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Acordo do Brexit não reduz a ameaça que paira sobre "City" de Londres

As autoridades da União Europeia têm ainda de decidir separadamente se os regulamentos financeiros britânicos e de supervisão são sólidos o suficiente para criarem condições de igualdade de concorrência.

EPA
03 de Janeiro de 2021 às 17:00
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O acordo comercial que ambos os lados do Canal da Mancha dizem refletir uma nova era de cooperação é essencialmente um capítulo à parte para a "City" londrina, já que o centro financeiro ainda aguarda o seu próprio selo de aprovação da União Europeia.

As autoridades da União Europeia têm ainda de decidir separadamente se os regulamentos financeiros britânicos e de supervisão são sólidos o suficiente para criarem condições de igualdade de concorrência. Sem isso, a perda constante de negócios - já em andamento em algumas áreas - pode tornar-se uma realidade diária para o setor financeiro britânico.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, já disse, em entrevista ao Sunday Telegraph, que, quando se trata de serviços financeiros, o tratado "talvez não vá tão longe quanto gostaríamos". O ministro das Finanças britânico, Rishi Sunak, disse ainda que as conversas com Bruxelas sobre o acesso a serviços financeiros vão continuar.

Embora tenham existido avanços para evitar que o Brexit derrubasse os mercados financeiros no curto prazo, há escasso consenso sobre a natureza final da relação do setor financeiro do Reino Unido com a UE.

"A parte perigosa é que estamos a ver pessoas a transferir ativos e a mover carteiras de negociação para outros locais", alertou Howard Davies, presidente da NatWest, em entrevista à concedida em dezembro à Bloomberg Television. "O risco é que, enquanto isso acontecer, os funcionários vão acompanhando o movimento."

A esperança entre banqueiros, reguladores e políticos britânicos é que o acordo comercial ajude a desbloquear um acordo separado para o setor financeiro. O setor é um pilar fundamental da economia do Reino Unido, que emprega mais de 1 milhão de pessoas e que responde por mais de um décimo de todas as receitas fiscais.

"Embora um acordo seja bem-vindo, os serviços financeiros e profissionais relacionados estão cientes da necessidade de ambos os lados continuarem a desenvolver o relacionamento no setor dos serviços", disse Miles Celic, diretor-presidente da TheCityUK, que representa o centro financeiro do Reino Unido.

Da mesma forma, há banqueiros europeus ansiosos por clareza. A Associação de Mercados Financeiros da Europa (AFME, na sigla em inglês), um dos maiores grupos de "lobby" do setor na região, pediu um acordo sobre as decisões de "equivalência", que facilitariam o acesso ao mercado financeiro internacional.

"Esperamos que isso estabeleça a base para uma maior cooperação em serviços financeiros", disse Adam Farkas, CEO da AFME. "É importante que a UE e o Reino Unido ponham agora em prática decisões de equivalência pendentes para mitigar a disrupção no final do período de transição e garantir uma adaptação tranquila ao novo relacionamento."

Ainda assim, mesmo os investidores mais otimistas admitem que o status quo, com Londres como o centro financeiro de um continente inteiro, provavelmente não irá manter-se.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que "tudo vai mudar" no relacionamento entre a "City" de Londres e a UE.

E num sinal do que está para vir, o presidente do banco central da França, François Villeroy de Galhau, alertou, em outubro, os bancos europeus para que se preparassem para uma mudança de longo prazo na utilização das câmaras de compensação de Londres, que apoiam os mercados de derivados no valor de biliões de dólares.

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