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Mães alemãs já não conseguem trabalhar a tempo inteiro

Para muitas mães na Alemanha, trabalhar a tempo inteiro é uma coisa do passado.  

Ricardo Castelo
20 de Fevereiro de 2017 às 22:44
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Esta é a conclusão de um estudo que abrange o período da história recente do país e revela a diferença de política familiar entre o leste comunista e a Alemanha Ocidental.

 

No primeiro, caiu a tradição de mães que trabalhavam a tempo inteiro para se adequar às práticas dominantes no Ocidente. E agora, em todos os lugares, as mulheres ficam cada vez mais em empregos de tempo parcial após o nascimento de um filho, e não como um primeiro passo antes de passar a empregos a tempo inteiro, de acordo com um artigo recente da publicação académica "Feminist Economics", assinado por Nadiya Kelle, Julia Simonson e Laura Romeu Gordo.

 

A reunificação do país, em 1990, deu início a um período de convergência em que a antiga Alemanha Oriental adoptou indiscriminadamente as políticas do Ocidente — inclusive em relação a impostos, transferências e famílias. Novos incentivos foram introduzidos para que as mulheres da Alemanha Oriental pudessem sair do mercado de trabalho mais facilmente depois do nascimento de um filho e foram implementadas reformas que concederam benefícios a famílias em que um dos pais trabalhava apenas uma quantidade limitada de horas por semana.

 

Para as mulheres da Alemanha Ocidental, a flexibilidade dos trabalhos "part time" foi o que permitiu a muitas delas trabalhar. Mas na Alemanha Oriental, essa mudança ocorre após uma cultura de forte envolvimento feminino na força de trabalho, algo considerado crucial pelo antigo governo socialista para a emancipação das mulheres. O problema de passar muito tempo em cargos de "part time", explicam as autoras, é que esses empregos costumam estar concentrados em sectores de baixa remuneração que mal oferecem contribuições para a Segurança Social, crescimento salarial ou perspectivas de progressão na carreira.

 

E, embora estejam mais disponíveis para mães que trabalham, as creches não costumam ser suficientes para cobrir um dia de trabalho completo. Muitos jardins de infância e escolas fecham ao início da tarde.

"O modelo de um e meio está a ficar cada vez mais forte", disse Romeu Gordo, em entrevista por telefone. Equilibrar a divisão das horas de trabalho dentro da família "seria bom para mulheres e homens — seria bom para a economia".

 

Depois da Holanda, a Alemanha tem a mais baixa proporção de famílias em que ambos os pais trabalham a tempo inteiro na Europa. Cerca de 80% dos empregos a tempo parcial na Alemanha são ocupados por mulheres, segundo a Agência Federal do Trabalho.

 

Um dos motivos talvez seja as normas culturais — uma área em que o leste e o oeste do país continuam muito diferentes. As autoras citam um estudo que mostra que, em 2000, cerca de 55% da população no oeste achava que a mãe de uma criança pequena não deveria estar empregada, em contraste com 36% no leste.

 

Romeu Gordo disse que oferecer incentivos semelhantes aos da Suécia, onde ambos os pais são estimulados a reduzir proporcionalmente a quantidade de horas que trabalham, pode mudar concepções e acabar também por ajudar as empresas a atrair profissionais — "especialmente na Alemanha, onde o mercado de trabalho está a prosperar e as companhias precisam de disputar os trabalhadores bons".

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