início da semana, a dívida pública e privada de todo o mundo atingiu máximos históricos, aumentando 60% face a 2007. No documento divulgado hoje, o FMI refere que o rácio da dívida pública no PIB mundial passou de 36% antes da crise para 52%. "A grande acumulação de dívida pública e a erosão das folgas orçamentais em muitas economias a seguir à crise sinalizam a urgência de reconstruir essas defesas em preparação de uma nova crise", avisa o Fundo.

Isso é ainda mais importante por causa do potencial esgotamento de instrumentos como a política monetária. "Algumas das ferramentas de gestão da crise de 2008 e 2009 já não estão à disposição", assinala o FMI. Exemplo disso é que, dez anos depois, os balanços dos bancos são muito maiores e demorará anos até à dita normalização dos juros.

Por fim, a recuperação económica tem sido mais lenta. A dificuldade em lidar com a crise deixou à deriva legados que travam a recuperação económica. É o caso do investimento - constrangido pela dificuldade de acesso ao crédito - que está 25% abaixo da tendência anterior à crise, segundo as contas do FMI, o que teve impacto nos ganhos de produtividade. A despesa com tecnologia e investigação tem aumentado, mas mais lentamente.

"Estas evidências assemelham-se às de investigações recentes que mostram que o crescimento [económico] tende a manter-se abaixo da tendência anterior depois de crises e recessões", conclui o Fundo, admitindo que, no entanto, para se perceber o efeito "duradouro" dos legados da crise financeira, é preciso aguardar pela passagem do tempo.
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